terça-feira, 4 de setembro de 2012

Almeida Santos condena política da Frelimo

No capítulo da Justiça
 ===========================================================================
Almeida Santos, jurista e político português, que após a revolução de Abril de 1974 desempenhou importante papel no processo de descolonização, criticou a política seguida pelo governo da Frelimo no sector da justiça. 

Num livro lançado recentemente em Portugal sob o título, Quase Memórias, Almeida Santos escreve que “após a declaração de independência (de Moçambique), a Frelimo viria a cometer o erro imprevisível de desmantelar a máquina judicial e forense da era colonial.” O autor refere que para o regime da Frelimo, essa máquina era considerada como o símbolo da “degradação burguesa,” acrescentando que o sistema que se tentou implantar no Moçambique independente não previa “nem juízes de carreira, nem advogados de profissão.” 

A justiça, salienta Almeida Santos, “passaria a ser uma simples especialização do ‘poder popular’.” Para se ter uma ideia do que resultou dessas tais políticas erradas na Justiça e se perceber melhor a génese da guerra civil que viria a eclodir em Moçambique apesar de haver quem insista em fazer crer ter-se tratado apenas de uma consequência apenas da chamada «Guerra Fria», recordar aqui que em nome da chamada «Justiça Popular» cometeram-se os mais graves atropelos aos direitos dos cidadãos. 

No âmbito de processos extrajudiciais, executaram-se sumariamente oponentes do regime estabelecido, condenaram-se à morte lenta milhares de pessoas atiradas à sua sorte para campos de reeducação, e restabeleceu-se o sistema de castigos corporais em que a palmatória empunhada pelo sipaio colonial deu lugar ao chicote selvaticamente manuseado pelo chefe de quarteirão ou secretário de grupo dinamizador ou de comité de bairro, todos eles a soldo do partido Frelimo que se auto proclamava então como «força dirigente da sociedade e do Estado», até em Constituição aprovada sem consulta aos demais moçambicanos que não subscreviam tal caminho para o País, defendendo antes outros que acabaram por se comprovar mais adequados e esses sim capazes de assegurar Paz, pelo menos até que alguém pense em retroceder.

Os paladinos da dita justiça popular viriam, mais tarde, a tornar-se, eles próprios, importantes empresários do foro jurídico nacional. Numa política de tráfico de influências, eles enriqueceram facilmente mediante a canalização, para o amuralhado maçónico que constituíram à sombra do poder político que continuam a servir e se esforçam por manter intacto, de projectos económicos de vulto que entidades estrangeiras lançam em Moçambique através do executivo presidido pela Frelimo. 

(J.M.C.) - CANAL DE MOÇAMBIQUE - 27.12.2006