quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Wiriyamu... o que foi?


Em Dezembro de 1972 já eu estava em Moçambique, mais concretamente em Nova Freixo - hoje Cuamba - ao serviço da Força Aérea no Aeródromo Base nº. 6. Nas minhas constantes consultas à memória do que foi a estadia em África, relembro situações vividas, acontecimentos mais marcantes, histórias boas ou más do meu quotidiano em terras distantes, que foi fértil em vivências que me desfilam pelo pensamento e me conferem as saudades que imensas.
Já passaram 38 anos... e desse tempo sempre me ficou uma pergunta, para a qual jamais encontrei uma resposta capaz de ser considerada plausível e digna de aceitação: O QUE SE PASSOU EFECTIVAMENTE NO DIA 16 DE DEZEMBRO NO DISTRITO DE TETE?
Até ao dia do meu regresso ao então Portugal Metropolitano, nunca consegui perceber bem aquilo que se afirma ter acontecido e bem assim onde se situava, na realidade, a aldeia de Wiriyamu.
Apareceram publicados alguns documentos escritos e houve testemunhos dos missionários, quer Combonianos quer Padres Brancos, que afirmam ter visto e ouvido os autores materiais da chacina a descreverem as brutalidades que terão feito às populações e como, dias depois, foram mandados para enterrar as vítimas, não levando armas para que pudessem ser massacrados.
Os helicópteros que os tinham levado não os vieram recolher, como havia sido combinado, e eles acabaram por cair muma emboscada, que vitimou muitos deles.
O que surpreende é que o à época comandante-chefe das forças armadas em Moçambique, Kaúlza de Arriaga, tenha continuado a negar a existência de Wiriyamu cerca de 27 anos depois, conforme se pode lêr na entrevista concedida ao jornal «Público», de 13 de Março de 1999. Nessa entrevista, o General Kaúlza dizia serem apenas «rumores de abusos das tropas», e era um escândalo montado pelos Padres de Burgos. Afirmou ainda que os três inquéritos feitos nada descobriram, concluíndo que «...não ocorreu nada em Wiriyamu. Não houve qualquer crime em Wiriyamu».
Porque não tenho certezas de nada, especialmente porque carecem de rigor algumas declarações feitas por missionários, especialmente no respeita ao então Bispo de Nampula, D. Manuel Vieira Pinto ou aos "Padres do Macúti, mantenho as minhas dúvidas sobre um massacre que foi denunciado pelos missionários. Em Londres, quando o Reverendo Hastings deu a conferência de imprensa no "Times"... o Dr. Mário Soares esteve presente na mesa, mas isso já são "outras políticas"!
Muitos dizem que só os políticos e as altas patentes militares de Moçambique é que afirmam que nunca souberam de nada, por persistirem na tentativa de branquear a História! Será?

7 comentários:

  1. Só agora descobri o seu interessante blog. Antes de mais deixe-me que me apresente como licenciado em História, e investigador de temas relacionados com a Guerra Colonial. Assim, modestamente, vou tentar responder-lhe à pergunta que formaliza dentro daquilo que documentos (escritos, orais, e outros), me fizeram concluir. Tentarei ser breve, sabendo de antemão, e avisando-o já disso, que jamais se poderá afirmar que estamos hoje no pleno conhecimento do que realmente se passou, no sentido histórico do termo, naquele dia 16 de Dezembro de 1972, apesar de existirem uma série de importantes testemunhos e documentos disponibilizados sobre isso, e que aliás encontrará na net com relativa facilidade. Aproveito a ocasião para lhe sugerir um olhar sempre muito cuidadosamente crítico sobre testemunhos. São vários os motivos que me levam a esta chamada de atenção; passaram vários anos; os acontecimentos não honorabilizam nenhum dos que de uma forma ou de outra participaram ou tiveram conexão com o caso; algumas necessidades, quase patéticas em alterar os factos, cuja mais conhecida, pelo que escreveu o senhor já detetou, que foram as repetidas declarações do general Kaúlza de Arriaga.
