domingo, 30 de setembro de 2012

General Gruveta confessa e duvida Chipande:(2)

 

A opinião do historiador Michel Cahen:
"Os vários primeiros tiros"
Obrigadíssimo, Fernando. Mas esta troca de mensagens no Macua blog não traz coisas novas. Devem distinguir-se duas coisas:
1. O “primeiro primeiro tiro”, que não foi nem da Frelimo nem da Manu, mas da ELIPAMO, isto é o pequeno braço armado da FUNIPAMO, uma das versões sucessivas da Udenamo. Isto foi nos princípios de Julho de 1964, na Zambézia (para ter a data exata e o lugar exato, tenho que ir ver nos meus papeis!). O grupo era dirigido por um tal “comandante Zodiaco”, e deixou panfletos no lugar. Depois, o “segundo primeiro tiro”, no mês de Agosto de 1964, foi a desastrosa operação da Manu-Quenia, que queria a toda a força começar a luta armada antes da Frelimo para convencer a União Soviética (que, na altura, hesitava muito entre os grupos moçambicanos) de fornecer armas. O objectivo era matar um comerciante português odiado, só que erraram e mataram o padre Daniels, muito amado pelos Macondes.
2. O “primeiro tiro oficial”, isto é da Frelimo. Houve... três primeiros tiros.
Cronologicamente, os tiros no Niassa e na Zambézia foram os primeiros, na noite de 24 para 25, já no 25 de Setembro. O primeiro tiro que ficou na história, isto é, o primeiro tiro que alegadamente é do Chipande, foi na noite de 25 para 26 de Setembro, já no dia 26. Isto é, foi o “terceiro primeiro” tiro. Disto tenho prova, porque os telegramas da PIDE (que consultei nos Arquivos da Torre do Tombo em Lisboa) relatam os três casos com horário exato. Outra questão é de saber se o Chipande ele próprio estava no grupo que atacou o posto de Chai, facto sobre o qual tenho as maiores dúvidas (foi um destacamento do grupo dele que atacou, mas não me parece nada certo que o próprio Chipande estava presente no ataque). O próprio Eduardo Mondlane escreveu que houve várias acções e que, como era melhor, com fins de popularização internacional, escolher uma acção e uma data, escolheram o ataque ao posto de Chai pelo qual tinham mais detalhes, comunicados mais rapidamente que os grupos autores dos dois outros “primeiros tiros”. Mesmo assim, a “estoria” diz que o chefe de posto de Chai foi morto, o que parece difícil, visto que ele viveu tranquilamente anos depois, reformado, vivendo na linha do Estoril a oeste de Lisboa.
No entanto, se a verdade sobre os acontecimentos históricos é sempre uma coisa importante, não se deve esconder que só a Frelimo é que foi capaz desenvolver a luta armada. As acções da ELIPAMO e da MANU não tiveram quaisquer consequências ulteriores, foram “golpinhos” de grupelhos que queriam atrair o apoio internacional, sem trabalho político a sério na população. Não foi a Frelimo que atirou o primeiro tiro, nem foi Chipande que atirou o primeiro tiro da Frelimo, mas bem foi a Frelimo que conseguiu concretamente começar a luta de libertação nacional.
Pelo menos, isto é o meu ponto de visto de historiador.
Melhores cumprimentos,
Michel Cahen
NOTA: Grato pelas explicações. Não se esqueça que tem aqui todo o espaço ao seu dispor
Fernando Gil begin_of_the_skype_highlighting end_of_the_skype_highlighting
MACUA DE MOÇAMBIQUE
Veja:
http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2010/09/general-gruveta-confessa-e-duvida-chipande.html#more

1 comentário:

Anónimo disse...

Merci pour cet astuce, Cet article est simplement génial, spécialement pour les débutants.
Malheureusement, je n'ai pas le temps de lire tes autres articles!

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