sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Há Falsos Guias para o Desenvolvimento dos Países

Tal como na vida do quotidiano; há falsos cicerones. Tendo que ir à casa de uma minha tia, prima do meu pai, no período da minha pré-adolescência, precisei de um guia. A casa da minha tia localizava-se a uma distancia considerável do local onde eu morava, em Madzukane. Conhecendo mal os sendeiros da terra, por passar mais tempo no Xai-Xai, onde fiz todo o ensino primário, o meu pai aconselhou-me que passasse da casa de um seu sobrinho, seu Xará, um rapagão que acabava de regressar da sua primeira viagem às minas da África do Sul.
Ao longo do caminho, o meu primo comunicou-me que, porque ainda cedo, poderíamos passar da casa de uns amigos seus. Lá nos desviamos e entramos numa casa onde, jovens da sua idade, se deliciavam sorvendo uma aguardente caseira, feita de “massala”, de que todos eles eram notórios apreciadores. O meu primo foi convidado a integrar a roda, através da qual circulava um vasto copo, repleto do inebriante “sope”, nome porque é conhecida naqueles locais a apreciada aguardente.
Eu, entretanto, entretive-me a apreciar como Amerikwane, o individuo encarregue de encher o copo, servia aos outros, de maneira transparente, mostrando a todos até que medida igualitária havia servido a bebida. Notei que a regra de transparência era esquecida quando chegava a vez de Amerikwane se servir. Neste ultimo caso, ele rodeava o imenso copo com quatro dos dedos da mão esquerda, para que os outros convivas não notassem que o havia enchido até ao limite. Não sei porque artes de magia, naquela zona de Madzukane, o Amerikwane calhava sempre naquelas privilegiadas funções.
Não há que dizer que foi à força de habilidades e de sorte que logrei que eu e o meu primo chegássemos à casa da minha tia, esquivando milagrosamente do caminho das nossas bicicletas os numerosos cactos espinhosos e as micaias que bordejavam o estreito caminho. O guia se emborrachara miseravelmente e revelava-se inapto para indicar qualquer caminho.
Aqueles factos da minha meninice me vêm à memoria quando escuto conselhos dos nossos “parceiros” sobre como poderíamos alcançar o progresso dos nossos países. Sobretudo quando esses “conselhos” se tornam repetitivos em torno de palavras ocas como “boa governação”, “corrupção”, “transparência” e outras que tais, esquecendo convenientemente uma questão de peso, como a dos fluxos ilícitos de capitais. Quando esses “parceiros” falam de “transparência” lembram-me, estranhamente, o Amerikwane servindo o “sope” com grande transparência, excepto quando chegava a vez dele próprio se servir...
Os fluxos ilícitos de capitais, na África Subsaariana, foram estimados, em 2013, como estando próximos dos USD70 biliões, representando 6,1% do seu PIB. No mesmo período, o subcontinente recebeu perto de USD56 biliões de contribuições de países e organizações multilaterais, na forma de ajudas ao desenvolvimento. Constata-se, claramente, que a se haver abordado com o sucesso o desafio dos fluxos ilícitos de capitais, a África Subsariana não precisaria de qualquer forma de ajuda dos países desenvolvidos.
Na verdade, não existe corrupção mais prejudicial ao nosso desenvolvimento que os fluxos ilícitos de capitais propiciados, maioritariamente, por companhias multinacionais. A facturação fraudulenta, quer na forma de subfacturação, como na forma de sobrefacturação, foi tida como a componente mais expressiva dos fluxos financeiros ilícitos com origem nos países em desenvolvimento, representando 83.4% de todos os fluxos. Isto significa que qualquer esforço de lidar com o empobrecimento de países como o nosso deve ter em conta este aspecto.
No caso de Moçambique, estudos revelam que os fluxos ilícitos brutos acumulados, provenientes da adulteração de facturas comerciais, totalizaram USD 5,27 mil milhões no período de nove anos entre 2002-2010. Os fluxos ilícitos anuais médios foram de USD 585 milhões, representando a enorme proporção de 8,9 por cento do PIB anual médio ao longo do mesmo período. Uma parte substancial destes fluxos ilícitos toma forma na sobrefacturação de bens e serviços importados, como sejam:
a. Assistência técnica – neste item, o país tem estado a pagar preços empolados em fornecimentos como pessoal expatriado em serviço nas empresas, hardware e software informático e outros serviços. O facto de a assistência técnica estar, muitas vezes, a ser fornecida pelas empresas matrizes estrangeiras facilita sobremaneira estas ilicitudes;
b. Matérias primas e equipamentos – de novo, o facto de estes bens estarem, em muitos casos, a serem fornecidos pelas empresas matrizes facilita, em grande medida o facto de o país estar a pagar duas ou três vezes mais o preço de um determinado bem.