    Factos que considero provados, (tudo o que ler daqui para a frente é da minha responsabilidade e creio que poderá encontrar colegas meus que tenham perspetivas diferentes)
    1 - Existia uma informação com origem na DGS, (ex-PIDE), de que na região a sul da estrada que ligava a cidade de Tete ao centro – sul do país, (direção de Manica, e depois Beira), muito sensível à época por causa dos transportes de materiais para Cabora Bassa, (ou Chaora se preferir), havia contactos entre um líder maconde da Frelimo de nome Raimundo (este chefe de facto existiu mas parece que já faleceu, segundo li, morto durante a guerra civil em Moçambique pós 75), e cujo nome me surgiu já em situações anteriores a 72 em Cabo Delgado, pelo que seria um guerrilheiro que das duas uma, ou um comandante que os portugueses queriam eliminar porque demonstrava ser muito ativo; ou um dos nomes mito que sempre surgem nestas situações, de alguém que realmente nunca existiu, mas que era lançado para criar um forte impacto psicológico no inimigo. Até à data tudo me leva a crer que o comandante operava de facto na província de Tete à época, aliás era ali que a Frelimo se mostrava mais ativa, mas não está provada a presença nas regiões atacadas a 16 de Dezembro, nem de ali ter havido contactos anteriores.
    2 – Para detetar e eliminar o referido comandante, foi elaborada na ZOT uma operação com nome de Marosca, (creio que raramente um nome foi tão apropriado para o que sucedeu). Existe um memorando desta operação escrito pelo general Kaúlza. A operação seria executada por uma força do batalhão de comandos, (eu não estou em condições de garantir que o Batalhão estivesse efetivamente formado, ou seja que existisse 4 companhia de comandos – intervenção- mais uma de comando e serviços que constituiria de facto um batalhão, como bem sabe, ou se esse batalhão estaria disseminado por várias regiões de Moçambique que não só em Tete. Estou, todavia, em condições de referir o comandante desta força na pessoa do então Major de Infantaria-Cmd Jaime Neves), estava ainda prevista a atuação da FAP não só no helitransporte da força de Comandos, como num bombardeamento prévio à zona efetuado por 2 caças Fiat G-91. Tudo isto sucedeu.
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  2. 3 – A força de comandos, (que em muitos textos se atribui à totalidade da 6ª Companhia de Comandos de Moçambique, [o que a ser verdade nos obriga a admitir que parte da força tivesse sido deslocada por meios rodoviários, os Aloutte III não tinham capacidade para transportar uma companhia inteira, seria necessário utilizar todos os aparelhos existentes na província e mesmo assim não sei se chegariam] onde surge um equívoco frequente relativamente à 6ª Companhia de Comandos que operou em Angola, mas que era constituída por elementos europeus, e que nada tinha a ver com as companhias formadas em Moçambique no C.I.C. de Montepuez – Cabo Delgado, e que instruiu até 1975, 9 companhias). Aqui surge o primeiro dado muito importante a reter – Esta companhia era comandada por um alferes miliciano de nome Antonino Melo, natural do norte da então metrópole, mas que tinha ido para Moçambique (Beira) ainda muito novo. Esta situação é deveras sui generis, e até hoje não me foi possível confirmar com exatidão o que realmente sucedeu ao capitão que comandou a companhia em primeiro lugar. Já li que estava de férias, que estava doente com hepatite, que tinha ficado ferido, etc. Eu refuto o esclarecimento deste aparente pormenor, de absolutamente essencial para se perceber o que de facto aconteceu, na perspetiva histórica, naquele dia. Numa altura em que existiam pelo menos 3 companhias de comandos operacionais em Moçambique, vários grupos GE, e ainda um grupo de combate mítico conhecido pelo grupo do Roxo, que operava essencialmente no Niassa, mas que teve várias participações fora dele, é estranho fazer recair a escolha na companhia mais inexperiente. A escolha para uma operação com estas caraterísticas requeria o comando de alguém com mais traquejo, o que poderia ter sido solicitado a forças para-quedistas, fuzileiros ou até companhias de caçadores. Optou-se, e isto não está esclarecido, na ZOT pela utilização da força mais inexperiente das forças especiais da ZOT naquela altura. Sendo o Coronel comandante da ZOT um oficial para-quedista, ainda mais se estranha a opção.
