quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Reverendo URIA SIMANGO



CRÓNICA
exotérica

Yahia ben Yokhanon

-------------------------------------------------------------------
Segundo texto apócrifo rehausser
de Zoao Kraveirinya publicado
em Moçambique a 19 Outubro 2004
na era do Tsuname
-----------------------------------------
por Yahia ben Yokhanon
--------------------------------------------------------------
Uria SIMANGO, a  INDEPENDÊNCIA E  
 A  TEORIA  DA CONSPIRAÇÃO!
----------------------------------------------------------------------
” OS  QUE  ESQUECEM  O  PASSADO ESTÃO CONDENADOS A REPETÍ-LO” …escreveu  George Santayana (1863 - 1952), filósofo espanhol / norte-americano...

Nas vésperas da Independência, de 11 a 12 de Maio 1975, Samora Machel Presidente da FRELIMO, recebia os Presidentes da Tanzânia Julius K. Nyerere e Keneth Kaunda da Zâmbia, em Nachingweia (Nachingu-eia); Quartel-general da Frente de Libertação na Tanzânia. Desse encontro ficariam registados para a História os discursos dos quais transcrevemos alguns excertos proferidos pelo Presidente do Movimento de Libertação moçambicano, Samora Moisés Machel, no dia 12 de Maio de 1975:
-         ...”Antes de vocês falarem (camaradas Kaunda e Nyerere), gostava de vos mostrar um batalhão de agentes (...), quadros que se transformaram em agentes do inimigo”...
-         ...” Joana Simeão Presidente do GUMO (...) e protegida das forças imperialistas do mundo (...) Joana Simeão (...) amiga de Rebelo de Sousa e do Caetano, representava os macuas, mas não representava a mulher moçambicana”...
-         ...”Adelino Guambe fundador da FRELIMO por ser Presidente da UDENAMO, um dos três movimentos que se fundiram para formar a FRELIMO. Queria ser Presidente da FRELIMO”...
-         ...”Narciso Nbule, fundou um Partido no Quénia para se opor à FRELIMO. Desde 1963 que se opõe à FRELIMO. Preso na Zâmbia fez-se de maluco e conseguiu baixar ao Hospital dos malucos”...


-         ...”Também estão aqui soldados da COREMO (Comité Revolucionário de Moçambique). Nem sequer sabiam onde era Moçambique, viviam em florestas em volta de “Lussaca” como bandos de ladrões (roubando carros, arrombando lojas, atacando os homens das farmas). Viviam nas florestas e foi o Governo da Zâmbia que os enviou para a FRELIMO aqui em Nachingweia. As suas ideias são as de bandidos e assassinos”...
-         ...”Paulo Gomane, Presidente da COREMO, agente do imperialismo para se opor à FRELIMO”...
-         ...”Uria Simango foi Vice-Presidente da FRELIMO (...). Como Vice-Presidente tentou várias vezes retirar o apoio que nos dava a Tanzânia (...).TEMOS CORAGEM PARA MUITO, MAS NÃO TEMOS CORAGEM DE MATAR O CRIMINOSO SIMANGO”...
-         ...”Pedro Mondlane, agente da PIDE e de Spínola”...
-         ...”Manuel Lumumba, permitiu que a bomba passasse de Mbeya para Dar-es-Saalam para o assassínio de Mondlane”...

No mês seguinte (a estes eventos em Nachingueia), a 25 de Junho de 1975, Moçambique tornava-se Independente da administração colonial portuguesa depois de 10 anos de luta armada. Logo de início há indícios de vir a constituir-se numa República Popular de inspiração comunista, mescla do modelo chinês de Mao Tsé Tung e soviético estilo Estaline. Modelo político adoptado que esmagaria qualquer possibilidade de liberdade de expressão ou de associação política independente e democrática. Para os “iluminados” mentores dessa revolução impunha-se “inventar (!?) uma nova ordem política, social e económica. Toma corpo a teoria da conspiração contra a revolução socialista. A FRENTE de LIBERTAÇÃO transforma-se em Partido único não aceitando a alternativa democrática no Poder. O dogma do Culto da Personalidade assente numa ideologia de ditadura substitui o dogma das religiões entretanto perseguidas violentamente e vistas como... “o ópio do povo”... O regime instala-se com um aparelho repressivo cruel apoiado numa polícia política – o SNASP e de outros sectores da Contra Inteligência militarsecção de Fuzilamento do Ministério de Defesa dependendo do Departamento de Defesa e Segurança do Partido FRELIMO do qual o seu Secretário e chefe viria a ser mais tarde, o coronel Sérgio Vieira que em conjunto com Óscar Monteiro dirigira entre Janeiro / Abril 1975, os interrogatórios e torturas em Nachingueia aos …”quadros que se transformaram em agentes do inimigo” (sic)...

     ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
A corroborar esta teoria da conspiração surgem as ofensivas contra o regime moçambicano vindas dos vizinhos da Rodésia e da África do Sul últimas trincheiras do Poder branco em África. Alguns sectores de Portugal juntam-se aos inimigos da FRELIMO. Desde a Transição à Independência de 1974 que muitos colonos portugueses e alguns moçambicanos abandonam o futuro País indo para a África do Sul, Portugal e Brasil, Canadá e Austrália. Outros o fariam a partir de 1976. Moçambique esvai-se com a fuga desses quadros da função pública, empresários, técnicos, sobretudo brancos que se sentiriam inseguros e assustados pela entrada triunfante dos guerrilheiros da FRELIMO vindos do mato impondo novos (des) hábitos de vida. Outros por puro racismo branco vão para a África do Sul após o fracasso da “caça ao preto...ao turra (terrorista) ” do 7 de Setembro de 1974 e da consequente reacção popular descontrolada com o seu apogeu a 21 de Outubro.
A partir de 1976/1978 inicia-se uma sangrenta guerra civil em Moçambique que duraria cerca de 16 anos. O conflito seria apoiado do exterior pelos bastiões do apartheid rodesiano, sul-africano e de sectores portugueses e norte-americanos de extrema-direita...

Anexo: Rebelo de Sousa, governador-geral e pai do cronista de TV, Marcelo R. S. Caetano também Marcelo e substituto de Salazar. Pedro Mondlane; primo/irmão de Eduardo Mondlane (pais irmãos). GUMO; Partido de Máximo Dias e de Joana Simeão.
[NB. João Craveirinha, colaborador do Autarca, encontrava-se no grupo desses condenados de Nachingueia aqui referenciados e mais tarde transferidos via Lago Niassa para Mitelela ex - campo militar colonial de Nova Viseu onde mais tarde muitos seriam mortos e cremados].
in O Autarca da Beira de 9 de Maio de 2006.