A subfacturação toma forma:
i. Na subdeclaração das quantidades exportadas
ii. Na subclassificação dos bens exportados
iii. Na indicação de um preço inferior ao do mercado

Se considerarmos que o país, depois de 2010, incrementou as suas exportações de carvão e gás e que a importação de bens e serviços para servir essas industrias tem estado, também, a crescer, fica clara a necessidade de garantir que os sistemas de controlo existentes são suficientes para gerir este crescimento, e para responder ao desafio de reduzir a adulteração de facturas. Caso contrario, o volume dos fluxos ilícitos brutos será incontrolavelmente alto, o que perpetuará o nosso atraso económico relativo.
Abordar a questão dos fluxos ilícitos de capitais, talvez a maior causa do subdesenvolvimento de países como o nosso, é, inquestionavelmente, uma tarefa complexa. O foco deverá, contudo, ser o de garantir que bens importados ou exportados sejam registados com um valor baseado no seu preço de mercado efectivo. E, também, garantir que não haja subdeclaração e subclassificação das exportações e não haja sobredeclaração e sobreclassificação das importações.
Haverá, em primeiro lugar, que avaliar a legislação que regula o comercio exterior, incluindo o das commodity como carvão, gás e petróleo, para determinar se não seria necessário criar e/ou agravar as leis que criminalizam especificamente a sobre ou subfacturação comercial com o fim de sonegar receitas em divisas, sonegar impostos ou evitar o pagamento de tarifas ou para contornar controles de lavagem de dinheiro. Talvez haja que instituir que os importadores e exportadores (ou despachantes aduaneiros) assinem declarações indicando que as quantidades, qualidade e preços indicados nas declarações de importação/exportação são precisos e honestos. A possibilidade de cassação da licença do despachante aduaneiro, por exemplo, em caso de fraude provada, pode ter um efeito dissuasivo poderoso.
Em segundo lugar, as declarações de importação/exportação devem ser equiparadas às normas a que estão sujeitos os contabilistas. A detecção e identificação da sobrefaturação e/ou subfacturação comercial devem ser incorporadas às práticas contabilísticas e de auditoria de aceitação geral usadas em Moçambique. Auditores de empresas de importação ou exportação devem ser capacitados para identificar transações suspeitas e verificar se foram adequadamente facturadas. Tanto gestores como auditores de empresas moçambicanas envolvidos no comércio internacional devem ser obrigados a assinar declarações nas contas anuais dessas empresas certificando que todas as transações foram facturadas de acordo com a legislação. Como acontece com as declarações de importação/exportação, essas declarações simples aumentariam a responsabilidade pessoal e a responsabilização pelas decisões de preços dessas empresas, dissuadindo condutas intencionalmente fraudulentas.
Em terceiro lugar, o país deve, muito rapidamente, constituir uma base de dados alargada sobre preços do mercado mundial, pelo menos dos bens e serviços mais importantes no seu comercio internacional. Essa base de dados deve ser acessível aos oficiais da autoridade tributária que lidam com matérias de importação/exportação, dando-lhes a possibilidade de que possam facilmente comparar os valores declarados de importações/exportações. Deverão, adicionalmente, poder solicitar documentação adicional sempre que seja necessário
Por ultimo, a ao nível das negociações multilaterais (com pressão conjunta dos países subdesenvolvidos vitimas dos fluxos ilícitos de capitais) dever-se-ia avançar no sentido de forcar as companhias multinacionais a publicarem as suas receitas, lucros, perdas, vendas, impostos pagos, empresas subsidiarias, emprego e salários, país por país. Esta provisão permitiria testar o nível de transparência das suas operações. E todos os países deveriam participar num amplo movimento orientado para a partilha automática de informação fiscal. Entidades que recusassem estas praticas deveriam ser consideradas não credíveis para pronunciar palavras ocas como “corrupção”, “boa governação’ ou “transparência”.
Caso não se transponham os cactos e micaias que tolhem o nosso desenvolvimento e, sobretudo, caso se continue a ignorar as questões de subfacturação/sobrefaturação que, verdadeiramente, condicionam o nosso desenvolvimento, estaremos a seguir falsos guias, que inventaram palavreado sonoro e apelativo para nos distrair. São como guias falsos que não nos conduzem a sitio nenhum.
In Revista Negócios de Dezembro
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Mouzinho Zacarias Amigo, Gabriel Matisse, está na hora de estampar essas memórias em livro.
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Eduardo Domingos Interessante e desafiante. Tentemos ser resilientes a palavreado sonoro e apelativo para nos distrair.
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Egidio Vaz Excellent piece. Este e tantos outros temas em que os tipos como Amerikwane estão envolvidos são praticamente ocultados do debate público. Recordo por exemplo, dos depósitos ilícitos de alguns dirigentes no estrangeiro. É Moralmente dissonante guardar dinheiro ilícito e patrocinar internamente o barulho de corrupção, a não ser que os Amerikwanes também sejam parte do esquema. Mas como dissera Nobert Elias, a difusão das ideias é igualmente um projecto político
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Adriano Nhamona Os ditos países ricos sempre nos "comeram". Vamos ver bem, desde a colonização que nos tiram o direito ao usufruto das nossas riquezas, em seu benefício, até os dias de hoje com todas as artimanhas descritas no artigo supra. Parabéns amigo Gabriel Muthisse pela reflexão. Abraços.
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Fernando Costa Sob pena de poder ferir susceptibilidades eu sou de outra opinião. . Não são os países. São os investidores externos individuais com a complacência das leis locais.. Em muitos casos oferecemos mais do que aquilo que eles esperam. .
E eu sei do que falo. Trabalho diariamente com o assunto. Muitas vezes até doi a alma...
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Gabriel Muthisse Há muitos factores em jogo, em minha opinião. Em primeiro lugar, os países de origem das empresas que investem nos bancos, nos seguros, no carvão, no gás, no petróleo, nos alumínios, nas areias pesadas e em outros sectores não se opõem a estas práticas de transferências ilícitas de capitais. Os países ocidentais ganham com estas práticas. Estamos a falar de biliões de dólares. Os países de origem das multinacionais têm instrumentos, instituições e capacidades para parar essas práticas. Não o fazem porque não está no seu interesse.