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  3. 4 – Aquilo que hoje é conhecido como o massacre de Wiriyamu, foi na realidade a destruição de 3 aldeias, Wiriyamu, Chawola e Juwau. Os nomes diferem de fonte para fonte o que se percebe devido à tradição essencialmente oral dos africanos, e da escrita de aldeias remotas pelo pronunciamento do som. Outra dúvida que parece de somenos mas tem muito mais importância do que à primeira vista parece, é a real localização geográfica das aldeias. Wiryamu e Juwau eram quase contíguas, ou mesmo contíguas, e Chawola ficaria nas imediações. Todas no regulado de Gandali. Agora, onde ficavam realmente estas aldeias? Alguns textos referem a sudeste de Tete, o memorando que citei em cima só nos fornece uma coordenada, (latitude), e várias obras sobre o tema referem apenas a distância de 25 km da cidade de Tete. Eu entendo que elas ficariam a sul da estrada como já disse, mas alguns autores sugerem um local próximo da estrada que partindo daquela que eu referi, seguia para a barragem de Cabora Bassa. Este desvio da estrada principal Beira-Tete, era conhecido pelo Km19, onde estava estacionada uma companhia de caçadores. Num pequeno mapa na obra de Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes, (ambos coronéis na reserva), “os anos da guerra colonial”, a localização sugerida na pág. 680, coloca Wiryamu já na direção de Estima, claramente a noroeste de Tete. Esta obra é a mais completa que conheço sobre a guerra, todavia eu discordo desta localização. Na minha opinião a posição das aldeias seria a sul – sudoeste de Tete, saindo da estrada principal, e viajando-se por picadas até ao local. Existe ainda um documento que refere a existência de uma cantina na zona, chamada a Cantina do Raúl, que eu ainda não consegui confirmar.
    5 – Às 14 horas do dia 16 de Dezembro de 1972 dois caças Fiat G-91’s (perdoar-me-á alguma incorreção na denominação da aeronave), bombardearam as aldeias, Na operação a ideia era amedrontar os possíveis guerrilheiros e seu comandante. Os bombardeamentos não tinham, ao contrário do que é sugerido na obra de Rodrigues dos Santos, (romance), o intuito de destruir as aldeias, mas apenas amedrontar e levar à rendição os possíveis guerrilheiros. Na reunião preparatória da ZOT ficou estabelecido que aos comandos apenas era pedido que cercassem o espaço evitando que alguém saísse ou entrasse. Isto pode explicar a escolha do comandante da ZOT pela 6ª Companhia de Comandos, questão que me suscita dúvidas como já referi mas por outro motivo. É evidente que qualquer combatente estaria em condições de manter um cerco às aldeias, que aliás seriam muito provavelmente já cercadas pelas tradicionais cercas de paus. A DGS participava com o intuito de recolher eventuais elementos da Frelimo, informações, armamento etc. Isto foi o que estava decidido na ZOT.
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  4. 6 – Após o cerco e o final dos bombardeamentos, as populações excitadas, confusas e amedrontadas procuraram fugir desordenadamente, o que dificultou muito o trabalho aos comandos para o evitar, o que no entanto, foi conseguido. Os sobreviventes assistiram aos factos subsequentes, logo não fugiram no início dos acontecimentos. Não há relatos de fugitivos nesta fase, nem de que os comandos tenham abatido algum membro da população nesta altura. A partir daqui tudo o que acontece não tem até agora esclarecimento satisfatório, ou não tem de todo.
    7 – A liderar a pequena força da DGS, (3 a 4 elementos) estava um homem sobejamente conhecido em Moçambique, que dava pelo nome de Chico Kachavi, conhecido pelo apelido de Chico Feio. Este homem, (mais tarde assassinado com uma granada de mão atirada para a casa-de-banho enquanto tomava banho), é a peça central do caso, e não a 6ª companhia de comandos, que aliás é fácil de perceber que estava disseminada por toda a zona, e menos ainda o seu comandante, o alferes miliciano Antonino Melo, que não podia estar em dois lados ao mesmo tempo, quanto mais em 3, e que muito corajosamente reconheceu o que fez e viu fazer, numa demonstração enorme de dignidade, de quem é normalmente tido por carrasco e eu creio que terá sido mais vítima. (Se não viu a reportagem da SIC 1997 ou 1998, com cobertura na época pelo jornal Expresso do regresso deste homem a Wiriyamu, pode consultar o Youtube e lá encontrará os vídeos).
