segunda-feira, 30 de setembro de 2013

PR moçambicano prolonga visita à França e confirma interesse na compra de barcos franceses

PR moçambicano prolonga visita à França e confirma interesse na compra de barcos franceses

O Presidente moçambicano, Armando Guebuza, prolongou a visita a França, que inicialmente terminaria no sábado, e hoje estará, com o seu homólogo francês, nos estaleiros navais de Cherbourg, no noroeste, onde Moçambique encomendou recentemente 30 barcos.
Moçambique pretende adquirir 24 traineiras, três barcos-patrulha de 32 metros e outros três de 42 metros através de uma empresa de atum, detida pela secreta moçambicana e pelo Instituto de Gestão das Participações do Estado (IGEPE),
Hoje, o Presidente francês, François Hollande, e Armando Guebuza vão visitar a região de Cherbourg, no noroeste de França, como parte de uma viagem que terá como foco as energias renováveis, indica um programa hoje divulgado na página da Presidência francesa.
Segundo a nota, François Hollande será acompanhado pelos ministros da Recuperação Industrial, Arnaud Montebourg, da Ecologia, Desenvolvimento Sustentável e Energia, Philippe Martin, bem como pelo vice-ministro dos Transportes, Mar e Pesca, Frederic Cuvillier, e pelo ministro do Orçamento, Bernard Cazeneuve.
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29/09/2013

28/09/2013

IMPASSE PREVALECE NO DIÁLOGO GOVERNO/RENAMO

IMPASSE PREVALECE NO DIÁLOGO GOVERNO/RENAMO

As delegações do governo e da Renamo, maior partido da oposição em Moçambique, realizaram hoje, em Maputo, mais uma ronda de diálogo visando ultrapassar a actual tensão política no país, sem, no entanto, alcançarem nenhum consenso, no primeiro ponto na mesa das conversações.
Volvidos cerca de cinco meses das conversações, as duas partes ainda não fecharam o primeiro dos quatro pontos apresentados pela Renamo e agendados para a discussão. Ao todo, esses pontos são a legislação eleitoral, defesa e segurança, despartidarização do aparelho do Estado e questões económicas.
Desde a primeira ronda até a 22ª que decorreu hoje, as partes estão a discutir a questão sobre a legislação eleitoral, onde a Renamo exige paridade entre si e a Frelimo na indicação dos representantes dos órgãos eleitorais.

Actualmente, a Comissão Nacional de Eleições é constituída por 13 membros, sendo cinco indicados pela Frelimo, dois pela Renamo, um do MDM, um juiz apontado pelo Conselho Superior da Magistratura Judicial, um procurador pelo Conselho Superior da Magistratura do Ministério Público e três membros da sociedade civil.
A Renamo exige ainda que o diálogo em curso com o governo resulte num acordo político sobre uma proposta de revisão eleitoral a ser submetida ao parlamento apenas para aprovação.
A exigência é recusada pelo governo alegando ser inconstitucional, uma vez que, no seu entender, a Constituição da República não prevê nenhuma paridade na representação dos partidos políticos nos órgãos eleitorais bem como pelo facto da lei fundamental defender a separação de poderes, o que significa que o governo não pode
dar ordens ao parlamento.
Semana passada, a Renamo trouxe uma nova proposta de revisão da legislação eleitoral, em que sugere uma representação da Frelimo em 50 por cento e a parte remanescente de membros sendo proveniente da Renamo, Movimento Democrático de Moçambique (MDM) o segundo maior partido da oposição no país, e pela sociedade civil.
Em resposta, o governo exigiu a fundamentação dessa proposta, mas também adiantou que a Renamo não tem legitimidade para falar em nome de cerca de 40 partidos políticos que existem no país.
Nós entendemos que a Renamo é soberana, a Frelimo é soberana, o MDM é soberano. Portanto, a Renamo não tem mandato para falar em representação de outros partidos, disse o chefe da delegação do governo neste diálogo, que é também Ministro da Agricultura, José Pacheco.
Falando em conferência de imprensa havida após a 22ª ronda, Pacheco reiterou o posicionamento do governo em relação aos diversos aspectos já propostos pela Renamo antes, incluindo ser desnecessária a participação de facilitadores nacionais e observadores nacionais no diálogo, uma vez não estar esgotada a capacidade interna de diálogo.
Por seu turno, o chefe da delegação da Renamo, o deputado Saimone Macuiana, disse que nós trouxemos propostas que pudessem nos ajudar para avançarmos, mas ainda não há abertura por parte do governo. O governo ainda não nos trouxe aquilo que pediu que queria reflectir sobre a nossa fundamentação.
O mais agravante é que quando o governo solicitou a nossa fundamentação, nós a submetemos em tempo oportuno na sexta-feira ao governo, mas este apareceu hoje na sala sem a sua resposta, disse ele.
Por isso mesmo, a Renamo voltou a defender a necessidade de participação de facilitadores nacionais e observadores estrangeiros para ajudarem a encontrar soluções para os impasses.
Contudo, apesar dessa falta de consenso, as duas partes reiteraram que o diálogo vai continuar e dizem estar esperançados em chegar a alguma solução para esses problemas.
MM/DT
AIM – 30.09.2013