Como casos como o da Embraer mostram, em situações em que as empresas do "Centro" saem "prejudicadas", os países ocidentais agem com muito vigor. E logram forçar países como o Brasil ou Moçambique a agirem também. Mas só se age nestes casos.

Em segundo lugar, os nossos países têm instituições muito fracas. Na forma de agentes do Estado mal formados, mal pagos e insuficientes. O Fiscal do Estado que deve supervisar a classificação e a quantificação, digamos, do camarão a exportar, ganha 15.000 meticais (menos de 500 dólares) e, além disso, é mal formado. Nestas circunstâncias, não deve ser difícil, digamos, convence-lo a subclassificar ou a subdeclarar o produto a exportar. Quem diz camarão diz carvão, gás, petróleo, areias pesadas...

Em terceiro lugar, há fraca coordenação interinstitucional (Ministério de tutela, alfândegas, Banco de Moçambique, Representaçoes comerciais do país no estrangeiro...). Na maioria dos casos, cada instituição não conhece as preocupações e desafios das outras.

Tudo isto só para mostrar alguns dos desafios de países como o nosso.
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Fernando Costa Gabriel Muthisse mas os representantes do Estado na Mozal são bem pagos. E não é por isso que o investidor deixa de ser ele a vender á fabrica em Moçambique toda a matéria prima e ser ele a comprar todo o produto final a um preço que nada tem a ver com o preço de mercado internacional.. A mais valia que aqui fica é calculada apenas para pagar os custos de produção e no final do ano dar um lucro pequeno. E não dou mais exemplos porque ..
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Gabriel Muthisse Fernando Costa, não falo dos administradores (que este é outro problema. Muitos deles só vão às empresas de que são membros dos órgãos sociais para receber as senhas mensais de presença). Falo dos fiscais colocados nos portos de exportação. Ou dos alfandegários...
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Adriano Nhamona Caro Fernando Costa a minha intenção não é ferir quem quer que seja. Quero lembrar que qualquer indivíduo, empresa ou melhor organização está coberto por um regime social, político, económico e, vou discriminar, legal. Ninguém age num ambiente livre tanto na origem bem como no destino. Este é o suporte da expressão utilizada, países. A discussão pode ser longa mas lembre—se da génese da regulação ou regulamentação e suas teorias logo verá as ligações existentes entre os governos, indivíduos e os países dirigidos por aqueles....
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Adriano Nhamona Vamos esquecer os representantes do Estado para esta conversa. Eu não conheço o papel destes e para os casos que conheço é mesmo zero...não vou citar as empresas mas o mais importante foi dito no comentário anterior do Gabriel Muthisse...
Sergio Padeiro Caramba (desculpa o termo) este texto é muito profundo demais para ser lido na correria. Voltarei a le-lo mais tarde com mais vagar para melhor saborea-lo. Parabens kota Gabriel Muthisse
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Cri Essencia Saberei ler este post e estudar tema tão interessante.
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Mussagi Cassamo Caro Gabriel Muthisse li cuidadosamente o seu tema e deixa me informar que o Governo aprovou a lei 70/2017 de 06 de Setembro com vista a regulamentar está matéria, a qual designou regime de preços de Transferências, que visa regular transações entre partes relacionadas.
Relativamente a questão das bases de dados dos comparáveis ao qual o Gabriel se refere o decreto em causa já trás as no seu artigo 9, No geral são 3 as empresas que prestam este serviço dentre as quais a Orbis, a Moodys, de realçar que não existe uma base de dados Africana que possa servir de base nessa comparação de transações.
