segunda-feira, 21 de maio de 2018

Macuane analisa Renamo pós-Dhlakama



Lobby maconde e EN1 determinantes na queda do governante Pág. 8 Macuane analisa Renamo pós-Dhlakama

Sobrevivência dependerá da unidade interna TEMA DA SEMANA 2 Savana 18-05-2018 TEMA DA SEMANA P assam hoje 15 dias após a morte do histórico líder da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido da oposição, Afonso Dhlakama, que dirigiu a organização durante quase 38 anos. Em entrevista ao SAVANA sobre o futuro da Renamo, o politólogo José Macuane não tem dúvidas de que Afonso Dhlakama deixou um vazio difícil de preencher. Dhlakama, prossegue Macuane, combinava com mestria a habilidade política e militar, detendo uma irresistível capacidade de mobilização, a que mesmo os opositores não ficavam indiferentes. Face a essa tarefa hercúlea de encontrar um substituto à altura, o académico sublinha que a sobrevivência política da Renamo após a morte do seu líder dependerá da unidade interna. “A sobrevivência pós-Dhlakama depende mais de como o partido se unirá e fará aquilo que Dhlakama não fez ou até desencorajou”, diz Em relação ao estatuto de “pai da democracia”, José Macuane considera que Afonso Dhlakama fez uma contribuição à democracia, mas isso não quer dizer que ele fosse um inconfundível democrata. “Basta ver a forma como geria o seu partido e mesmo como o seu partido se posicionava em relação a alguns assuntos políticos para vermos isso”, destaca. A Renamo terá capacidade de se reerguer e continuar a ser uma força preponderante no contexto político moçambicano, após a morte de Afonso Dhlakama? Depende da forma como a Renamo se reorganizar para enfrentar os desafios presentes e futuros. Dhlakama deixará um vazio difí- cil de preencher na Renamo. Vou olhar apenas à vertente eleitoral, há outros factores (como, por exemplo, a influência política na sociedade) que não teremos espaço aqui para explorar. O desempenho eleitoral que a Renamo teve em 2014 se deveu em grande medida à entrada em cena de Dhlakama, depois de sitiado na Gorongosa. Em menos tempo de campanha que o seu mais directo adversário, conseguiu melhorar substancialmente aquilo que foi o desempenho desastroso de 2009; o pior desempenho dele e do seu partido. Mas também devemos prestar atenção ao que a eleições dizem. Em 1994 e 2009 Dhlakama teve mais votos que a Renamo. É difícil separar o efeito mobilizador de Dhlakama em relação ao seu partido e a ele mesmo. Mas estes números sugerem que há uma margem de eleitores que em algumas eleições preferiram mais a Renamo do que a Dhlakama. Talvez aí haja algum potencial para a Renamo explorar e conseguir sobreviver para além do seu líder, que sem dúvida deixará um grande vazio difícil de preencher, mas que não tem que significar necessariamente a morte do partido. A sobrevivência pós-Dhlakama depende mais de como o partido se unirá e fará aquilo que Dhlakama não fez ou até desencorajou, apesar dos recursos que teve e das oportunidades que existiram: a existência de uma máquina partidária e de lideranças intermédias que possam ser alternativas de sucessão, sobrevivência e crescimento do partido. Para o actual quadro político, qual deverá ser o perfil do sucessor de Afonso Dhlakama? Precisará de legitimidade no seio do braço armado da Renamo e da ala política ou a sobreposição de uma das legitimidades será suficiente? Penso que o perfil ideal deve responder à natureza dos desafios do momento e à da própria Renamo. A Renamo é composta pelas componentes militar e política. A primeira historicamente penetrou na segunda, o que pode ser visto pelo histórico dos seus secretá- rios-gerais e dos seus parlamentares. Mesmo o próprio Dhlakama era um político exímio. O actual Chefe (não sei se o chamam presidente) Interino, o Ossufo Momade, é exemplo disso. Penso que para a transição a escolha foi bem pensada. O futuro reserva mais desafios. Um deles é de reduzir a rejeição ao passado militar da Renamo, que ainda enfrenta reservas em parte significativa do eleitorado. Mas isso não signifi- ca que ex-militares não possam fazer essa ponte. Quer dizer que eles têm de ter a capacidade política de apresentar uma imagem, discurso práticas mais atractivas a um amplo eleitorado. Uma dessas características é como continuar a se comunicar com eficácia com as pessoas simples, que são a base de apoio actual, ao mesmo tempo que também democratizam o partido internamente e na forma de fazer política, que apesar da retórica de Dhlakama, não se pode dizer que a Renamo seja um partido democrático. São justificados os receios de uma derrapagem do processo de paz como consequência da morte de Afonso Dhlakama? Já o havia dito antes ao vosso jornal que o perigo deste processo é de ter sido mais baseado em pessoas do que instituições. Do lado da Renamo parecia haver mais coesão no pensamento, mais devido ao poder que Dhlakama tinha sobre os seus correligionários do que necessariamente a existência de unanimidade (pelo menos não tenho elementos para ter certeza disso). Do lado da Frelimo ainda são visíveis resistências que a disciplina partidária talvez não as deixe transparecer de forma mais clara. Do lado da Renamo há o sinal já dado de que estariam dispostos a continuar com os enJosé Macuane analisa Renamo pós-Dhlakama Sobrevivência dependerá da unidade interna Por Ricardo Mudaukane tendimentos alcançados. Na Frelimo idem, mas também há vozes que apontam a falta de discussão interna (pelo menos profunda) deste assunto. Não nos iludamos. A morte de Dhlakama pode ser vista como uma oportunidade das vozes que se sentem desconfortá- veis com esta aproximação entre o Presidente Nyusi e o falecido presidente da Renamo, e isso pode contribuir para emperrar ou fazer retroceder o processo. Esta é uma grande oportunidade do Presidente Nyusi mostrar liderança. Se conseguir manter o compromisso do seu partido e não recuar nos entendimentos obtidos, penso que o processo poderá avançar, porque não acredito que a Renamo tenha muitos incentivos e capacidade para reverter os acordos já alcançados e ainda ter um ganho substancial nisso. O Governo, mais precisamente o Presidente Filipe Nyusi, ficou sem interlocutor com a morte de Afonso Dhlakama? Não necessariamente. Depende do alinhamento das ideias de quem vai liderar a Renamo com os acordos alcançados, mas, sobretudo, da sua autoridade dentro do partido. Até aqui, na superfície, nas palavras ditas (que nem sempre dizem tudo), parece que esse alinhamento existe. Eu acrescentaria ao que disse na resposta anterior que aí a liderança actual da Renamo tem a maior responsabilidade em garantir que é interlocutora legítima e credível do Governo de Moçambique. Riscos e oportunidades Sem Afonso Dhlakama, a Renamo conseguirá ser, com a mesma eficácia, um partido e ao mesmo tempo uma guerrilha? A questão que se deve colocar é porque precisaria ser as duas coisas e por quanto tempo isso seria apropriado aos seus objectivos de sobrevivência política? Particularmente, penso que a sobrevivência dessa Renamo dual – partido e guerrilha – tinha os dias contados. É reflexo de uma liderança histórica e de um contexto histórico que permitiu e, para alguns, justificou esta dualidade. Mas isso era possível conciliar através da existência de um líder militar forte e ao mesmo tempo um político eficaz. Este era o perfil de Dhlakama. Se alguém mais poderá ter este perfil, não sei, mas duvido. Mas