António Costa segue com nova maioria absoluta

  
Márcia Galrão  
30/09/13 02:00
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António Costa recusou-se a responder à pergunta sobre se pensa já na liderança do Partido Socialista.
Maioria na Câmara, maioria na Assembleia Municipal, maioria das juntas de freguesia. António Costa foi ontem rei absoluto em Lisboa, naquele que, como lembrou, foi o melhor resultado "alguma vez alcançado por um partido" na capital.

Mas tal como antes Helena Roseta, Costa também lembrou que quem venceu ontem foi um "PS Mais", ou seja, os socialistas contaram com o apoio de vários movimentos independentes, o que mostra que os partidos "têm reflectir sobre o processo de selecção e de abertura que precisam de ter".

"Os eleitores estão cá para mandar no país e não deixar que outros mandem por nós". Costa fugiu ainda à pergunta sobre se pensa já na liderança do Partido Socialista e que ontem era noite de festejar a vitória em Lisboa. "É prematuro querem ver-me já pelas costas", disse.

Quando as televisões anunciaram as primeiras projecções, confirmando a maioria absoluta de António Costa em Lisboa, a sala do Hotel Altis onde se concentravam os apoiantes estava ainda praticamente deserta e pouco mais de vinte pessoas aplaudiram o resultado. Mas à hora que o presidente eleito falou, foram centenas os que gritaram e aplaudiram.

Houve ainda quem cometesse a ‘gaffe' de aplaudir o resultado eleitoral no Porto, quando se soube que Luís Filipe Menezes perdia para Rui Moreira, apesar desta ser também uma derrota do socialista Manuel Pizarro.

Quem chegasse ao Altis ontem à noite só perceberia que era o quartel-general de um candidatura com maioria absoluta pelo aparato de televisões, rádios e jornalistas que se amontoavam à entrada. O ambiente esteve sereno até à hora de António Costa falar ao país e, ao contrário de outras sedes, o presidente eleito não acompanhou os resultados na sala principal, refugiando-se no 13º andar do hotel lisboeta com o seu núcleo duro.

Helena Roseta vaticinou um "mandato histórico" para Lisboa, com Costa a elencar os objectivos que tem para a cidade e deixando claro que "os transportes públicos têm que ser tirados das mãos do Governo e devolvidos à cidade".

O autarca de Lisboa acredita que o facto de a abstenção não ter ganho expressão é a prova de que os cidadãos "não se deixaram vencer pelo desanimo".

Marcelo e as autárquicas: Uma «grande derrota para Passos»

 

Marcelo e as autárquicas: Uma «grande derrota para Passos»

O antigo presidente do PSD Marcelo Rebelo de Sousa considerou hoje que a vitória do independente Rui Moreira no Porto, como indicam as projecções já conhecidas, representa uma «grande derrota» para o líder social-democrata, Pedro Passos Coelho.