    8 – O Alferes Melo, ficou restringido ao interior de Wiriyamu, e não teve conhecimento ocular do que se passou fora da aldeia e nas outras duas aldeias mencionadas. As forças de comandos, foram solicitadas a reunir as populações nos pátios das aldeias pelo Chico Kachavi, assumindo na prática este o comando das operações e alterando daqui para a frente o desenrolar das mesmas. Não estava previsto nada do que sucedeu a partir daqui, e por isso é que eu digo, que gerando uma onda de violência, num quadro já de si violento que era o da guerra, em jovens com menos de 21 anos, o descalabro era mais do que previsível. A isto soma-se o enorme temor que existia na população civil e militar relativamente à DGS, e as evidentes consequências caso as ordens não fossem acatadas. Não é fácil entender na tranquilidade dos nossos lares as explicações para o que sucedeu, é seguramente muito mais fácil condenar a 6ª companhia e o seu comandante pela sua atuação. Mas eu, quero apenas perceber na totalidade o que sucedeu, por isso, não me satisfaz a explicação simplista de que existe um culpado, um oficial miliciano no primeiro posto de oficial com apenas 20 anos, que deu ordens e pronto!
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  5. 9 – É evidente que a ação de reunir a população pode ter gerado tiros, nem que fosse para amedrontar. É evidente que não restam dúvidas que não se procede com simpatia num caso destes, do género “se faz favor sente-se ali”. Estes homens foram arrancados de suas casas quase imberbes, e foi-lhes ministrada uma instrução violenta, do ponto de vista físico, mas sobretudo psicológico, e foram obrigados a combater numa guerra sem muitas explicações. Foram transformados em heróis destemidos, dignos de grandes feitos. Percebe agora quando eu digo que um comandante ao nível do capitão, mais velho e mais experiente poderia ter tido uma postura mais forte face às ordens do Chico, e mudado para sempre o que se passou em Wiriyamu? Ambos já tivemos 20 anos, e creio que percebemos a diferença.
    10 – Existe ainda um documento que sugere, baseado no testemunho de um sobrevivente, que um militar, (não identificado), terá sugerido que se levasse aquela gente toda para outra aldeia para se poder destruir o suposto apoio da Frelimo na zona. A isto o Chico responde aos berros que as ordens do chefe são para matar toda a gente, e repete mesmo no dialeto local “Pham wense!” – Matai-os a todos. Ora isto é claramente um total desvio das ordens estabelecidas. A partir daqui criou-se o clima psicológico de loucura da normalidade, ou seja, o normal passou a ser matar. O alferes Melo refere na reportagem à SIC/Expresso a que já aludi que naquelas circunstâncias é absolutamente igual matar 2 ou 20. Isto ainda hoje é causa de controvérsias e acusações ao homem. Mas é a verdade, que para ser percebida das duas uma; ou se esteve em guerra e se passou por situações similares, ou se tem alguns conhecimentos de psicologia e um certo discernimento de raciocínio. Naquele momento, qualquer oficial, sargento ou praça que se negasse a cumprir barbaramente as ordens recebidas, no clima criado, na envolvente da questão, primeiro teria problemas sérios a resolver no futuro próximo, segundo era quase impossível a gente tão jovem não ser naquelas circunstâncias invadidas pelo terror, por um medo colossal, que para ser suportado os obrigou a agir de acordo com aquilo que os fazia corajosos aos olhos dos outros, esta luta entre aquilo que eram e aquilo que fizeram para que não tivessem que se assumir como fracos, deve ainda hoje despertar muitos deles a meio da noite, são momentos terríveis que requerem muita maturidade e tranquilidade na análise, desaconselhando-se juízos de valor, até porque estas questões estão hoje muito bem estudadas pela psicanálise, nomeadamente por autores como Arno Gruen, em livros “Loucura da normalidade”, por exemplo, (já percebeu a expressão que utilizei algumas linhas acima).