também essa existência dual dependia dos seus interlocutores, no caso o Governo da Frelimo e a aceitação também pela sociedade e pela comunidade internacional. Repare que a Renamo, mesmo com os apelos do Governo quando o conflito se reacendeu, não teve uma forte condenação nem da sociedade nem da comunidade internacional. Se este ambiente mudar, a possibilidade de existência da Renamo nessa sua natureza dual também pode ser afectada. Há o risco de a Renamo entrar em declínio eleitoral como aconteceu com vários movimentos, com a morte dos seus dirigentes, como aconteceu com a UNITA? Ainda não se estudou profundamente as eleições em Moçambique para se aferir o efeito da marca do partido e do líder nos votos. A Renamo também nunca foi a uma eleição sem Dhlakama. Só o fará pela primeira vez agora. O risco sempre existe. Mas também existem as oportunidades. Por enquanto, ocorrem-me três. A primeira é o descontentamento com o partido Frelimo. A questão é: como as pessoas poderão manifestar esse descontentamento – abster-se de votar, votar contra a Frelimo, não importa a favor de quem? A segunda oportunidade é a base social da Renamo, que é uma realidade. Essa base social era alimentada e mantida apenas pela liderança de Dhlakama? Como surgiu e como se manteve apesar das derrotas sucessivas deste e do seu partido? A terceira oportunidade é a descentralização: que é a possibilidade dessa base social estar reflectida no governo a nível local e isso poder ser um elemento motivador. Portanto, existem riscos e oportunidades para a sobrevivência ou declínio eleitoral da Renamo. “A sobrevivência pós-Dhlakama depende mais de como o partido se unirá e fará aquilo que Dhlakama não fez ou até desencorajou” TEMA DA SEMANA Savana 18-05-2018 3 A Sasol está a desenvolver e a operar jazigos em Moçambique, na Província de Inhambane, para fornecer gás processado a clientes em Moçambique e na África do Sul (clientes industriais, comerciais e domésticos). Através da sua estratégia de Conteúdo Local, busca maximizar os benefícios económicos que este empreendimento traz para a economia moçambicana, focados em aumentar o número de empresas moçambicanas que fazem negócios com a Sasol, e os gastos com empresas moçambicanas. Para o efeito, a Sasol, através deste convite a Manifestações de Interesse (MDI), tenciona aumentar e actualizar a sua base de dados de fornecedores moçambicanos para a oferta de diferentes bens e serviços. Note-se que este exercício não deve ser considerado parte de um processo de concurso ou contratação. Caso tenha interesse, por favor contacte o Gestor de Procurement pelo e-mail SPT_PROCUREMENT_MOZAMBIQUE. Maputo@sasol.com para obter uma cópia do documento que terá que preencher de modo que a Sasol entenda as capacidades da sua empresa e melhor perceba se existe competição e capacidade suficiente no mercado nacional para as categorias e sub-categorias identificadas. São encorajados a apresentarem as vossas respostas o mais rapidamente possível até ao dia 29 de Maio de 2018 e as respostas podem ser em português ou inglês. CONVITE A MANIFESTAÇÕES DE INTERESSE PARA O FORNECIMENTO DE BENS E SERVIÇOS PARA A SASOL EM MOÇAMBIQUE INVITATION FOR EXPRESSIONS OF INTEREST FOR THE SUPPLY OF GOODS AND SERVICES FOR SASOL IN MOZAMBIQUE Sasol is developing and operating reservoirs in Mozambique, in the province of Inhambane, to supply processed gas to consumers throughout Mozambique and South Africa (industrial, commercial and domestic customers). Through its Local Content strategy, Sasol seek to maximize the economic benefits that this enterprise brings to the Mozambican economy, focused on increasing the number of Mozambican companies that do business with Sasol, and the spent with Mozambican companies. In order to enable this, Sasol, through this invitation for Expressions of Interest (EOI) intends to increase and update its data base of Mozambican suppliers for the supply of different goods and services. Please note that this exercise should not be construed as being a tender or a contracting process. If you are interested, please contact the Procurement Manager via the email SPT_PROCUREMENT_MOZAMBIQUE. Maputo@sasol.com for a copy of the document that you will have to complete in order for Sasol to understand the capabilities of your company and better establish if there is sufficient competition and capacity within the local Mozambique market for the categories and sub categories identified. You are encouraged to submit your responses as soon as possible but not later than the 29th of May 2018 and submissions can be in Portuguese or English. O modo centralista e autocrático como Afonso Dhlakama dirigiu a Renamo terá aniquilado a emergência de uma linha de sucessão clara e a afirmação de alternativas de liderança? Penso que não devemos ter isso como linear. Vejamos o caso de Angola. Pensou-se que os quase 40 anos de José Eduardo dos Santos tivessem aniquilado o surgimento de lideranças no MPLA, e aí surge o Presidente João Lourenço, que desafia o seu antecessor ainda em vida e está a mostrar ser um líder forte. Temos de considerar o espaço que existe da superação e da vontade humana. As pessoas quando têm poder podem fazer muitas coisas. Difícil será emergir um novo Dhlakama, mas não é impossível que surjam líderes capazes. Mas esses líderes poderão ter o desafio de sobrevivência a curto prazo, antes de consolidarem a sua liderança, porque uma Renamo forte, certamente, não é o desejo dos seus principais adversários. A morte de Afonso Dhlakama pode ter força à reemergência na Frelimo de correntes contrárias a compromissos com a Renamo? A questão é se essas forças tinham desaparecido. Penso que não. O que provavelmente ocorreu é que aceitaram ou toleraram a abordagem adoptada pelo Presidente Nyusi no processo de paz. Penso que isso é o mais fundamental: o projecto dessas forças quanto à paz. Se é uma paz com reconciliação verdadeira, ou uma paz com a Renamo aceite a contragosto, porque era complicado fazê-la sem esta. Neste último caso, certamente essas forças, pelo menos, ganham moral com a morte de Dhlakama. Mas é difícil descortinar o que vai dentro da Frelimo quanto ao projecto de paz; pior ainda, quanto ao projecto de país que se está a construir. Nunca foi tão confuso se vislumbrar para onde o país vai ou se quer levar como agora. A Frelimo não apresenta uma visão clara do país, o que é lamentável, sendo o partido que sempre nos governou como país independente e que tem a ambição de dirigir o país pelos anos vindouros. Que efeito poderá provocar a morte de Afonso Dhlakama na psique do eleitorado próximo da Renamo? Não há dúvidas de que Dhlakama galvanizava mesmo pessoas que não fossem da Renamo e a sua ausência vai ter implicações nos incentivos das pessoas para votarem. Também não nos devemos esquecer que no período do último confronto armado muitas lideranças de base foram assassinadas pelos esquadrões de morte. A questão é como fica a máquina de mobilização da Renamo depois disso e se ela vai Difícil será emergir um novo Dhlakama poder se refazer para enfrentar as eleições que se avizinham. Mas há um factor que outros partidos e países usam nestes casos: o líder histórico (mesmo morto) como símbolo. Num contexto em que a memória da sua morte ainda é recente, o recurso à imagem de Dhlakama como símbolo ainda pode ter os seus efeitos. Num passado recente vimos como o