As projecções da RTP e SIC apontam para uma vitória da candidatura à Câmara do Porto de Rui Moreira e para uma renovação do mandato do socialista António Costa na Câmara de Lisboa.
Comentando estes dados no Jornal da Noite da TVI, Marcelo Rebelo de Sousa considerou tratar-se de «uma grande vitória» de Rui Moreira, mas também «inequivocamente uma grande vitória daquele sector do PSD, nomeadamente Rui Rio, que apoiou directa ou indirectamente Rui Moreira, e do CDS», que optou por apoiar a candidatura independente.
«E se for assim», acrescentou Rebelo de Sousa, está em causa «uma grande derrota de Pedro Passos Coelho».
Quanto ao candidato do PSD no Porto, Marcelo Rebelo de Sousa considera que Luís Filipe Menezes não sofreu uma «grande», mas «uma esmagadora derrota», referindo que o candidato do PSD pode perder duplamente nesta noite: «Se em Gaia [cujo município liderou durante quatro mandatos] acontece o PSD perder, isso significa que Menezes perdeu a influência que tinha em Gaia e perde fragorosamente no Porto».
Quanto a Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa classificou de «impressionante» a vitória do socialista António Costa, lembrando que caso o resultado seja superior a 44%, tal será «nunca visto» na capital, até porque o PCP e o Bloco de Esquerda «são muito fortes».
Quanto ao resultado de Fernando Seara, candidato do PSD e CDS-PP a Lisboa, caso se confirme um resultado entre os 23 e os 25%, «é uma coisa nunca vista», salientando que «ainda por cima é coligação», disse.
Para Marcelo Rebelo de Sousa, o PSD «andou mal no começo e no fim do processo» eleitoral autárquico.
Desde logo, referiu o comentador político, Jorge Moreira da Silva (actual ministro do Ambiente) «não tinha grande experiência» na gestão eleitoral autárquica e «houve erros de condução que permitiram o aparecimento de listas independentes, houve uma falta de autoridade, por um lado, e uma falta de percepção de pessoas e de acontecimentos em vários pontos do país».
Na opinião de Marcelo Rebelo de Sousa, problemas causados por um «erro de base: Miguel Relvas devia ter ficado no partido e não ter ido para o Governo».
Por outro lado, acrescentou, o presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, cometeu «erros na ponta final da campanha», ao transformar as eleições, sobretudo nos grandes centros urbanos, em eleições nacionais, com «um ziguezague no discurso permanente, quando colocou na ordem do dia os cortes nos pensionistas e o segundo resgate, e ora disse que não havia leituras nacionais ora disse que havia leituras nacionais».
«Isso, nas últimas duas, três semanas, constituiu um factor muito negativo num processo que nasceu mal e que terminou menos bem», afirmou, pouco antes das 22:00, quando ainda faltava apurar os resultados de cerca de dois terços das freguesias.
Sobre os resultados nacionais, Rebelo de Sousa afirmou que Passos Coelho «perdeu» de acordo com qualquer dos critérios de aferição de vitória nas eleições autárquicas – segundo o PS, ganha quem tem mais votos, enquanto para o PSD o partido vencedor é o que conquista mais câmaras.
«O Governo começa a segunda fase do seu mandato mais fraco», sublinhou o comentador, para quem os resultados representam «uma vitória de António José Seguro».
Também na TVI, o eurodeputado Paulo Rangel disse que o resultado no Porto «confirma uma derrota grande para o PSD», com leituras nacionais «para todo o partido e também para o Governo», mas que, na sua opinião, «não põem em causa a liderança de Passos Coelho».
«Uma leitura nacional tem de ser feita, no sentido de pensar o que se pode corrigir na actuação e na comunicação do Governo», defendeu Paulo Rangel, que disputou a liderança do PSD com Pedro Passos Coelho.
Paulo Rangel considerou que os sociais-democratas devem «reflectir» sobre como fizeram «a escolha dos candidatos na segunda e nas terceira cidades». Já em Lisboa, «a escolha não foi a melhor», embora admitindo que fosse difícil ganhar a câmara da capital a António Costa.
O vice-presidente do CDS-PP Nuno Melo, afirmou que com a vitória de Rui Moreira no Porto, o partido é «também vitorioso», mas escusou-se a comentar a derrota do candidato do PSD naquela cidade.
Diário Digital com Lusa

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PS foi o grande vencedor das eleições de domingo

 
2013-09-30 10:37:03
Lisboa – O PS foi o grande vencedor das eleições autárquicas deste domingo conseguindo 36,34% dos votos, seguido do PSD com 16,59%. A abstenção foi de 47,36%.
O PS foi o grande vencedor das eleições autárquicas de ontem com 36,34% dos votos, seguido do PSD com 16,59%, do CDU com 11,09%, a coligação PSD/CDS-PP conseguiu 7,69%, os independentes 6,66%, CDS-PP 3,04% e o BE 2,42%.

