terça-feira, 17 de abril de 2018

Acabou o acordo de paz no PSD entre Pedro Santana Lopes e Rui Rio




Santana Lopes diz que desde o congresso do PSD, em fevereiro, nunca mais houve trabalho em conjunto com Rui Rio


Nomes indicados por Santana ficaram fora da equipa de 32 coordenadores e porta-vozes do Conselho Estratégico. Falta de debate interno dos acordos com o governo também suscita críticas
"Confirmo que não tem havido trabalho em conjunto", reconheceu esta terça-feira à noite Pedro Santana Lopes à SIC Notícias, quando questionado se está em "rota de colisão" com Rui Rio. "Na verdade, nem se pode chamar rutura, pois nunca houve sequer um casamento", sublinhou ainda, acrescentando que "desde o congresso do PSD, durante o qual se tentou algum trabalho em conjunto na elaboração das listas, nada mais existiu".
A gota de água foi o anúncio da equipa de coordenadores e porta-vozes do Conselho Estratégico Nacional (CEN), o novo organismo do partido, onde não consta qualquer um dos nomes apontados por Santana. O ex-líder social-democrata deu como exemplo o nome do embaixador Martins da Cruz e de Vítor Rosário Cardoso, cuja inclusão no Conselho Estratégico "tinha ficado acordada" e nada aconteceu. "O líder do PSD tem que seguir o seu caminho", frisou. Negou, no entanto, que que tivessem intenção de liderar um movimento de oposição interna: "Não posso, nem quero. Tenho uma vida muito ocupada e, sinceramente, já dei para esse peditório", assinalou.
De acordo com João Montenegro, ex-diretor de campanha de Santana Lopes, o acordo estabelecido no congresso entre as duas candidaturas à liderança do PSD contemplava a integração de nomes indicados pelo candidato vencido (com 45,6% dos votos), quer no Conselho Nacional do partido, quer no Instituto Sá Carneiro e no Conselho Estratégico Nacional (CEN) - os nomes "foram viabilizados pelo dr. Rui Rio e pelo dr. Salvador Malheiro". "Ficámos espantados por nenhum desses nomes indicados por nós ter integrado os porta-vozes e coordenadores" do CEN, sublinha o antigo secretário-geral adjunto, apontando uma "quebra do acordo celebrado".
"Todos cabem no PSD"
Mas este não é o único ponto prestes a abrir uma rutura entre Santana e Rio, ontem avançada pelo jornal i. João Montenegro questiona que os acordos que o PSD se prepara para assinar hoje com o governo - sobre fundos europeus e descentralização - não tenham sido levados a discussão no Conselho Nacional do partido: "A direção nacional toma o seu caminho e, em áreas tão importantes como estas, não ausculta os principais órgãos".
Salvador Malheiro, vice-presidente do PSD, confirma ao DN que o acordo firmado no congresso de fevereiro prevê nomes próximos de Santana para o CEN, mas garante que a composição desta estrutura está longe de estar fechada e que o compromisso assumido "será honrado". Ou seja, os nomes apontados por Santana serão integrados, mas ainda não está definido em que equipas do CEN. "Tenho o máximo respeito pela atitude que a equipa do dr. Santana Lopes assumiu no congresso, o acordo é para cumprir, eu honro a minha palavra", diz o dirigente social-democrata, defendendo que "toda a gente cabe neste PSD".
Em jeito de despedida, Pedro Santana Lopes desejou, no seu comentário na SIC, que Rio tivesse "sucesso" com o novo Conselho Estratégico Nacional. "Ele próprio sabe que é difícil. Disse que se triunfasse seria uma revolução".