Presidente Guebuza recorreu à imagem de Samora Machel e a dos heróis de libertação nacional para resgatar alguma legitimidade, recorrendo aos lugares onde esses heróis nasceram e glorificando-os. Que efeitos isso teve, não sei. Mas usar a imagem do líder já morto como símbolo de mobilização pode ter o seu impacto político. É merecido o consenso em torno da contribuição de Afonso Dhlakama para a construção do processo democrático moçambicano? Este debate, no meu entender é polarizado, às vezes mal colocado e está longe de ser consensual. É importante analisarmos como foi essa contribuição. Tanto os que apoiam como os que se opõem confundem, no meu entender, duas coisas: a contribuição em si e a democraticidade de Afonso Dhlakama. Para mim ele fez uma contribuição à democracia, mas isso não quer dizer que ele fosse um inconfundível democrata. Basta ver a forma como geria o seu partido e mesmo como o seu partido se posicionava em relação a alguns assuntos políticos para vermos isso. Por exemplo, a luta incessante pela prevalência de acordos de acomodação entre a Frelimo/Governo e a Renamo em assuntos como a revisões da lei eleitoral, o mais recente pacote de descentralização e a revisão constitucional, mostram que era mais defensor do seu partido do que necessariamente da democracia de forma mais ampla. Naturalmente que esse contrapoder e algum contra balanceamento do poder monopartidário da Frelimo abriu espaço para outras forças emergirem na sociedade, incluindo a controversa guerra civil, que foi uma sangrenta pressão para a abertura política. Mas se formos ao âmago desses processos, veremos que muito têm de antidemocrático. O mesmo raciocínio de aplica ao seu principal adversá- rio, a Frelimo, que é um partido formalmente democrático, mas que nos últimos tempos não tem sido uma força promotora da democracia no país, pelo contrá- rio, tem contribuído para a reversão democrática que estamos a experimentar neste momento no país. Em suma, penso que se deve separar a contribuição que advém da participação da Renamo e de Afonso Dhlakama em processos que acabam sendo democratizantes, da sua democraticidade como tal. O mesmo vale para as forças que se autodefinem como democráticas, mas que acabam alimentando processos autoritários ou de reversão da democratização. Aceitar ou recusar a contribuição de Dhlakama à democracia não deve ser uma questão de gosto ou conveniência política, deve ser algo devidamente analisado no seu contexto histórico e nos processos democráticos e democratizantes que essa contribuição desencadeou. TEMA DA SEMANA 4 Savana 18-05-2018 falecido líder da Renamo, Afonso Dhlakama, edificou um movimento rebelde, inicialmente apoiado pelo regime do “apartheid” da África do Sul e racista da antiga Rodésia, actual Zimbabwe, e mais tarde um partido político da oposição, depois da guerra civil que assolou Moçambique durante 16 anos. Embora desconfortável em momentos de paz, ele garantiu que houvesse pluralismo no país. Ainda que eu tenha sido um acérrimo crítico da Renamo, devido aos abusos que cometeu contra os direitos humanos nos últimos anos da guerra civil, sempre apreciei o facto de, na sua essência, o movimento ser tanto uma resposta à injustiça e desigualdade em Moçambique, como também um instrumento da Rodésia e mais tarde ferramenta de desestabilização da África do Sul dos tempos do “apartheid”. Não obstante, a Renamo estava viciada dos apoios que recebia da Rodésia e da África do Sul. Só mais tarde, no final dos anos de 1980, é que Afonso Dhlakama começou a definir uma identidade própria do movimento, à medida que a dependência em relação à África do Sul começou a enfraquecer, uma vez que tinha de sobreviver com os seus próprios meios. Por essas alturas, a Renamo tinha começado a perder a sua principal vantagem táctica. A África do Sul tinha fornecido equipamento de comunicações sofisticado, que nem os governos moçambicano e zimbabweano podiam interceptar. Mas por volta de 1989, as baterias e os aparelhos que a Renamo recebera tinham avariado, comprometendo assim a eficácia militar da Renamo. A comunicação tornara-se tão deficiente que em 1991, a disponibilização de um telefone satélite pelos mediadores italianos foi o suficiente para persuadir Afonso Dhlakama a assinar um protocolo-chave que conduziu ao Acordo Geral de Paz de 1992, em Roma. Foi precisamente através deste telefone satélite que eu e ele falámos pela primeira vez. Um democrata improvável Mais tarde em 1992, Dhlakama e o Presidente moçambicano, Joaquim Chissano, assinaram um acordo de paz que encerrou 16 anos de guerra civil. Um processo de transição, acompanhado do desarmamento, desmobilização e de reintegração teve início, ao mesmo tempo que se criava um novo exército nacional. Falei com Afonso Dhlakama várias vezes durante esse período, mas apenas me encontrei com ele, pela primeira vez, em 1994. Ele estava a preparar-se para participar nas primeiras eleições multipartidárias na história do país, e eu era observador dessas mesmas eleições. Recordo-me de ele me ter dito que os resultados das eleições iriam provar que o meu livro crítico sobre ele e a Renamo estava errado, que os moçambicanos gostavam dele. Em parte ele tinha razão: os resultados daquelas eleições em 1994 provaram que a Renamo tinha forte aceitação em algumas regiões de Moçambique. Os resultados mostraram também que Moçambique pós-conflito estava fragmentado e que os eleitores priorizavam lealdades regionais e a experiência que tinham passado durante a guerra. Dhlakama só visitou Londres apenas uma única vez, em 1998. Moderei a sua apresentação no Instituto Real para África, um encontro para o qual apenas três pessoas estiveram presentes, devido a um boicote em resposta aos abusos dos direitos humanos cometidos pela Renamo. O meu ponto de vista era que, apesar da sua reputação de brutalidade e múltiplos abusos dos direitos humanos durante a guerra, ele assinou um acordo de paz e o respeitou. Ele fez recordar aos presentes que eu tinha sido co-autor de um relatório que documentava abusos também cometidos pelo Governo. No final dos anos de 1990, a Renamo afirmou-se como um partido da oposição e Afonso Dhlakama quase que ganhou as eleições presidenciais de 1999 (alguns acreditam que ele ganhou mesmo). Os resultados das eleições de 1999 viraram as atenções da Frelimo para o risco que a Renamo representava ao poder que controla desde a independência do país em 1975. Como reacção, a Frelimo enveredou por uma estratégia mais agressiva contra a Renamo, ao mesmo tempo que tentava conter este ímpeto, incluindo através de uma oferta a Dhlakama a possibilidade de nomear governadores provinciais em 2000. Membros da linha dura da Frelimo e a própria incoerência da Renamo minaram este esforço. Depois da sua eleição em 2004, Armando Guebuza levou a Frelimo a embarcar numa estratégia de domínio total em todo o país, que foi premiado, a curto prazo, por uma vitória expressiva contra a Renamo nas eleições de 2009. A longo prazo, com uma Renamo humilhada e marginalizada, Dhlakama convenceu-se de que a Frelimo era suficientemente maldosa e estaria sempre apostada em esmagar o seu partido nas mesas de voto. Regresso ao mato A última vez que me encontrei com Dhlakama foi na sua casa em Nampula, em 2012. Passei uma tarde com ele, reflectindo sobre batalhas passadas. Nesse encontro, Afonso Dhlakama pareceu-me profundamente apreensivo