Com este resultado o PS superou o melhor resultado de sempre em número de câmaras, o de 2009, quando conquistou 132 presidências de municípios, ao conseguir agora 136 câmaras, e mais uma em coligação.

Já o PSD obteve o seu pior resultado de sempre, termos de presidências de câmara obtidas sozinho e coligado, ficando abaixo das 114 conseguidas em 1989.

Graças ao número de câmaras conseguidas, os socialistas reconquistam a presidência da Associação Nacional dos Municípios Portugueses (ANMP), que pertencia ao PSD.

Os grandes nomes destas eleições são o do independente Rui Moreira, que ganhou a Câmara de Porto contra Luís Filipe Menezes do PSD e Manuel Pizarro do PS; e António Costa que, pela terceira vez, arrebatou os lisboetas e reforçou a sua liderança na capital, ao vencer o principal adversário, Fernando Seara do PSD.

Os movimentos independentes reforçaram o seu peso político e passaram de 7 para 11 autarquias.

As eleições de domingo registaram, segundo os dados provisórios, uma taxa de abstenção de 47,36%, a mais alta de sempre em autárquicas.
(c) PNN Portuguese News Network

PARTIDO FRELIMO PEDE VOTOS ANTES DO INICIO DA CAMPANHA ELEITORAL NA CIDADE DA BEIRA E ISSO NÃAO É ELICITO ELEITORAL.


  • PARTIDO FRELIMO PEDE VOTOS ANTES DO INICIO DA CAMPANHA ELEITORAL NA CIDADE DA BEIRA E ISSO NÃAO É ELICITO ELEITORAL.


    Eleições autárquicas na Beira.

    O partido Frelimo ao nível da cidade da Beira desdobra-se em esforços para a angariação de fundos, de modo a fazer face ao exercício eleitoral que se avizinha, com vista a garantir a vitória do seu candidato às autárquicas de 20 de Novembro deste ano.

    Com efeito, na sexta-feira, o partido governamental organizou uma gala envolvendo o empresariado local, com o objectivo de convencer esta classe a contribuir para os cofres do partido.

    A forma encontrada foi o leilão de vários bens e artigos diversos pertencentes ao partido.

    Como exemplo disso uma camiseta da Frelimo, ostentando a assinatura do secretário-geral do partido, Filipe Paúnde, foi comprada a 95 mil meticais, depois de acesa disputa e várias propostas.

    Na ocasião, foi igualmente leiloado um bolo com o símbolo da Frelimo por 35 mil meticais, que acabou consumido no local. O empresariado também deixou ficar a promessa de, depois desta gala, canalizar algumas ofertas aos cofres do partido.

    Ainda naquele encontro, o primeiro secretário da Frelimo em Sofala, Henrique Bongece, aproveitou o encejo para apresentar e pedir voto para o seu candidato no município da Beira, Jaime Neto.

    “Camaradas empresários, o nosso candidato na cidade da Beira, aqui na província de Sofala, é o senhor Jaime Neto, e queremos desde já pedir que depositem o voto nele para governar este município”, apelou Bongece.