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  6. 11- Existem registos que não podem ser confirmados cientificamente, de violações, execuções sumárias com requintes de sadismo, de todo o tipo de gente – crianças, mulheres, homens e velhos. Quero dizer-lhe que acho muito provável que assim tenha sucedido. O facto é que o comandante dos comandos, vendo que o tempo passava, e quiçá verificando já o alto grau de loucura que presenciava, optou por sugerir que se fechassem nas palhotas todos os elementos da população. As pessoas eram tantas que não haveria tempo para matá-los a todos a tiro. Foram atiradas granadas para dentro das cubatas, e estas ato contínuo incendiavam-se e matavam todos que lá estavam dentro. O alferes Melo confirmou que atirou uma granada para dentro de uma cubata, e deu ordens aos seus homens para o fazerem. Desmente apenas o conhecimento de violações, admitindo-as no entanto, junto de elementos que estavam de segurança ao cerco. Existem sobreviventes que relatam estas violações. O alferes tem o primeiro momento de consciência quando uma menina de aproximadamente 5 anos agarra-lhe a perna e pede que lhe poupe a vida. O alferes dá ordens aos seus homens para a deixarem sair, e ela foge juntando-se a mais alguns sobreviventes, que chegam a Tete, ao Hospital local, onde recebem tratamento aos ferimentos e contam a uma enfermeira espanhola religiosa o que se passou. A partir daqui a crónica faz-se, e o facto de a enfermeira ser religiosa justifica o facto de terem sido os padres da sua congregação a denunciar os acontecimentos cá fora. O alferes reencontrou esta mulher 25 anos depois como se vê na reportagem.
    12 – Poucos dias após a operação, e sem que desta tivessem existido ecos, o grupo de comandos é enviado ao local para enterrar os corpos, e limpar a zona, sem deixar vestígios. Ao alferes é dito nesta circunstância que nem era preciso levar armas, a zona estava pacificada. Alertado pela sua instrução, onde lhe havia sido sugerido que um comando nunca abandona a sua G3, este optou por levar a forçar armada. Os homens são novamente helitransportados a partir de Tete, é-lhes dito que os helicópteros regressariam para os trazer de volta. Os homens dedicam-se ao macabro trabalho, referindo o alferes que os corpos estariam já em decomposição, e o cheiro era tão intenso que foi sugerido entornar Old Spice nos lenços e taparem a boca e o nariz com eles. Depois de concluída a operação, os homens aguardavam a vinda dos helicópteros, mas o avançar da hora combinada dava ao alferes a certeza que tinham caído numa cilada. Ao regressarem a pé a Tete foram emboscados. Não há referências credíveis cientificamente, quanto ao número de elementos que participaram na emboscada, nem qual a sua real origem. Não existem documentos credíveis que evidenciem feridos e ou mortos nesta emboscada. Há no entanto a óbvia suspeita de que a eliminação física dos comandos acarretaria o definitivo silêncio sobre o caso. A companhia foi transferida para a ilha de Moçambique com ordens expressas de absoluto silêncio sobre o acontecido. Só 30 anos depois o alferes se dispôs a falar, mas evitando claramente alargar-se no caso da emboscada.
    13 – Há relatos de uma criança que sobreviveu no interior de uma palhota porque a sua mãe o cobriu com o seu próprio corpo, morrendo, mas dando a salvação ao filho. Esta criança é o homem que verá no documentário da SIC mais nervoso, e com ar de quem quereria a paga do que aconteceu naquele dia.
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  7. 14 – Quando se estuda História, habituamo-nos a ler detalhes e pormenores que parecem insignificantes. A informação existente sobre companhias do exército que lutarem em África é mais que abundante, e dada normalmente pelos próprios ex-combatentes. Conseguir informação sobre a 6ª CCOMDS é missão quase impossível. Na obra que citei, “Os anos da guerra colonial”, é fornecida um pequeno livro onde se referem as mobilizações do exército durante a guerra colonial ano a ano, desde 1961 a 1975. Não quer dizer que seja caso únicos, mas o facto é que a 6ª CCOMDS é das poucas sem registo de mobilização e desmobilização. O que quero dizer é que desde aquela altura existem sobejos indícios da tentativa de apagar tudo o que se refira a Wiriyamu.
    15 – Apenas como informação adicional, na deslocação do alferes Melo ao local, nas imagens parece que este estava convicto do trabalho dos jornalistas e da pacificação do local após tantos anos, mas a verdade é que levava dissimulada na roupa, uma lanterna de longo alcance, comprimidos para a purificação de água, e uma faca de mato. Aquele local já lhe tinha ensinado que todos os cuidados são poucos ...

    O texto vai longo, mas queria que ficasse com o mínimo de informação das conclusões do meu estudo sobre o tema. Se quiser debater mais algum tema, terei muito gosto.
    Abraço
    António Carlos
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