quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Alunos da escola alvo de tiroteio na Florida julgavam tratar-se de um simulacro


GETTY IMAGES

Nikolas Cruz, o autor do massacre, antigo aluno do Marjory Stoneman Douglas e entretanto detido, entrou no liceu e puxou o alarme de incêndio “para que os alunos saíssem das salas de aulas para o corredor”. Matou 17 pessoas

Os ativistas contra a proliferação de armas nos Estados Unidos já lembraram: o massacre que esta quarta-feira aconteceu em Parkland, na Florida, “é o 291.º tiroteio numa escola desde o princípio de 2013”. Mais 17 mortes a somar ao saldo das vítimas mortais em incidentes do género, desta vez às mãos de Nikolas Cruz, 19 anos, um antigo aluno do estabelecimento escolar a que voltou com a pior das intenções.
Contam esta manhã os media norte-americanos que, ao soar o alarme, os estudantes do liceu Marjory Stoneman Douglas pensaram tratar-se de mais um simulacro de incêndio, idêntico ao que tinham feito horas antes. Voltaram a dirigir-se aos corredores e foi nessa altura que, segundo a polícia, Cruz, equipado com uma máscara de gás, granadas de fumo e cartuchos de munições, abriu fogo com uma arma semiautomática, disparando indiscriminadamente.
Identificado anteriormente como uma ameaça potencial para os outros alunos, o autor do tiroteio esteve envolvido em vários desacatos no passado, o que levou à sua expulsão por problemas disciplinares, adiantou a polícia, que disse também ter encontrado conteúdos “muito perturbantes” quando procurou publicações de Cruz nas redes sociais. Fontes do Pentágono citadas pela agência France Presse asseguraram que realizou um programa de treino militar júnior.
“O nosso distrito vive um tremendo estado de tristeza”, disse Robert Runcie, superintendente do distrito escolar em Parkland , a cerca de uma hora de carro a norte de Miami. “É um dia horrível para nós”.
As autoridades não deram detalhes imediatos sobre o eventual motivo deste ataque, ocorrido numa escola que tem cerca de 3000 alunos. Estudantes que o conheciam descreveram Cruz como um adolescente volátil, cujo comportamento estranho afastava mesmo quem dele tentava ser amigo.
Adotado (tal como o seu irmão biológico) por um casal quando este se mudou de Long Island, em Nova Iorque, para o condado de Broward, a mãe de Cruz morreu de pneumonia no passado dia 1 de novembro, disseram amigos e familiares do jovem ao “Sun Sentinel”. O marido morrera antes, há já vários anos, de ataque cardíaco.
Após a morte de Lynda Cruz, os irmãos foram deixados ao cuidado de um amigo da família, mas, infeliz, Nikolas terá pedido para se mudar com a família de um amigo, que aceitou. O advogado desta família, que não foi identificada, adiantou que era do seu conhecimento o facto de Nikolas Cruz possuir uma arma AR-15, mas o jovem estava obrigado a mantê-la trancada num armário.
Segundo o relato das autoridades, o autor do massacre foi levado para a prisão, cerca de uma hora após o tiroteio, sem oferecer resistência.
Os pais, assustados, acorreram à escola e encontraram elementos da força especial de intervenção, ambulâncias à volta do campus e membros das equipas de emergência que pareciam estar a tratar os feridos na rua.
Os alunos que permaneceram no interior dos edifícios começaram a sair em fila, com as mãos sobre as cabeças, assim que a polícia pediu para o espaço ser evacuado.
Assim que ouviram os disparos, muitos estudantes esconderam-se sob as secretárias ou armários e barricaram as portas.
“Estávamos na esquina, longe das janelas”, afirmou o caloiro Max Charles, que disse ter ouvido cinco tiros. “O professor trancou a porta e desligou a luz. Achei que podia morrer”.
Quando Max saiu do prédio, viu quatro estudantes e um professor mortos. O jovem contou que apenas ficou aliviado quando encontrou a sua mãe. “Fiquei feliz por estar vivo”, disse Max. “Ela estava a chorar quando me viu”.
Noah Parness, um jovem de 17 anos, disse que ele e os outros estudantes saíram calmamente para suas áreas de 'fuga de fogo', julgando ser um simulacro, quando de repente ouviu os sons dos tiros. “Nós vimos um monte de professores a correr pela escada e todo mundo mudou e entrou noutra velocidade”, disse Parness.
A maioria dos mortos estava dentro do edifício, embora algumas vítimas tenham sido abatidas no exterior, disse o xerife.
O senador Bill Nelson disse à CNN que Cruz havia puxado o alarme de incêndio “para que os alunos saíssem das salas de aulas para o corredor”.
A cena foi como que uma reprodução do ataque de Newtown, que chocou um país onde os tiroteios nas escolas são regulares. O assalto de 14 de dezembro de 2012 à escola primária Sandy Hook matou 26 pessoas: 20 alunos do primeiro ano e seis membros do 'staff'. O homem armado de 20 anos, que também tinha matado a mãe, acabou por se suicidar.
A escola deverá ficar encerrada o resto da semana.

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