sábado, 29 de setembro de 2012

Agostinho Neto, uma vida sem tréguas

 

02.11.2005
Biografia de Agostinho Neto
O branqueamento em marcha!
Foi na passada semana, lançado em Lisboa, segundo autores e promotores, a primeira extensa e participada biografia de Agostinho Neto.
Lendo o manifesto lá se estampa o branqueamento, das responsabilidades do biografado, na repressão pós 27 de Maio de 1977.
Dos que a este tema se referiram, coube à viuva de Neto, dar-lhe ênfase, acometendo altivamente aos que alude como fraccionistas de serem “… os únicos responsáveis por todos os que morreram no golpe de 27 de Maio de 1977”. Aditou-lhe porem tese inovadora, – “Inclusive, são responsáveis pela morte de Agostinho Neto. Não o mataram durante o golpe, mataram-no de outra maneira” – e escamoteando todo o passado de repressão que já se vinha praticando, conclui: “Eles não são agredidos, são os agressores”.

Identificado o autor do hipotético acto, – “O objectivo do Monstro Imortal era matar o Presidente” – não deixa a entrevistada, de advertir para existência de uma quinta-coluna, ainda hoje operante, que no passado foi a responsável pela crueldade que sobreveio ao 27 de Maio, – “Ao mesmo tempo, surgiu uma quinta coluna que começou a matar a torto e a direito os jovens que foram presos na contenção do golpe” – como se não fosse aliás essa “quinta-coluna”, ou como lhe queiram chamar, a principal instigadora da situação de tumulto, que hábilmente soube diabolizar as mortes que levariam Neto – “na sua profunda dor, sublinhava amargamente: eles mataram, eles mataram!” - a converter as suas primeiras palavras de moderação no derradeiro ditâme “não haverá perdão”.
“O presidente Neto não foi inquiridor, não mandou ninguém para a cadeia, não assinou a morte de ninguém”, afirma Eugénia Neto. Repassem-se os olhos pelas memórias de Iko Carreira, ao divulgar o pensamento estratégico de Neto e observe-se como este seu braço armado, se descarta:
“Foi organizado em Luanda um tribunal revolucionário “ad-hoc”. Feitos os interrogatórios, a lista dos culpados foi levada ao Presidente Neto, para homologação. Ele assinou e nós executámos.”
Será alguma vez exequível escrever a história de Angola, sem abrir mão de tabus e do privilégio de únicos detentores do conhecimento dos factos? Prime-se na verdade, seja-se justo, não se ocultem conclusões nas entrelinhas e chamem-se os bois pelos nomes.
Quem foram os matadores no 27 de Maio?
Quem afinal dá corpo à citada quinta-coluna?
José Reis
Outubro 2005

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