    O candidato mostrou-se convicto na vitória, mas disse que a atitude do partido será determinante na urna. “A vossa presença nos encoraja bastante para os próximos dias e acreditamos que convosco iremos vencer as eleições este ano, mas também porque a Frelimo está bastante preparada para este embate”, disse. (Jornal O País 30.09.2013).
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O conflito na produção de heróis em Moçambique

 

Por Carlos Serra
Se o homem é a medida de todas as coisas, a política é a medida de todos os heróis.
SAVANA 1029b

Os heróis oficialmente conhecidos em Moçambique são aqueles que a Frelimo, através do Estado que gere desde 1975, decretou como tais. Na imagem destaca-se Samora Machel (primeiro em pé da esquerda para a direita) e Eduardo Mondlane (segundo em pé da esquerda para a direita)

1. Introdução
Se, por destino dos bons deuses e dos bons espíritos,os que governam Moçambique e os que esperam governá-lo, decidissem conjugadamente, com a alma magnética e dialéctica dos irmãos gémeos, fazer um inquérito nacional para conhecerem as percepções populares sobre heróis, sobre quem são esses heróis, sobre quem merece história e estátuas, sobre quem tem legitimidade popular, talvez se surpreendessem com o surgimento de heróis que, por hipótese, teriam, por exemplo, as seguintes cinco dimensões hierarquicamente organizadas:
Heróis familiares ou de parentela alargada
Heróis locais extra-familiares
Heróis distritais
Heróis provinciais, eventualmente biprovinciais
Heróis oficiais
Estatisticamente, os gestores e os candidatos a gestores da heroicidade oficial talvez viessem a descobrir e a reconhecer que quanto mais saímos dos círculos familiar, local e distrital, mais difícil é conhecer e partilhar os heróis oficiais, aqueles pan-heróis distantes e desconhecidos comemorados nos dias festivos, nos discursos, na rádio, na televisão, nos comícios, etc.
Se ao conhecimento dos heróis popularmente reconhecidos e legitimadosjuntassem o conhecimento sobre as suas características, os gestores e os candidatos a gestores da heroicidade talvez se espantassem ao verificar  a variedade de critérios populares para estabelecer o perfil de heroicidade.
Poderia, até, acontecer que se tivesse por heróis, espíritos de heróis.
Um trabalho desse género permitiria, também, que se soubesse um pouco mais sobre as razões por que os jovens, os estudantes e os mais velhos - afinal muitos de nós - pouco sabem dos heróis oficiais, pouco se preocupam com eles, pouco os sentem na alma.
Mas não é assim que as coisas se passam e se fazem, o mencionado inquérito nacional não será realizado.
Regra geral, coisa de herói oficial é coisa de poder. Melhor: produto de relações incessantes de poder, eixo de uma intensa luta pelo monopólio da sua produção.
2. O que é um herói?
SAVANA 1029a

A atribuição em 2008 do nome de André Matsangaíssa (na imagem e sem camisa) à rotunda 2314, situada no Bairro da Munhava, arredores da cidade da Beira – na altura gerida pela Renamo -, é um exemplo claro de uma primeira brecha aberta no monopólio frelimiano de gestão de heróis.

Um herói é alguém a quem, colectiva, inter-subjectivamente (excluo a análise dos heróis pessoais), atribuímos qualidades e práticas extraordinárias, fora do comum, alguém que perdeu digamos que as suas qualidades humanas e se transformou numa espécie de deus terreno, de deus profano. Para enunciar um truísmo, um herói nunca existe a montante, mas a juzante das nossas representações sociais.
A morfologia da heroicidade é, naturalmente, vasta e variada. O herói não tem um centro temático ou uma linha unívoca de pureza.
Os heróis são tantos quantas as nossas necessidades em guias, em referenciais, em modelos de conduta, em juízes, em territórios de combate, em futuros. E, regra geral, consoante a intensidade e a extensão das lutasentre grupos sociais ou nacionais. Os impuros de uns são os puros de outros e vice-versa.
Heróis são seres que, com o tempo, unificámos psicológica e socialmente numa matriz comportamental única e virtuosa, da qual eliminámos os defeitos e, até, as qualidades humanas comezinhas.
Mais: em quem, muitas vezes, hipervalorizámos um aspecto de conduta (que pode ser motivo de retrabalho permanente e de acréscimo) deixando outros na penumbra. Estas as razões por que certos heróis podem ser iminentemente políticos ou completamente políticos.
Os heróis existem em todo o lado e desde sempre, não importa onde e quando.
Somos produtores “naturais” de heróis, de hiper-eus nas diversas socializações pelas quais atravessamos a vida e a história. Os mais pequenos agrupamentos dispõem de heróis, de guias, de modelos de conduta. Os heróis tanto podem habitar um lar, um grupo de famílias, uma rua, quanto uma prisão ou as matas da guerrilha, tanto podem estar mortos quanto vivos e, estando mortos, estarem vivos na memória e na invocação cultual.
Temos heróis de magnitude diferente. Um herói ofi cial dispõe, claro, de um peso de irradiação formal bem maior do que aquele de que dispõe um herói do bairro do Xiquelene em Maputo, de um sindicato combativo, dos meandros do crime ou das matas de uma guerrilha.
Mas isso não significa que o peso informal, não ofi cial, dos heróis, seja pequeno: um herói dos quarteirões populares ou das sagas campesinas de luta pode ser mais intensamente sentido e glorifi cado do que um herói seleccionado numa reunião fechada do grupo dirigente de um partido e regularmente projectado nos órgãos de comunicação.
3. Heróis oficiais
SAVANA 1029c