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Gabriel Muthisse Caro Mussagi Cassamo, ter uma lei é um aspecto, muito marginal do problema. Há muitos outros aspectos, muito mais complexos, do que o acto de elaborar e aprovar uma lei
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Mussagi Cassamo Gabriel Muthisse percebo a sua abordagem, mas o que está a qui em causa do ponto de vista técnico legal é uma questão de Planeamento Fiscal, e no caso em questão de acordo com a sua descriminação Planeamento Fiscal abusivo, ora só uma norma anti- abuso pode travar estes excessos.
Na segunda parte do tua dissertação o Gabriel refere-se a questão dos comparáveis para obtenção dos preços de Plena Concorrência, estou a utilizar os termos do Decreto 70/2017, ora só se pode provar o preço de Plena Concorrência por via do benchmarking e neste caso concreto em Africa não há registo destes comparáveis.
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Gabriel Muthisse Há muitos factores em jogo, em minha opinião. Em primeiro lugar, os países de origem das empresas que investem nos bancos, nos seguros, no carvão, no gás, no petróleo, nos alumínios, nas areias pesadas e em outros sectores não se opõem a estas práticas de transferências ilícitas de capitais. Os países ocidentais ganham com estas práticas. Estamos a falar de biliões de dólares. Os países de origem das multinacionais têm instrumentos, instituições e capacidades para parar essas práticas. Não o fazem porque não está no seu interesse.

Como casos como o da Embraer mostram, em situações em que as empresas do "Centro" saem "prejudicadas", os países ocidentais agem com muito vigor. E logram forçar países como o Brasil ou Moçambique a agirem também. Mas só se age nestes casos.

Em segundo lugar, os nossos países têm instituições muito fracas. Na forma de agentes do Estado mal formados, mal pagos e insuficientes. O Fiscal do Estado que deve supervisar, a classificaçã e a quantificação, digamos, do camarão a exportar, ganha 15.000 meticais (menos de 500 dólares) e, além disso, é mal formado. Nestas circunstâncias, não deve ser difícil convence-lo a subclassificar, ou a subdeclarar o produto a exportar. Quem diz camarão diz carvão, gás, petróleo, areias pesadas...

Em terceiro lugar, há fraca coordenação interinstitucional (Ministério de tutela, alfândegas, Banco de Moçambique, Representaçoes comerciais do país no estrangeiro...). Na maioria dos casos, cada instituição não conhece as preocupações e desafios das outras.

Tudo isto só para mostrar alguns dos desafios de países como o nosso.
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António Cipriano Gonçalves Muito bem dito Gabriel Muthisse. Tem de haver uma sugestão de um ponto de partida. Entre a complexidade de factores, eu julgo que o humano é preponderante para ambos os lados da equação: o Ocidente e o mundo Sul. Como vencer este factor? O Ocidente conhece as fragilidades humanas nossas e trabalham com base nesse conhecimento. Arrisco-me a dizer que o Ocidente patrocina a corrupção nessa matéria. Mas exige transparência e combate à corrupção ao mesmo tempo. Estaremos diante de uma hipocrisia difícil de contorna-la?
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Gabriel Muthisse António Cipriano Gonçalves, vai ver um comentário que fiz por aí, sobre a complexidade da questão institucional. Mas, para facilitar, vou copia-lo para aqui
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Gabriel Muthisse Júlio Mutisse, o debate sobre a capacidade institucional será, quiçá, dos mais complexos em relação a esta matéria. Complexo porque lembra o debate sobre o que vem primeiro, se o ovo ou a galinha.