com o futuro, dizendo que a Frelimo estava a tentar destruí-lo, e advertindo que a Renamo está na “sala de reanimação”, e que ele iria lutar pela sua própria sobrevivência. Quando me preparava para sair, ele deu ordens à sua guarda presidencial de oito maltrapilhos para se porem em fila e darem-me uma saudação de honra. Lembro-me que muitos daqueles homens tinham botas furadas e as suas armas do tipo AK-47 degradadas. O meu encontro com Dhlakama convenceu-me de que ele estava perigosamente isolado e poderia cometer um erro de cálculo. Fiz uma advertência a Guebuza, e disse-lhe que precisava de comunicar com ele e torná-lo elemento central nas comemorações do dia do Acordo Geral de Paz em 2012. Este conselho caiu em ouvidos de mercador. Mas ninguém podia prever que Dhlakama, encurralado e isolado, poderia voltar em 2013 para a sua base central nas matas da região centro de Moçambique, para reavivar o seu apoio e comandar o regresso à violência, que se mostrou economicamente destrutiva para Moçambique. Essa vaga de violência durou até Julho de 2014, e Dhlakama assinou um novo acordo de paz em Setembro de 2014. A Renamo foi premiada com um crescimento da sua quota de votos nas eleições nacionais de 2014. O novo líder da Frelimo, Filipe Nyusi, encetou um diálogo directo com Dhlakama, mas esta acção foi inicialmente prejudicada pelo esforço que Nyusi empreendia para consolidar o seu poder dentro da Frelimo, e pela abordagem desarticulada nas negociações com a Renamo. Uma nova e mais violenta fase do conflito armado seguiu-se entre Maio de 2015 e Dezembro de 2016, e cinco rondas de conversações de paz com mediação internacional fracassaram, até que Nyusi e Dhlakama começaram a falar directamente entre si. Finalmente, em finais de Dezembro de 2016, Dhlakama anunciou unilateralmente uma trégua que depois se tornou indeterminada. Ele e Filipe Nyusi também iniciaram novas conversações apoiadas pelo embaixador da Suíça e, em Agosto de 2017 e Fevereiro deste ano, impressionaram muitos moçambicanos devido à sua coragem, ao se encontrarem no centro de Moçambique, num esforço para a construção de uma confiança mú- tua e discutir detalhes sobre um futuro acordo de paz. Um novo acordo de paz prevendo a eleição indirecta de governadores, em troca de uma recolocação de oficiais da Renamo em posições de comando para um melhor equilí- brio nas forças armadas, bem como a reintegração do braço armado do partido estava prestes a ser alcançado, quando Afonso Dhlakama morreu a 03 de Maio. Alguns círculos ventilam a possibilidade de a Renamo retirar-se das negociações de paz, na sequência da morte de Afonso Dhlakama. Mas quadros da Renamo me informaram que era a última vontade de Dhlakama que as negociações de paz continuassem. O novo líder interino da Renamo, Ossufo Momade, comprometeu-se a continuar com as conversações. Legado Dhlakama nasceu em Mangunde, distrito de Chibabava, província de Sofala, filho de um líder tradicional, o Régulo Mangunde, e era casado com Rosária Xavier Mbiriakwira Dhlakama, e tinha oito filhos. Dirigiu a Renamo durante 38 anos e provou ser um líder guerrilheiro completo, construindo um movimento que começou com cerca de 76 membros, em 1977, até ter cerca de 20 mil em 1992. Os seus feitos durante a paz também são impressionantes, levando a Renamo a ser um dos maiores partidos da oposição em África. Apesar de ter frequentemente reclamado ser “pai da democracia”, ele nunca permitiu o pluralismo dentro da Renamo ou a possibilidade de traçar um plano de sucessão. Dhlakama era também pretensioso, e com tendência a mudar de ideias, muitas vezes influenciado pela última pessoa com quem falasse. Relatos de que usava ostensivamente óculos para parecer mais intelectual são falsas, e mostrou muitas vezes possuir uma memória forense até à sua morte, principalmente em relação à Constituição moçambicana e quanto aos direitos da Renamo. Fazer política em momento de paz era uma coisa difícil para ele, mas nos últimos anos mostrara uma agilidade política que surpreendeu muitos. O último legado de Dhlakama é o pluralismo político em Moçambique e possivelmente uma maior devolução do poder, com governadores provinciais eleitos. *Alex Vines é chefe do Programa para África do Chatham House, com sede em Londres, e autor do livro “Renamo: do Terrorismo para a Democracia em Moçambique”. O texto foi originalmente publicado no Mail&Guardian. A tradução inglês-português é da responsabilidade do SAVANA. Afonso Dhlakama: Recordando um senhor de guerra democrata Por Alex Vines* Afonso Dhlakama interagindo com a sua guerrilha TEMA DA SEMANA Savana 18-05-2018 5 PUBLICIDADE 6 Savana 18-05-2018 SOCIEDADE SOCIEDADE N o momento em que escrevo estas linhas, no final da manhã de quinta-feira, uma enorme multidão rodeia o féretro de Afonso Dhlakama, o líder da Renamo, que perdeu a vida no passado dia 3 de maio, vítima de uma crise aguda de diabetes quando aguardava por uma evacuação aérea que não chegou a tempo. O chão da aldeia de Mangunde, no distrito de Chibabava, no sudoeste da província de Sofala, no centro de Moçambique, preparava-se para receber o filho ‘mais grande’, como se diz aqui às figuras muito importantes da terra, da região e do país. O chão de Mangunde será o último que Dhlakama fará tremer com a sua presença. De facto, por onde passava,  Dhlakama arrastava milhares e milhares de pessoas, sobretudo nas zonas centro e norte de Moçambique. Este carisma, este arrastar de gente, só foi comparável, ironicamente, ao seu inimigo Samora Machel, o primeiro presidente do país, contra o qual lutou desde 1977 até à sua morte, em 1986, quando o avião presidencial se despenhou nas montanhas de Mbuzini, na África do Sul. Samora, mesmo depois do Acordo de Incomati – uma espécie de pacto de não-agressão com a África do Sul, em que este país se comprometia a cessar o apoio militar à Renamo e em troca a Frelimo deixava de dar guarida aos membros do ANC –, nunca quis conversar com Dhlakama, afirmando que não negociava com macacos. Dhlakama era um sobrevivente. Desde 1979, quando substituiu André Matsangaíssa, morto em combate, na chefia da guerrilha – tinha então 22 anos – escapou diversas vezes à morte. A mais célebre foi uma fuga de mota nos anos 80, quando o seu quartel-general, a celébre Casa Banana, foi ocupado pelas forças governamentais, após um intenso bombardeamento. Dhlakama escapuliu-se, sob intenso tiroteio, num motocrosse pelo meio do mato. Não tinha ainda 30 anos. Com um rosto quase desconhecido do grande público até ao início das conversações de paz, em 1990, rapidamente se tornou uma figura mediática, fazendo, com as suas tiradas, as delícias dos jornalistas e de todos que o acompanhavam. Conheci Dhlakama nas vésperas das primeiras eleições multipartidárias, em Outubro de 1994, quando o fui esperar com um grupo de jornalistas ao aeroporto de Mavalane, em Maputo. O líder da Renamo, mal pousou o pé em terra, rodeado de gente, dançou com as mamanas que o esperavam para o saudar. Das suas salientes maçãs do rosto, tipicamente  ndau, sobressaía um largo, aberto, franco e afável sorriso, nada condizente com a propaganda oficial que o classificava ainda como bandido armado. Com todos interagia, num ‘tu cá, tu lá’ pouco comum para uma pessoa da sua condição, num Moçambique em que o cidadão comum é obrigado a mudar de passeio ao passar diante da residência oficial do Presidente da