Uria Simango, um dos fundadores da Frelimo, foi extra-judicialmente executado pelo governo pós-independência de Samora Machel. A história oficial relegou o antigo vice-presidente da Frelimo para a condição de reaccionário

Os heróis podem ser motivo de conflito agudo entre grupos e partidos na competição pelo monopólio da sua produção. Melhor escrito: são quase sempre. Por exemplo, recentemente o presidente do Zimbabwe, Robert Mugabe, afirmou que jamais os membros da oposição seriam contemplados na praça dos heróis nacionais do seu país, apenas reservada aos heróis do seu partido, a ZANU-PF.
Um porta-voz do MDC-T, partido na oposição, reagiu declarando que a praça nacional dos heróis pertenciaaos Zimbabweanos e não à ZANU--PF [1].
Quanto mais partidarizado for um Estado, mais políticos e mais central e unilateralmente produzidos e decididos são os seus heróis e, portanto, menos possibilidades têm de ser popularmente aceites.
Quem são os heróis oficialmente conhecidos em Moçambique? Os heróis oficialmente conhecidos em Moçambique são aqueles que a Frelimo, através do Estado que gere desde 1975, decretou como tais.
São heróis que operaram no interior de um processo histórico: o da luta de libertação nacional a partir de 1962.
Que operaram e que foram definidos no interior de ideais, de virtudes e de práticas produzidas pela liderança hegemónica da Frelimo. Ideais, virtudes e práticas que os produziram com exclusão daqueles que foram considerados traidores. São pessoas a quem o grupo dirigente da Frelimo atribuiu virtudes extraordinárias em seu papel de pais fundadores e de pais executores da gesta nacionalista e revolucionária, são pessoas que foram consideradas excepcionais na concepção e na implementação dos programas que permitiram que a independência nacional fosse alcançada. São heróis definidos no interior de uma luta política e militar contra opositores estrangeiros e nacionais à frente de libertação.
Os restos mortais desses heróis estão na cripta da Praça dos Heróis, cidade de Maputo. Aí estão, também, os restos mortais de duas pessoas que nãofizeram directamente a caminhada da luta armada de libertação nacional, mas cuja grandeza e cuja luta, como poeta um, como maestro outro, como patriotas ambos, levaram a Frelimo a dar-lhes o estatuto de heróis. Trata-se do poeta José Craveirinha e do maestro Justino Chemane.
Existem pessoas que não estão nessa Praça, cujo estatuto foi, certamente, considerado menos relevante ou menos decisivo, mas que têm os seus nomes em ruas e em praças provinciais do país.
4. A luta política na produção de heróis
SAVANA 1029d

O poeta José Craveirinha (na imagem) e o Maetro Justino Chemane são duas pessoas que não _ zeram directamente a caminhada da luta armada de libertação nacional, mas cuja grandeza e cuja luta levaram a Frelimo a dar-lhes o estatuto de heróis.

