quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Os últimos dias de Jonas Savimbi na versão de quem o acompanhou

Por Armando Rafael 28 setembro 2006http://www.dn.pt/Common/Images/img_dn/icn_comentario.gif

Relato dos últimos dias de vida de Jonas Savimbi, denúncia de uma traição ou mero ajuste de contas? Qual destas características se adequa melhor para descrever o livro - Memórias de um Guerilheiro - que o actual líder parlamentar da UNITA, Alcides Sakala, lança hoje à tarde na Fundação Mário Soares, em Lisboa?
São três anos e meio de memórias, que se iniciam em Dezembro de 1998 e que terminam em Março de 2002, quando representantes do Governo de Angola e da UNITA decidiram pôr termo a quase três décadas de guerra no país, dias depois da morte de Jonas Savimbi.
"Fizemos da morte em combate do Presidente Savimbi uma oportunidade para a paz", escreve Alcides Sakala, que fez parte da coluna que acompanhou o líder da UNITA nesta espécie de recriação da "longa marcha" que a guerrilha percorreu após a Independência, em 1975. Só que desta vez, havia uma diferença substancial: em vez da Jamba, esperava-os uma decisão. Que fazer?
"A UNITA poderia ter continuado a luta da resistência, talvez (...) na província do Moxico ou em circunstância mais difíceis (...) nas províncias de Kuanza-Sul e de Benguela. Contudo, resistiríamos por mais quanto tempo, com a carga de sanções a pesarem nossas costas, num mundo em mudança?"
Perseguidos, com fome e, sobretudo, já exaustos, como se depreende pelo relato, minucioso, que o então responsável pelas relações internacionais da UNITA foi fazendo ao longo desses três anos e meio, que mais poderiam fazer os seus responsáveis do que aceitar o acordo que Luanda lhes propôs?
Especialmente quando a UNITA (leia-se o general Altino Sapalalo Bock) cometera o erro de atacar o Kuíto em 1998, sofrendo ali uma derrota que Savimbi tinha antecipado e que os deixou sem retaguarda perante a contra-ofensiva das Forças Armadas Angolanas.
Será que isto explica as traições e as conspirações a que alude Alcides Sakala nas suas Memórias de um Guerrilheiro, e que, em sua opinião, explicam a morte de Jonas Savimbi?
Curiosamente esta é a parte em que o "diplomata" Alcides Sakala mais se resguarda, realçando que não presenciou a morte de Savimbi e que tudo o que sabe lhe foi revelado por terceiros. Subtileza que não o impede, no entanto, de aludir a outros episódios, eventualmente só perceptíveis por quem está a par da história da UNITA.
Senão como explicar, por exemplo, esta passagem: "não tivesse sido a traição de alguns dos seus homens de confiança, que forjou e formou desde a fundação da UNITA (...) [e] Jonas Savimbi nunca teria sido morto pelos soldados das FAA".
Será que foi?
Ou, então, como explicar, que a direcção política da UNITA tenha sido surpreendida dias depois, como Alcides Sakala deixa perceber, pelos acordos que os militares da organização estavam prestes a firmar?
Detalhes de uma história que se vai fazendo. Com livros destes.