Somos pobres e, por isso, não podemos pagar bem aos funcionários públicos. Temos funcionários públicos desmotivados e, por isso apáticos, e deixam passar todas as ilicitudes que nos tornam pobres.

Não há dúvida de que, quando pagas mal, dificilmente recrutas e reténs os melhores. Isto é assim em todas as organizações, sejam públicas ou privadas.

Podendo haver motivos objectivas para todas as austeridades deste mundo, não deixo contudo de pensar que a INSISTÊNCIA dos nossos "parceiros" em que se pague cada vez menos aos professores, aos enfermeiros, aos juízes e a todos os funcionários não está no melhor interesse dos nossos países. Nenhum país se vai construir com professores na miséria. Ou com fiscais de pesca, para mencionar os que conheço bem, na miséria.

Que fiscalização pesqueira se realiza quando os fiscais ganham um salário que não dá para lhes sustentar? Quando isto acontece, tens um corredor aberto por onde passam todas as ilicitudes que prejudicam os nossos países.

Talvez países como Moçambique precisem de um plano Marshall que torne relevante o seu serviço público. Estou só a delirar
José Jaime Macuane Parabéns, caro Dr. Gabriel Muthisse. Esse nome Amerikwane é mesmo oportuno (é original?). Ainda existem "as corrupções" das empresas internacionalizadas da periferia que quando descobertas nas praças financeiras globais, em nome da transparência, resultam em pesadas multas para as empresas envolvidas que vão aos cofres "do centro". As brasileiras Oderbrecht e a Petrobrás que o digam.
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Júlio Mutisse A única coisa que sei é que quando for a Madzukane vou delatar um delator kkk
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Gabriel Muthisse Pois, José Jaime Macuane. Pena é que se preste pouca atenção a esta vertente da "corrupção". Não há nada que prejudique mais os nossos países que isto. Para nos distrair, vendem-nos um conjunto de palavras ocas que nós repetimos com vozes esganiçadas, quais papagaios amestrados.
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Gabriel Muthisse Há muitos factores em jogo, em minha opinião. Em primeiro lugar, os países de origem das empresas que investem nos bancos, nos seguros, no carvão, no gás, no petróleo, nos alumínios, nas areias pesadas e em outros sectores não se opõem a estas práticas de transferências ilícitas de capitais. Os países ocidentais ganham com estas práticas. Estamos a falar de biliões de dólares. Os países de origem das multinacionais têm instrumentos, instituições e capacidades para parar essas práticas. Não o fazem porque não está no seu interesse.

Como casos como o da Embraer mostram, em situações em que as empresas do "Centro" saem "prejudicadas", os países ocidentais agem com muito vigor. E logram forçar países como o Brasil ou Moçambique a agirem também. Mas só se age nestes casos.

Em segundo lugar, os nossos países têm instituições muito fracas. Na forma de agentes do Estado mal formados, mal pagos e insuficientes. O Fiscal do Estado que deve supervisar a classificação, digamos e a quantificação, digamos, do camarão a exportar, ganha 15.000 meticais (menos de 500 dólares) e, além disso, é mal formado. Nestas circunstâncias, não deve ser difícil convence-lo, digamos, a subclassificar ou a subdeclarar o produto a exportar. Quem diz camarão diz carvão, gás, petróleo, areias pesadas...

Em terceiro lugar, há fraca coordenação interinstitucional (Ministério de tutela, alfândegas, Banco de Moçambique, Representaçoes comerciais do país no estrangeiro...). Na maioria dos casos, cada instituição não conhece as preocupações e desafios das outras.