A produção de heróis é, sempre ou quase sempre, um laborioso processo histórico de luta, de catalogação, de etiquetagem, de defesa de lugares adquiridos, de valores primeiros.
A esse propósito, lembrei-me de um livro fascinante, escrito por Norbert Elias em parceria com John Scotson, que, na versão inglesa, tem o título “Os estabelecidos e os intrusos” e, na versão francesa, o título “Lógicas da exclusão”.
Nesse livro, Elias e Scotson mostraram como, no fim dos anos 50 do século passado, numa cidade inglesa de periferia, os aí chegados em primeiro lugar produziam e reproduziam a exclusão social dos novos chegados, como os catalogavam, como os rejeitavam, como se esforçavam permanentemente para assegurar os seus privilégios, como segregavam o que, no seu prefácio à obra, o sociólogo francês Michel Wieviorka chamou “racismo sem raça” [2].
Tenho para mim que estamos perante uma excelente grelha teórica para analisarmos a produção política de heróis em Moçambique.
Com efeito, estamos hoje confrontados com o fenómeno de termos a gestão do panteão oficial de heróis - a cargo da Frelimo, ganhadora da independência nacional, gestora do Estado -, disputada e posta em causa por uma outra candidata à produçãode heróis, a Renamo, pedra angular de uma guerra sangrenta de muitos anos [3]que reclama ser a autora da democracia multipartidária em curso no país.
A Frelimo entende que apenas ela está em condições de produzir os heróis nacionais pois foi a criadora da Nação, é a gestora natural do Estado, tem a legitimidade absoluta da história. A Frelimo entende que qualquer produção fora desse perímetro é um atentado à história, à verdade. Por isso impugna violentamente a ousadia da Renamo.
Por sua vez, a Renamo, que disputa a gestão do Estado e se reclama da criação da democracia nacional, entende que tem também o direito de disseminar, de moçambicanizar os seus heróis, de lhes dar um estatuto paritário, de legitimidade nacional.
Muito provavelmente, um partido mais jovem, filho rebelde da Renamo, o Movimento Democrático de Moçambique, abrirá também, no futuro, uma frente de heróis, tentando triunviratizar a legitimidade na produção nacional desse tipo de recursos políticos.
Temos, então, uma nova “guerra”, desta vez não com metralhadoras, mas com heróis, uma guerra pela produção e pelo controlo político desse importante recurso de poder.
A atribuição em 2008 do nome de André Matsangaíssa à rotunda 2314, situada no Bairro da Munhava, arredores da cidade da Beira – na altura municipalmente gerida pela Renamo [4] -, é um exemplo claro de uma primeira brecha aberta no monopólio frelimiano de gestão de heróis, é um exemplo do prosseguimento da guerra agora pelo controlo da toponímia.
A “Winston Parva”, a pequena cidade do livro de Elias e Scotson, é, afinal, o nosso pleno Moçambique.
5. A política é a medida de todos os heróis
Situadas na interface entre o individual e o colectivo, o racional e o impulsional, o consciente e o inconsciente, o imaginário e o discursivo, as representações sociais aqui em vista são fortemente tributárias da forma como os grupos políticos se inscreveram na história do país e nela tatuaram e tatuam os seus modelos, os seus guias de referência, os seus heróis epónimos, os seus valores, os seus clichés, os seus prejuízos e os seus estereótipos.
Os heróis moçambicanos não são, portanto, livres de descansarem nas suas tumbas quando em jogo está a sua reprodução ou a sua reactivação política.
Eles são duramente produzidos e reproduzidos.
Por consequência, não há heróis em si, à partida. O que em vida foram certas pessoas é o que queremos que sejam, no molde das nossas exigências de virtude, proeminência e legitimidade.
A politização da alteridade, a heroicização ou a diabolização, são partes constituivas da forma como construímos a visibilidade de quem amamos ou odiamos.
O poli-heroísmo está definitivamente instalado e será sempre, por hipótese, monitorado pela luta política. 
Se o homem é a medida de todas as coisas, a política é a medida de todos os heróis.
[2] Elias, Norbert and Scotson, John L.,  Logiques de l’exclusion. Paris: Fayard,1997.
[4] A gestão da cidade da Beira está a cargo de Deviz Simango desde 2003: nesse ano eleito presidente do município concorrendo pela Renamo, repetiu a proeza em 2008 como independente, após ter sidio expulso daquele partido. Em 2009 fundou o Movimento Democrático de Moçambique.
SAVANA – 27.09.2013