segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Moçambique: Militares denunciam tribalismo dentro das FADM


2012-09-17 11:54:51
Maputo – Um grupo de militares afecto no quartel-general das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) denunciou, na passada semana, a prática de tribalismo no processo de atribuição de bolsas de estudo para o exterior, cursos de promoção a general e nomeação para adido militar.
Fontes anónimas que falaram à PNN disseram que o processo de seleção obedece a critérios estranhos, violando o regulamento militar que defende concursos no processo de promoção e não com base no regionalismo, favoritismo e tribalismo, tal como tem acontecido.

«Temos vários exemplos a mencionar, começando pelo caso da nomeação do ex-director nacional da política económica do Ministério da Defesa, que é natural da zona Centro e tinha sido indicado para adido militar na Rússia, em finais de 2010. Na mesma semana viu a sua nomeação alterada e o seu lugar indicado a outro oficial da zona Sul do país», referiu uma fonte militar.

Dentro das FADM, o chefe do Estado Maior General, Paulino Macaringue, interfere na actuação do departamento responsável pela nomeação, atribuição de patentes, formação e promoção dos oficiais.

As fontes contam ainda que o processo de desmobilização diferentemente de passagem à reserva, não obedece aos trâmites legais.

«Baseia-se no tribalismo e favoritismo, como foi a passagem forçada à reserva por parte do antigo comandante da Marinha, natural de Tete, que foi substituído por um comandante da Infantaria, natural da zona Sul».

Os militares dizem ainda que, para ser excluído nas FADM, não é preciso violar o regulamento, basta ser do Norte e Centro de Moçambique.

As acusações nas FADM surgem numa altura em que dirigentes a vários níveis, incluindo o Presidente da República, Armando Guebuza, têm destacado a necessidade de consolidação da unidade nacional e construção da auto-estima e moçambicanidade.

O ministro da Defesa Nacional, Filipe Nyusi, reagiu às acusações. Questionado pela PNN, esta sexta-feira, 14 de Setembro, sobre a prática do tribalismo dentro das FADM, Filipe Nyusi disse que as nomeações no sector da Defesa e Segurança estão concebidas pela Lei.

«Os militares que estão aqui, quando terminam os treinos nas academias, estudam e concorrem para serem promovidos. Das academias saem com a patente de Alferes e, passado algum tempo, vão a formação e ficam Tenentes, tudo depende do tempo estipulado pela Lei e não do Chefe do Estado-Maior nem do Ministro.

Assim, não há espaço para especulação. Se for cinco, o número de pessoas que está a concorrer para um cargo, e se todos são do Sul, são aprovados os melhores dos que concorrem. O importante é concorrer. Não há espaço para manobras. A nomeação e promoção dentro das Forças de Defesa Nacional são feitas com regras», referiu Filipe Nyusi.

O Ministro da Defesa Nacional disse ainda que as FADM têm três ramos, nomeadamente a força aérea, a marinha e o exército, comandados por majores generais, «e se existem outros majores generais, devem esperar, porque tudo funciona dentro das normas estabelecidas legalmente. Hoje, não há motivos dentro das FADM para se levantarem problemas de tribalismo. Devemo-nos concentrar e preocupar-nos com problemas do país e da unidade nacional. Não vamos correr o risco de nomear um médico de saúde militar, um carpinteiro só porque temos que pôr um quadro de uma certa província para criar equilíbrio, isso não vai funcionar. Portanto, um médico é nomeado para dirigir um hospital e não um carpinteiro», concluiu Nyusi.
(c) PNN Portuguese News Network