Tudo isto só para mostrar alguns dos desafios de países como o nosso.
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Júlio Mutisse A fraqueza das nossas instituições é evidente. Há quem, por exemplo, se empolgue com a actual musculatura aparentemente mostrada pelA INAE... não é a instituição que está forte é quem a dirige que ee dinâmica e cairá no mesmo marasmo em que estava tão logo a senhora saia dali.
Mas não podemos nos contentar apenas com o reconhecimento da fraqueza das nossas instituições; temos que nos indagar sobre o que é que as torna fracas (não acredito que seja falta de gentr competente, no exemplo da INAE provavelmente só a senhora é nova, mas está ali a correr e a fazer parte do seu trabalho) e o que deve ser feito para as fortalecer.
Não podemos ficar muito tempp neste diacurso da fraqueza institucional. Quem consegue fazer a FRELIMO uma instituição sólida com princípios de funcionamento que independem de quem lá está pode fazer fortes as instituições do Estado também. Não estou a falar do vazio que é "vontade política" que nem sei o que ee... estou a falar da capacidade das pessoas que fazem e fizeram a instituição FRELIMO que são as mesmas que dirigem os destinos do Estado e que confio terem competência para fazerem órgãos do Estado fortes e funcionais
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Delfim Jr de Deus Gabriel Muthisse tenho uma repulsa especial no sector bancário , sentindo que nós os pobres, andamos a sustentar os Bancos Matrizes, sobretudo na Europa . Pagamos taxas de juro de 27 a 32 % , lá na matriz não se chega ao 4%
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Júlio Mutisse Delfim Jr de Deus o que propicia as taxas de juro altas em Moz? E lá? São dois cenários completamente diferentes. Contam me que há países com taxas de juro negativas...
Isto dito não é por ai que o fenómeno aue se discute aqui ocorre...
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Gabriel Muthisse Júlio Mutisse, o debate sobre a capacidade institucional será, quiçá, dos mais complexos em relação a esta matéria. Complexo porque lembra o debate sobre o que vem primeiro, se o ovo ou a galinha.

Somos pobres e, por isso, não podemos pagar bem aos funcionários públicos. Temos funcionários públicos desmotivados e, por isso apáticos e deixam passar todas as ilicitudes que nos tornam pobres.

Não há dúvida de que, quando pagas mal, dificilmente recrutas e reténs os melhores. Isto é assim em todas as organizações, sejam públicas ou privadas.

Podendo haver motivos objectivas para todas as austeridades deste mundo, não deixo contudo de pensar que a INSISTÊNCIA dos nossos "parceiros" em que se pague cada vez menos aos professores, aos enfermeiros, aos juízes e a todos os funcionários não está no melhor interesse dos nossos países. Nenhum país se vai construir com professores na miséria. Ou com fiscais de pesca, para mencionar os que conheço bem, na miséria.

Que fiscalização pesqueira se realiza quando os fiscais ganham um salário que não dá para lhes sustentar? Quando isto acontece, tens um corredor aberto por onde passam todas as ilicitudes que prejudicam os nossos países.

Talvez países como Moçambique precisem de um plano Marshall que torne relevante o seu serviço público. Estou só a delirar
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Delfim Jr de Deus Gabriel Muthisse desde 1986 que sonho com o plano “Marshall” para o nosso país
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Gabriel Muthisse Pois, Delfim Jr de Deus. E os lucros fabulosissimos que fazem são ilicitamente transferidos na forma de assistência técnica, por exemplo. Se lograssemos controlar as transferências ilícitas de lucros de praticamente todos os bancos, eles apresentariam lucros mais espantosos do que os que vemos aqui. Os lucros que os seus balanços apresentam são amendoins
Fernando Costa Parabéns Gabriel Muthisse... Finalmente alguém com algum peso aborda este assunto de forma clara....
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Jaime Langa Amerikwane é mesmo original. Hoje por duas vezes fui chamado Amerikwane por leitores da Revista Negocios. Foi agradavel sentir o pulsar que a Revista proporciona. Obrigado mano GabrielMuthisse pela força. É deste tipo de colunistas que a Revista se orgulha.
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Mebanze Joao Conheco muitos AMERIKWANEs KKKKKKKKK
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Pedro Comissario Excelente artigo. Rigoroso mas claro, compreensível e convincente!
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Sofia Meneses Dias Cassimo Texto sóbrio e de uma assertividade incrível. Foi um gosto ler logo pela manhã. Não podia concordar mais principalmente com as.palavras ocas.
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Gabriel Muthisse Júlio Mutisse, o debate sobre a capacidade institucional será, quiçá, dos mais complexos em relação a esta matéria. Complexo porque lembra o debate sobre o que vem primeiro, se o ovo ou a galinha.

Somos pobres e, por isso, não podemos pagar bem aos fu...See More
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Raul Junior Gabriel Muthisse cientista por excelenciA. Suas abordagens sao pecas de e para aprendizagem
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Wilson Assumane Quando você planta uma mangueira e os ramos crescem para o lado do vizinho
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Gabriel Muthisse Teria sido um belíssimo título. Próxima vez te consulto a propósito
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Wilson Assumane Eis me aqui para o der e vier
Raul Junior Este discurso 'e muito elaborado!!!

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