República. Lembro-me que o percurso até à sua casa, no luxuoso bairro de Sommerchield, demorou cerca de uma hora e meia. Um mar de gente quis ver de perto o líder da guerrilha, o homem que havia batido o pé à Frelimo durante 16 anos, obrigando o partido no poder a ir a outra guerra, desta vez dos votos. Recordo-me das suas sempre animadas conferências de imprensa no complexo Kaya Kwanga, então uma novidade da cidade. Numa delas, com a cabeça de um lado para outro, indagou: “Onde está a Rádio Moçambique? É o maior órgão de comunicação social do país! Vamos esperar por eles.” E esperou-se quase 20 minutos pelos repórteres que finalmente apareceram e desfizeram-se em desculpas. Dhlakama, no seu estilo informal, atirou: “Quem é o presidente do partido que espera por jornalistas? O Chissano não espera. Mas eu espero. Quero que vocês façam bem o vosso trabalho.” Dhlakama gostava de dar espectáculo, de ser o centro das atenções. Onde ele estava não havia lugar à monotonia, à apatia ou ao aborrecimento. Era um político sem filtros, sem subterfúgios, sem artimanhas e isso tornava-o diferente dos demais políticos. Era, sem dúvida, um one man show. Na véspera das eleições de 1994, ameaçou boicotá-las, argumentando que estava montada uma mega-fraude. Meio mundo caiu em sua casa e, após algumas horas, lá o convenceram a voltar ao jogo. Acabaria por votar só no segundo dia. À tarde convocou uma conferência de imprensa para mostrar que era fácil votar duas vezes: – “Vejam [ostentando o indicador direito] como a tinta não é indelével! Se eu não fosse o Dhlakama, se não fosse conhecido por todos, podia votar outra vez.” Dhlakama detém ainda um recorde mundial difícil de bater: concorreu cinco vezes consecutivas à Presidência da República, acabando sempre derrotado. Em 1999, esteve à beira da vitória, perdendo à última hora para Joaquim Chissano, numas eleições muito contestadas. Ameaçou voltar às matas, cortou relações com o seu principal colaborador, Raul Domingos, o rosto da Renamo nas conversações de paz de Roma, acusando-o de estar a fazer o jogo da Frelimo, e exigiu o governo das províncias onde havia saído vencedor, ou seja, metade do país. Depois disso, as ‘brincadeiras da Frelimo’, nas suas palavras, nunca mais cessaram, sobretudo durante o consolado de Armando Guebuza, quando obteve as mais fracas prestações eleitorais. Em 2009 foi mesmo esmagado, não atingindo os 20%. A 17 de Outubro de 2012, foi à Gorongosa festejar, entre os seus, mais um aniversário da morte de André Mantsangaíssa. E por lá ficou, ameaçando iniciar manifestações anti-goverrnamentais por todo o país. Em Abril de 2013, ordenou um ataque a uma esquadra da polícia em Muxúnguè, Sofala, ponto de partida para o recomeço da guerra. Ano e meio duraria o conflito político-militar, como lhe chamou o governo, período durante o qual Dhlakama voltou a conquistar simpatias, embora tivesse paralisado a circulação de pessoas e mercadorias na zona centro do país. Em Setembro de 2014, saiu do mato num impecável fato do prestigiado alfaiate português Rosa & Teixeira para assinar o Acordo de Cessação das Hostilidades com Guebuza já a campanha para o pleito eleitoral de 15 de Outubro ia na terceira semana. Quando lhe perguntaram se o atraso não seria decisivo para a sua não eleição desvalorizou a questão e com um sorriso enorme disse: “Não, meu irmão – era assim que tratava os jornalistas –, isso não é nada. Todos me conhecem já”. Por essa altura, a Frelimo, preocupada com o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), um partido que se tinha formado em 2008 a partir de uma dissidência da Renamo e que tinha conquistado um ano antes importantes municípios do país, menosprezou a força de Dhlakama. A ideia era dividir a oposição e Dhlakama, partindo com substancial atraso e sem a mínima preparação, seria a lebre ideal. Mas a lebre correu muito mais do que o previsto, enchendo tudo por onde passava. Dhlakama falava e o povo revia-se nas suas palavras. No seu discurso transmitia solidariedade, inclusão, com ameaças à mistura que caíam sempre bem num povo cansado da pobreza e da miséria. “Não estou a ameaçar ninguém, mas se a Frelimo vier outra vez com brincadeiras – referia-se à viciação dos resultados eleitorais – vai levar porrada! Vocês estão aqui de coração, ninguém vos transportou para aqui, como a Frelimo faz nos seus comícios. Eu aqui não vos dou camisetes nem capulanas. Mas digo-vos: aceitem as camisetas e as capulanas que eles [Frelimo] vos dão, porque elas foram compradas com o vosso dinheiro, mas depois sei que vão votar em mim”, dizia. E o povo ria e aplaudia. Num dos comícios, surpreendeu todos ao divulgar ao altifalante os seus dois números de telemóvel. “Falem-me! Entrem em contacto comigo à vontade. Temos que ter uma linha directa.” Diz, quem tentou várias vezes, que os números estavam sempre impedidos. “Era o presidente a ouvir o povo”, diziam. Nesta última campanha eleitoral, no sul, território sempre adverso à Renamo, Dhlakama teve recepções monumentais por onde passou, como nunca tinha acontecido. Adorado como um Deus, foi passando sucessivamente por Inhambane, Xai-Xai e, finalmente, Maputo. Na capital, qual São Tomé, resolvi ir ver com os meus próprios olhos o fenómeno. Na manhã do dia que antecedeu o período de reflexão desloquei-me à zona do mercado de Xipamanine. Foi na rua Irmãos Roby, num ponto em que a artéria alarga, que a comitiva resolveu parar. Dhlakama, como um imperador romano no circo, olhou em redor a contemplar a multidão. Lembro-me de estar a levitar sem conseguir assentar os pés no chão. E comigo levitava também o chão com aqueles milhares de pés. Dhlakama reconheceu-me e, com um gesto largo, chamou-me. O mar de gente abriu alas e por momentos senti-me personagem do episódio da abertura de outro Mar, o Vermelho. O líder do Renamo cumprimentou-me com um demorado e caloroso aperto de mão, exclamando: – Desaparecido! E eu: – O senhor presidente é que andou no mato, eu estive sempre aqui. E ele: – Já ganhei! Lembro-me de olhar em volta e pensar: será desta? Foi a última vez que estive com Afonso Dhlakama. *In observador O homem que fazia tremer o chão Afonso Dhlakama: Por João Vaz de Almada* ‡$IRQVR'KODNDPDHUDXPSROtWLFRVHPÀOWURV VHPVXEWHUI~JLRV VHPDUWLPDQKDVHLVVRWRUQDYD RGLIHUHQWHGRVGHPDLVSROtWLFRV (UD VHPG~YLGD XPone man show Afonso Dhlakama um homem do povo SOCIEDADE Savana 18-05-2018 7 PUBLICIDADE 8 Savana 18-05-2018 SOCIEDADE SOCIEDADE O Presidente da República, Filipe Nyusi, exonerou esta terça-feira, com alguma surpresa, o Ministro das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos, Carlos Bonete Martinho e, em sua substituição, fez regressar João Osvaldo Machatine, que ocupou o cargo de vice-ministro antes de ser despachado para a direcção máxima do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC). A pouco mais de um ano e meio do fim do primeiro mandato da administração Nyusi, já era questionado, em alguns círculos polí- ticos, sobre a saída de Bonete, visto como um “ministro demasiado calmo”, uma característica que tem permitido que contamine decisões que impõem agilidade. Bonete foi exonerado oito horas após ter estado nesta terça-feira com Li Zhanshu, Presidente do Comité Permanente da 13ª Assembleia Popular Nacional da China, numa visita à Ponte Maputo-Catembe, financiada por fundos chineses. Espera-se que a Ponte Maputo-Katembe seja oficialmente inaugurada