domingo, 2 de setembro de 2012

Compulsando sobre a génese da RENAMO

Ouvir com webReader SR. DIRECTOR!
Agradeço, antecipadamente, por ter autorizado a publicação deste artigo no espaço reservado aos leitores. A história é mais do que a verdade é mais que o registo dos crimes, loucuras e misérias da humanidade”, Edward Gibson (historiador britânico).
Maputo, Sábado, 14 de Julho de 2007:: Notícias
Este artigo faz parte de tantos outros que escrevo neste prestigiado jornal no caso presente orientado para jovens que tenham nascido acima de 1980 e que estejam a “engolir” a história que tem sido mal contada pela oposição, sobretudo pela própria Renamo, segundo a qual ela (Renamo) se assume como tendo surgido para combater aldeias comunais, guias de marcha, cartão de residência, etc.
Dizer que não é verdade o que esses senhores dizem à luz do dia, enganando adolescentes e alguns adultos que não se estejam recordando dos assuntos que marcaram esta “Pátria Amada”. É preciso que saiba de uma vez para sempre que esta justificação não tem fundamento, devendo ela (Renamo) arranjar outros motivos da sua existência que até se conhecem que era desestabilizar a independência nacional. Ainda bem que o Dr. Máximo Dias reconhece que o surgimento de várias organizações na época era para desorganizar a credibilidade da Frelimo, porque muitas delas de viva voz defendiam que a independência não fosse dada a este partido. Que absurdo! Este senhor deu-se ao luxo de ceder seu gabinete de trabalho na Beira para alojar a reunião da criação da Renamo. Ainda bem que confirma que Joana Simeão colaborava com a PIDE (vide jornal Notícias de 09/07/07), essa mesma senhora que alguns colunistas e jornalistas que não gostam de ler assumem-na como a sua grande heroína.
Daquilo que se sabe e que eles mesmos sabem, é que este movimento no mínimo existe desde 4 de Janeiro de 1977 (dia que começaram a atacar). Na óptica dos já assumidos como fundadores deste movimento subversivo surge em 1976, isto é, meses depois da proclamação da independência nacional, onde o governo de Iam Smith (ex-Rodésia do Sul) se notabilizou através do britânico Ken Flower no financiamento e fornecimento de material bélico a par do teimoso e abastado Jorge Jardim, Orlando Cristina, Evo Fernandes (portugueses e fascistas de primeira), restando saber com que lado se identificava na altura se de um tuga ou moçambicano disfarçado. Refiro-me concretamente ao senhor Máximo Dias.
Sendo assim e tendo em conta que no período de 1975-1979 era de implantação das estruturas a nível nacional, dentre outras realizações importantíssimas, foi neste mesmo período que surge a Renamo, cuja parte dos seus comandantes dentre eles Afonso Dhlakama, acabada de sair da tropa colonial. Este senhor foi militar da tropa portuguesa entre 1971-1973, tendo ingressado nas FPLM em 1974 nas vésperas da independência. Como regra geral, tomando em conta a idade, o tal orgulho que tem exibido que foi da Frelimo é nesse sentido e mais nada, aliás, se se soubesse que este senhor tinha um bicho na cabeça, acho que teria sido melhor ir à disponibilidade, pois se tratou de alguém que se infiltrou nas FPLM depois de ter sido preparado pela PIDE.
Os decretos da criação das aldeias comunais, guias de marcha, cartão de residência (este tipo de documentos até hoje é muito usual mesmo em países mais desenvolvidos, sobretudo europeus), surgem a partir de 1980. Outros surgidos nos anos subsequentes referem-se às: aldeias comunais (a partir de 1982); guias de marcha (1983); e aos cartões de residência (1984), havendo alguém que duvide deste fundamento que consulte os referidos decretos em instituições que o seu serviço é de publicar e arquivar, aí verá a lógica do que vem plasmado neste artigo.
Pelo que não tem sentido que a Renamo que existia muito antes desses decretos, justifique a sua base de existência evocando para combater esses supostos males! Os referidos decretos tinham sido criados para vários fins e justificáveis: aldeias comunais- início de um desenvolvimento urbanístico, pois só assim é que seria possível consumir água canalizada, fácil acesso a hospitais (não haveria o actual “choro” por se percorrer quilómetros e quilómetros para um parto condigno num centro de Saúde) dentre várias vantagens. O único entrave foi a Renamo, pois os aglomerados populacionais tornavam-se presa fácil em ataques que aquele movimento protagonizava. No que toca às guias de marcha - era preciso saber quem sai de uma comunidade para a outra e era familiar de quem? Talvez este aspecto tenha ofendido mais a Renamo, pois isso os confinava às suas bases. A título de exemplo: em 1987 no Gurué (Zambézia) os então bandidos armados disfarçados de camponeses (colectores de chá) na entrada da unidade de produção nº6 (UP6) assassinaram um miliciano de nome Cavalo, pois quando desconfiou da apresentação dos mesmos num controlo, disparou para o ar como advertência para que a população pudesse fugir para as seguras florestas de chazeiro. O subscritor deste artigo foi um dos beneficiários da fuga, sabido que eles (os guerrilheiros) se encontravam a 500 metros das residências, com armas escondidas nas capas de chuva que normalmente eram usadas para o trabalho de campo, tendo sido graças àquele acto do miliciano que os militares que se encontravam a dois quilómetros, prepararam-se e conseguiram impedir a progressão do inimigo ao centro da sede do distrital, onde queria saquear víveres.
No que toca ao cartão de residência, o mesmo tinha a função similar a do BI, porque se tratava de um Estado novo, era preciso “improvisar” alguns documentos enquanto tudo ia sendo feito para que fossem emitidos os BI’s e passaportes verdadeiramente moçambicanos, o que veio mais tarde a acontecer.
Acredito que um dia alguém como o senhor Dhlakama venha a contar ao público o surgimento do movimento. O outro amigo do Jorge Jardim (Máximo Dias) já começou a contar a verdade, dando razão à Frelimo aquilo que sempre disse, incluindo a ligação PIDE-Joana Simeão.
Agora, as “armas” estão viradas para o combate à pobreza absoluta.
Damásio Chipande