Santana nega ruptura com Rio. Mas confirma afastamento

Sobre a sua relação com o líder social-democrata o ex-primeiro-ministro e antigo presidente do partido diz que não se pode dizer que houve “ruptura” entre pessoas que nunca estiveram “entrelaçadas”. Menezes critica Rio pelos acordos com Governo.
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Pedro Santana Lopes diz que não desmente a ruptura com Rui Rio que foi noticiada nesta terça-feira e confirma o afastamento entre os dois desde o congresso. “Não temos trabalhado. Não tem acontecido nada em conjunto. A realidade é essa. Não se pode chamar ruptura aquilo que não foi entrelaçado ou casado, se quiser”, afirmou ontem à noite o antigo líder do partido na SIC-Notícias.
Santana Lopes não quis assumir que foi traído nem que anda a conspirar e muito menos que está disposto a liderar a oposição interna — “não posso nem quero”. Mas admite afastamento com o líder do PSD desde o congresso. “Só confirmo que não tem havido trabalho nenhum conjunto. Rio procurou juntar no congresso e depois nada mais”, afirmou.O ex-provedor da Santa Casa diz que não está “zangado” com Rui Rio, mas confirma que sugeriu “alguns nomes relevantes” para as listas conjuntas aos órgãos do PSD e que acabaram por não ser acolhidos. Foi o caso do antigo embaixador Martins da Cruz. “Era para ter ficado nas listas ao Conselho Nacional e aí colaboraria e que ficou combinado que estaria no Conselho Estratégico”, afirmou, avançando com outros exemplos de nomes que Rio não aceitou: o presidente da Câmara de Óbidos Humberto Marques e um elemento de Macau, Vítor Rosário Cardoso, que deveria ter ficado à frente do gabinete dos emigrantes.
Esta terça-feira, o jornal i avançava que havia “ruptura” entre os dois sociais-democratas, depois de um acordo para as listas conjuntas aos órgãos do PSD no congresso de Fevereiro. Ao PÚBLICO, o ex-director de campanha de Santana Lopes, João Montenegro, disse que o antigo líder ficou incomodado depois de ver que Rio não acolheu nenhuma das suas sugestões de nomes para o Conselho Estratégico Nacional, e que na altura foram aceites pelo líder do partido. João Montenegro disse haver uma “ruptura” com Rio e que o ex-líder “pode romper com a solidariedade que existiu até agora e começar a fazer oposição interna”.
Os dois adversários das directas do PSD chegaram a acordo sobre listas para o Conselho Nacional, Conselho de Jurisdição, Instituto Sá Carneiro e Conselho Estratégico Nacional. Este órgão que está inscrito nos estatutos do PSD, embora na altura em que Santana e Rio chegaram a acordo sobre as listas não era conhecida a configuração que o agora líder do partido veio a dar.
Santana fez sugestões sobre “um conjunto de nomes” para o Conselho Estratégico Nacional, que é visto como um Governo-sombra do PSD, mas nenhum foi acolhido, segundo João Montenegro, admitindo que isso causou “muito incómodo”. Nas negociações deste acordo, Rio estava representado por Salvador Malheiro, actual vice-presidente do PSD, que “aceitou” os nomes propostos, segundo João Montenegro.
Não é a primeira vez que os dois adversários nas directas mostram que há fricções em público. Há um mês, Santana Lopes disse na SIC que estava na altura de Rio “inaugurar a sua liderança” no partido. Uma frase que o líder social-democrata disse ser uma crítica à oposição interna, como o próprio Santana lhe teria dito num telefonema — comentador da SIC veio desmentir essa ideia.

Menezes volta atacar

O ex-líder do PSD mostrou-se favorável à assinatura de acordos com o PS sobre matérias estruturais, mas essa ideia parece não ser consensual no partido. Luís Filipe Menezes, outro ex-líder do PSD, sustenta que o partido só deveria fazer acordos com o PS sobre política externa, sobretudo política europeia, justiça, segurança interna e arquitectura constitucional. E lembra que “ninguém nas bases ou dirigentes intermédios do PSD conhece o que vai ser assinado” nesta quarta-feira e que as assinaturas só serão válidas depois de os textos serem aprovados em Conselho Nacional. “Podem ser ratificados, mas tal é um procedimento mais próprio do PCP do que do PSD”, critica o ex-líder social-democrata considerando ainda que o acordo é não só com o PS mas sim com a “geringonça”.
A visão de Rui Rio é outra: o PSD está disponível para “todos os acordos estruturais de que o país precise”
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