a 25 de Junho, marcando o ponto mais alto das celebrações dos 43 anos de independência nacional. Bonete não era um “político” na verdadeira acepção da palavra, mas a sua exposição sobre o seu sector de responsabilidade foi muito elogiada na última reunião do Comité Central, em paralelo com Celso Correia e Carlos Mesquita. A ponte da Catembe é um dos “grandes buracos” herdados pelo presente governo devido ao investimento gigantesco, o seu pagamento à China e a futura manutenção. Formalmente, não são conhecidas as razões de fundo da queda de Bonete, mas o SAVANA apurou que a falta de “soluções criativas” para reabilitação/reconstrução da EN1 e o lobby maconde cansado da falta de planos para a construção da estrada Mueda-Negomano, num troço de 90km (ligação à chamada Ponte da Unidade) terão estado por detrás do afastamento de Bonete. Aquando da visita a Cabo Delgado em meados de Abril deste ano, Filipe Nyusi anunciou na localidade de Ngapa, distrito de Mueda, o arranque ainda este ano das obras da construção da estrada Mueda-Negomano. Há também o abastecimento de água a Mueda que continua a marcar passo. A componente estradas é um dos sectores-chave da administração Nyusi, tal como deu a entender durante a sua campanha eleitoral em 2014, pois idealizava um país com vias de acesso que ligassem o interior dos distritos às estradas nacionais, para o escoamento da produção e maior fluidez de trá- fego. Porém, o estado da EN1 tem recebido severas críticas. Mas os sectores que estão em “estado de choque” argumentam que Bonete é uma das principais vítimas do isolamento internacional de Moçambique uma vez que se secaram muitos dos fundos externos destinados a infra-estruturas. Devido ao chamado caso das “dívidas ocultas” contraídas pela administração Guebuza, Bonete é obrigado todos os anos a cortar no orçamento de construção de novas estradas e mesmo em matéria de reabilitação. Nesta quarta-feira, o executivo esteve no Parlamento para a tradicional sessão de perguntas ao Governo. O pelouro das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos foi representado pelo ministro da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural, Celso Correia. Na fase de debate, Mateus Kathupa, deputado da Frelimo e membro da Comissão Permanente da Assembleia da República, foi o primeiro a intervir e fez o que é pouco habitual dos deputados da bancada governamental quando a matéria é interpelar o Executivo. Kathupa criticou frontalmente o sector das estradas, causando espanto entre os deputados da oposição. Mas ao que o SAVANA apurou estava-se diante de uma estratégia articulada ao mais alto nível partidário e Khatupa foi o zeloso porta-voz. O jornal soube que a Comissão Política da Frelimo indigitou o deputado Khatupa para elencar as principais linhas que concorreram para a queda de Bonete. “Não podemos ficar sossegados quando a EN1 continua esburacada, enquanto é a via que liga todas as províncias por via da rede de estrada e constitui uma forma eficaz de eliminar as assimetrias”, criticou Kathupa, um makua de Chiúre, Cabo Delgado. A EN1 mostra sinais críticos nos troços Pambara-Save, Inchope-Caia. Criticou a falta de abertura do Ministério para busca de parcerias públicos-privadas de modo a inverter o cenário e colocar as estradas nacionais em condições de transitabilidade numa altura de poucos recursos. Tomou como exemplo a concessão das vias para terceiros em que o Ministério poderia entregar uma determinada via ao privado para reabilitar, operar, manter e, findo o prazo acordado de gestão com fundos devidamente recuperados, devolvê-la ao Estado. Eleito pelo círculo eleitoral de Cabo Delgado, Katupha fez o levantamento das vias que não estão em condições e criticou o que chamou de isolamento da Ponte de Unidade, por falta de estrada que liga Mueda a Negomano. É que do lado tanzaniano, segundo Kathupa, a via está em perfeitas condições contrastando com o lado moçambicano. Critica-se a falta de coordenação entre o governo provincial e o ministério em torno da reabilitação e manutenção de vias importantes. Desde a administração Guebuza, os residentes locais reclamavam a não construção da via que dá acesso à Ponte de Unidade e estranham o mesmo comportamento na governação Nyusi, numa altura em que o inquilino da Ponta Vermelha “é um filho deles” que devia privilegiar o desenvolvimento da província. Só que a “Ponte da Unidade” é um dos vários “elefantes brancos” do país, feita a partir dos fundos disponibilizados pela Vale para pagar a concessão do carvão de Tete. A via de circulação habitual entre Moçambique e Tanzânia continua a ser junto à foz do rio Rovuma, na zona de Namoto/Palma. Para contornar a falta de fundos externos, em várias intervenções, ainda como ministro, Carlos Bonete apontava o estabelecimento de parcerias público-privadas, com o recurso à concessão de algumas vias, que passarão a ter portagens, num esforço para contornar a crise, mas até a sua exoneração, tal não passou de discurso. Durante o seu mandato, outros dos grandes pecados de Bonete terá sido o facto de ter mexido com os poderoso lobby das estradas ao mandar cancelar contratos da gigante CMC nos troços Montepuez-Ruassa; Litunde-Lichinga e Malema-Cuamba, tendo avançado com outros empreiteiros. O Ministério das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos é dos ramos governamentais que gere um dos maiores orçamentos de investimento público e onde circulam chorudas comissões para atribuição de concursos. Bonete estava a investigar cerca de 530 obras com processos problemáticos e que põem em causa vá- rios lobbies nacionais. 6HFWRUGDViJXDV Outro dos grandes problemas de Bonete foi a inércia na gestão do sector das águas. As restrições no abastecimento de água às cidades de Maputo e Matola e ao município de Boane obrigaram vá- rias empresas a cortarem as suas metas. Isto foi visto como paradigmático da inércia no pelouro dirigido por Bonete. Aparentemente e, apesar da conjuntura, (´El Nino” e outros fenómenos climatéricos adversos), o sector protelou na tomada de decisões na presente crise da água. Mas não é culpa de Bonete que o Brasil tenha suspenso o projecto da barragem de Moamba-Major por suspeita de corrupção no favorecimento de um consórcio moçambicano ligado ao círculo de interesses do antigo presidente Armando Guebuza. Carlos Bonete pautou por uma visão virada para o futuro, lançando, nessa perspectiva, o projecto de expansão dos sistemas de abastecimento de água na região de grande Maputo, a partir da barragem de Corumana, no Sabié. Porém, está com grande atraso parte do projecto que compreende uma estação de tratamento de água, uma estação de bombagem, para além da canalização da água de Corumana à Machava e a implantação de comportas hidráulicas na própria barragem. A direcção nacional de recursos hídricos também não andou bem na gestão da falta de água nos Pequenos Libombos que, apesar das carestias, poderia ter servido melhor o abastecimento de água à população e aos próprios agricultores da banana junto ao Umbelúzi. Os pecados de Bonete /REE\PDFRQGHH(1 GHWHUPLQDQWHVQDTXHGDGRPLQLVWUR ‡-RmR2VYDOGR0DFKDWLQHpRKRPHPTXHVHVHJXH ‡0DWHXV.DWKXSDLQGLJLWDGRSHOD&RPLVVmR3ROtWLFDSDUD´HVWUDWHJLFDPHQWHµH[SOLFDUDTXHGDGH%RQHWHQR3DUODPHQWR O jovem e engenheiro civil, João Machatine, é o homem que se segue. Pertence ao círculo mais próximo do Presidente e esteve desde a primeira hora na