sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Por favor, pensem nisto!

ditorial



Reconhecemos que o partido Frelimo é “todo-poderoso”; É o único partido que governa o País (não temos governo de coligação); Tem a maioria qualificada na Assembleia da República, pelo que pode aprovar ou chumbar qualquer lei, independentemente do posicionamento da oposição; Goza de poderio financeiro, talvez mais do que o próprio Estado!
Não vamos aqui discutir como a Frelimo atingiu essa “grandeza”. Vamos apenas fazer apelos a este “todo-poderoso” partido que, como foi dito pelo seu secretário-geral, gastou cerca de oito milhões de dólares pelo congresso que decorre na cidade de Pemba a partir do próximo domingo.
As decisões que forem a tomar neste congresso terão reflexo na vida dos cidadãos. As opções que o partido escolher terão impacto na vida de todos os cidadãos – moçambicanos e não moçambicanos – aqui residentes. Sejam eles do partido Frelimo ou não.
Por isso, quando estiverem reunidos na turística cidade de Pemba, no majestoso complexo erguido (numa área de sete hectares), por favor pensem em programas que irão beneficiar o povo.
Quando estiverem nas salas climatizadas do complexo que acolhe o congresso ou das mais diversas estâncias turísticas em repouso, pensem nas milhares de pessoas que vivem nesta cidade, em zonas propensas à erosão e vedadas à habitação, não diremos digna, mas que lhes garanta segurança. Essas pessoas precisam de um governo que melhore o sistema de urbanização.
Quando estiverem a circular na cidade de Pemba, nas modernas viaturas que irão mobilizar para garantir o vosso transporte, por favor lembrem-se das milhares de pessoas doentes, que nos diferentes distritos de Cabo Delgado morrem à caminho do centro de saúde, por falta de transporte.
Quando estiverem a comer peixe, camarão, lagosta, por favor lembrem-se de milhões de crianças da província de Cabo Delgado que sofrem de desnutrição crónica, resultado da privação alimentar desde a nascença.
Quando nos vossos smart phones estiverem a receber emails e sms’s de amigos em Maputo, a felicitá-los por os ter visto nas câmaras da televisão, pensem nesse momento que há milhões de moçambicanos que não sabem ler nem escrever, porque na sua comunidade não existe escola.
Quando sentados na sala do congresso, olharem pela janela e verem centenas de homens fardados e armados garantindo a vossa segurança, lembrem-se de dezenas de raparigas moçambicanas que são estupradas diariamente à noite quando voltam da escola, por falta de segurança nos seus bairros.
Quando beberem a vossa água mineral, lembrem-se que há milhões de moçambicanos que percorrem quilómetros à procura de uma fonte de água do rio ou charco para beber, eles com os seus animais.
Quando sentirem tonturas, então virarem para o lado verem uma ambulância pronta para vos dar assistência médica, lembrem-se que há dezenas de mães moçambicanas que morrem diariamente em partos caseiros por falta de uma ambulância para levá-las à maternidade.
Podíamos fazer mais apelos, mas se pelo menos fizessem o que aqui pedimos, o povo agradeceria. (Redacção)