campanha eleitoral partidária com Filipe Nyusi, logo quando foi indicado pré-candidato pela Comissão Política. O trabalho do INGC (gestão das calamidades naturais) tem sido uma das bandeiras do governo, sendo a sua actividade largamente utilizada como “salva-vidas” das várias crises em que o governo se tem envolvido, como foi o caso do desabamento trágico da lixeira do Hulene. Machatine tem mostrado estar à altura dos desafios, mostrando inclusive os seus “galões” políticos, como no caso em que afrontou a polémica governadora de Sofala, Helena Taipo, sobre o desempenho do INGC local. Machatine: o homem que se segue Carlos Bonete Savana 18-05-2018 9 PUBLICIDADE SOCIEDADE ZZZ SDJLQDVDPDUHODV FR P] 3(648,6$ 21/,1( +80000 +80000 +80000 UNFPA, Fundo das Nações Unidas para População, é uma agência internacional de desenvolvimento que trabalha em prol de um mundo onde cada gravidez é desejada, cada parto é seguro e o potencial de cada jovem é realizado. O UNFPA solicita candidaturas de FLGDGmRVPRoDPELFDQRVTXDOLÀFDGRVHH[SHULHQWHVSDUDDVVHJXLQWHV vagas: Posto # e título: Posto nº 16164, Analista de Monitoria e Avaliação, SRH, SB-4 Posto nº 16172, Assistente Financeiro, SRH, SB-3 Tipo de contrato, nível: Service Contract Local de Trabalho: Tete, Moçambique Duração: Inicialmente doze (12) Meses, com a possibilidade de renovação Prazo de Candidatura: Submissão de candidaturas até 21 de Maio de 2018 Posto nº 16164, Analista de Monitoria e Avaliação, SRH, SB-4 https://www.unfpa.org/jobs/national-post-me-analyst-srh Requisitos Gerais: Licenciatura em saúde publica, ciências sociais, JHVWmR H RX RXWURV FDPSRV UHODFLRQDGRV &LQFR D VHLV DQRV GH H[- periência comprovada em monitoria e avaliação de programas, de preferência em programas sociais ou de saúde pública em Moçambique; Conhecimento comprovado de RBM e abordagem baseada em GLUHLWRVKXPDQRV ([FHOHQWHVKDELOLGDGHVGHSODQHDPHQWR DQiOLVHH avaliação; Boa capacidade de escrita, comunicação e treinamento; 3URÀFLrQFLDHPJHVWmRGHEDQFRGHGDGRVHSDFRWHVHVWDWtVWLFRV ([- periência comprovada em gestão de sistemas de monitoria em temSRUHDOHSHVTXLVDRSHUDFLRQDO pGHVHMiYHO ([SHULrQFLDHPWUDEDOKDU com instituições governamentais, organizações bilaterais e multilateUDLVHVRFLHGDGHFLYLO ([SHULrQFLDHPSURMHFWRV SURJUDPDVRXSROtWLcas multissetoriais; Conhecimento do sistema das Nações Unidas em geral, e especialmente do mandato do UNFPA, suas políticas, operao}HVHWySLFRVDFWXDLVGHGHVHQYROYLPHQWR +DELOLGDGHVHPLQIRUPitica; Fluência em português e inglês Posto nº 16172, Assistente Financeiro, SRH, SB-3 KWWSV ZZZ XQISD RUJ MREV QDWLRQDO SRVW ÀQDQFH DVVRFLDWH VUK Requisitos Gerais:/LFHQFLDWXUDHPFRQWDELOLGDGH ÀQDQoDVHJHVWmR GH HPSUHVDV H RX iUHDV UHODFLRQDGDV &LQFR DQRV GH H[SHULrQFLD FRPSURYDGDHPÀQDQoDV ([SHULrQFLDQRXVRGHFRPSXWDGRUHVHSDFRWHVGHVRIWZDUH 06:RUG ([FHO HWF HSDFRWHVGHSODQLOKDHEDQFR de dados; Fluência em português e inglês Para mais informações relacionadas com os termos de referência, os interessados podem tê-las através dos websites acima mencionados. Como se candidatar: As aplicações/candidaturas devem ser subPHWLGDVDWUDYpVGRVZHEVLWHV 1mRKiQHQKXPDFREUDQoDGHWD[DGH candidatura, processamento ou de outra natureza. O UNFPA não solicita ou procura obter informações dos candidatos quanto ao seu estado de HIV ou SIDA e não discrimina com base na situação de HIV e SIDA. UNFPA, Fundo das Nações Unidas para População Av. Julius Nyerere, 1419, PO Box 4595, Maputo, Mozambique Anúncio de Vagas 10 Savana 18-05-2018 SOCIEDADE A desorçamentação no Estado moçambicano, ou seja, a retirada de fundos do Orçamento para serem usados em contas desconhecidas e sem qualquer escrutínio, continua a ser um cancro no país, com milhões de Meticais a serem usados à revelia. Cálculos do Instituto de Estudos Económicos e Sociais (IESE) indicam que cerca de 25% do total dos recursos financeiros do Estado estão a ser usados à margem do Orçamento do Estado (OE), uma clara violação dos princípios e legislação sobre a gestão das finanças públicas. Falando esta semana, em Maputo, numa conferência organizada pela sociedade civil sob o lema “Como está Moçambique”, o economista e investigador do IESE, António Francisco, voltou a lançar duras crí- ticas sobre os saldos de caixa, um assunto que a sua instituição tinha despoletado em 2016. Em Fevereiro daquele ano, o IESE, através de uma pesquisa fundamentada em dados oficiais de execução orçamental da Conta Geral de Estado (CGE), auditada pelo Tribunal Administrativo e aprovada pela Assembleia da República, desmontou a tese de que Filipe Nyusi tinha herdado um Estado com cofres vazios de Armando Guebuza. De acordo com uma pesquisa, Nyusi herdou um Estado com 72 milhões de Meticais, só que esse saldo de caixa, transitado de 2014, último ano da administração Guebuza, não foi declarado no OE de 2015 e, pelo contrário, foi colocado em outras contas que não são conhecidas e, como tal, não são escrutinadas. A prática, descrita nos meandros económicos como um factor de instabilidade financeira na economia, repetiu-se em 2016, quando o Governo de Filipe Nyusi não declarou os 46 milhões de Meticais de saldo de caixa de 2015. E em 2016, o executivo fechou o exercício económico com um saldo de caixa de 73 milhões de Meticais, também não declarados no Orçamento de 2017. É a chamada desorçamentação, uma prática que consiste em colocar e utilizar recursos financeiros do Estado fora do Plano Econó- mico e Social (PES) e da sua expressão financeira, o Orçamento do Estado (OE), como se de um fundo oculto ou paralelo se tratasse, escapando assim às previsões dos vários orçamentos e ou à aplicação da generalidade das regras de planeamento, de execução orçamental e de controlo interno. Assim, no ano seguinte, começa-se o exercício económico com saldo zero, quando há dinheiro não declarado fora do OE, o que permite a sua utilização sem prestação de contas, uma clara violação de princípios e regras de gestão orçamental, como a universalidade, a unicidade, a publicidade e a especificação das contas, conforme preconiza a Lei sobre o Sistema de Administração Financeira do Estado (SISTAFE). Cálculos do IESE referem que os fundos que estão a circular fora do OE representam cerca de 25% do total dos fundos do Estado. Para António Francisco, que se debruçava sobre “Crise Financeira e Consolidação Fiscal: o problema da desorçamentação”, com esta prática, os saldos de caixa são utilizados sem monitoria mas, por outro lado, a sua omissão do OE permite que o Governo vá ao mercado pedir créditos superiores, assumindo que não tem valor nenhum. “Os limites de crédito para obter títulos de tesouro na banca, que incrementam a dívida, poderiam ser evitadas se se tivesse em conta esse valor que nunca é tomado em conta”, explicou o economista. Para Francisco, “o caso das dívidas ocultas é um caso extremo de desorçamentação, em que você cria empresas ou fundos…quantos fundos existem? Quantos institutos existem? A gente não sabe. Então, retirando do controlo orçamental, você depois usa o dinheiro duma forma indisciplinada e sem regras”. Entende que uma das formas de recuperar a credibilidade que perdeu seria o Governo moçambicano respeitar as leis e os princípios na gestão orçamental. “Quando a gente começa a desrespeitar a lei e acha isso normal, então, somos transparentes na intransparência, na indisciplina e na ilegalidade”, disse o académico para quem respeitar o SISTAFE não é apenas uma questão de transparência, mas também porque a sonegação de recursos públicos é ilegal. Mudar o sistema político Na mesma ocasião, o pesquisador do Centro de Integridade Pública (CIP), Edson Cortez, que falou sobre o “Sistema Político como Factor de Crise”, disse que, em Moçambique, com o partido dominante, a Frelimo, o Estado é usado para acumulação de recursos. Criticou o que chamou de poderes absolutos conferidos ao presidente da República, que nomeia a tudo e todos, desde o executivo ao judicial e controlando o legislativo, o que propicia um sistema político baseado no clientelismo. Considera que, num contexto em que a narrativa do partido dominante é “ou está connosco ou está contra nós”, juntar-se ao partido no poder significa ascensão económica, social e política. Mas Cortez alerta que, a longo prazo, este modelo político não é sustentável porque a eclosão de disputas estará sempre iminente. “Ou mudamos as regras de jogo ou o sistema se manterá pernicioso”, disse. Quem também defendeu mudanças estruturais é o economista João Mosca, que foi orador sobre “Dilemas da Saída da Crise”. Para o também director do Observatório do Meio Rural (OMR), a crise que o país atravessa resulta de situações internas de governação. Descreveu como uma crise profunda, de estrutura da economia e do sistema político, cuja mudança requer uma solução estratégica a longo prazo. Defendeu o fim da exploração predadora de recursos, e propôs mudanças nas políticas orçamentais e reformas nas Empresas Públicas. “O que penso, como cidadão, é que ou há reformas profundas no actual sistema político ou não haverá alteração substancial na economia. Sem isso, a crise até pode melhorar, mas os elementos que criam crises manter-se-ão porque o modelo será o mesmo”, indicou, lembrando que, muito antes da eclosão das dí- vidas ocultas, já havia alertas de que o país poderia entrar na bancarrota se medidas sérias não fossem tomadas. O evento, organizado pelo IESE, CIP, OMR e a Fundação Mecanismo de Apoio à Sociedade Civil (MASC) foi marcado por grupos de choque, constituídos na sua maioria por jovens da Organização da Juventude Moçambicana (OJM), o braço juvenil da Frelimo, os mesmos que nos últimos tempos têm aparecido em eventos da sociedade civil a desacreditarem aqueles que criticam a governação do dia. Governo gasta milhões de meticais à revelia Onde está o dinheiro do povo? ALUGA-SE CONTENTOR DE 20 PÉS PARA MERCEARIA, Localizado na Av. Lurdes Mutola, Magoanine Perto da Paragem Fim do Muro Contactos: 82 8815880/84 0651802 Por Armando Nhantumbo A empresa Electricidade de Moçambique (EDM) tem fora da sua caixa um valor que ronda em cerca de três mil milhões de Meticais (USD50 milhões), dinheiro que empresas públicas e privadas, assim como singulares devem pagar à distribuidora nacional de energia. De acordo com a empresa, as dívidas devem ser pagas pelos devedores numa modalidade que varia de três a seis parcelas. Os números foram revelados nesta quarta-feira, em Maputo, pelo Director Comercial, Benjamim Fernandes, quando falava à margem do encontro que a empresa manteve com a Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA). Com o encontro, a EDM queria partilhar, com as empresas, as novas modalidades facilitadoras na instalação de corrente eléctrica para as empresas. “É preocupante porque o volume das dívidas tem estado a crescer. O que nós estamos a fazer é negociar pagamentos a prestações com as instituições do Estado em três ou seis prestações e assim conseguimos recuperar o valor da dívida e evitar que ela cresça”, disse Benjamim, que acrescentou que os valores estão na ordem de três mil milhões de Meticais. Custo da tarifa Fernandes explicou que, relativamente a tarifa, o que a empresa faz antes de aumentar é discutir com o Ministério dos Recursos Minerais e Energia, pois a EDM tem apenas de informar o governo sobre o preço de venda e o custo e como a tarifa e ainda como deve evoluir para cobrir os custos de produção e manutenção. “As tarifas estão a ser actualizadas de acordo com o custo de fornecimento de energia (…) Neste momento o custo de fornecimento de energia está acima do preço de venda ao cliente. A empresa não está comercialmente sustentável porque não se pode operar uma tarifa que seja inferior ao custo de fornecimento”, lamentou, acrescentando que o que a empresa está fazer é actualizar o preço ao cliente de modo que consiga cobrir os custos de fornecimento. Por seu turno, Egídio Leite, Presidente do Pelouro dos Recursos Minerais, Hidrocarbonetos e Energia, disse estar a fazer acompanhamento das reformas que a EDM está a realizar. “As reformas que a EDM está a implementar são acompanhadas pelo sector privado e temos tido encontros em que vamos alinhando aquilo que são as visões da EDM e sector privado”, esclareceu. (Rafael Ricardo) A nível interno EDM tem três mil milhões de MT por cobrar $QWyQLR)UDQFLVFRLQVLVWHQRÀPGD GHVRUFDPHQWDomRGR(VWDGR 3DLQHOTXHGLVFXWLX´FRPRHVWiRSDtVµ Savana 18-05-2018 11 PUBLICIDADE SOCIEDADE 12 Savana 18-05-2018 PUBLICIDADE SOCIEDADE A bancada parlamentar da Renamo na Assembleia da República promete honrar o compromisso assumido pelo seu falecido lí- der, Afonso Dhlakama, no debate sobre a descentralização, incluindo a proposta do partido de que os administradores distritais devem ser nomeados pelo governador provincial, durante o período entre 2019-2024. Trata-se de uma posição também defendida pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM), mas que não é acolhida pela Frelimo. Passaram a 12 de Maio, 90 dias após a submissão pelo chefe de Estado da proposta de revisão pontual da Constituição da República à Assembleia da Repú- blica, o que abre espaço para que o processo corra normalmente, sem a necessidade de aquele órgãos legislativo assumir poderes extraordinários, ou convocar um referendo. Paralelamente, arranca também a contagem decrescente para o encerramento da VII Sessão Ordinária da Assembleia da República, na sua VIII legislatura, cujo ponto mais alto é o debate e aprovação da revisão pontual da Constituição da República, que expressa os consensos alcançados entre o líder da Renamo e o chefe do Estado, no âmbito da descentralização. As bancadas parlamentares continuam a divergir quanto ao modelo de nomeação dos administradores distritais a adoptar durante o período transitório à sua eleição, que será em 2024. Falando esta terça-feira, numa mesa redonda, organizada pelo Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD), que visava debater “os avanços, desafios e perspectivas da proposta de descentralização”, os representantes das bancadas parlamentares da Renamo e do MDM comungam da mesma opinião, que diverge do posicionamento da Frelimo. O encontro começou com um minuto de silêncio em memória do presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, falecido no passado dia 3 de Maio. O MDM advoga que o ideal para se ultrapassar este imbróglio seria a antecipação da eleição dos administradores distritais para 2019. Este entendimento não é acolhido pelas outras duas bancadas, que consideram que a mesma viola o acordo alcançado entre Nyusi e Dhlakama, que aponta 2024 para a eleição de administradores. O Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) ao nível da cidade de Maputo convocou, na manhã desta quarta-feira, a comunicação social para manifestar a sua “satisfação” face àquilo que chama de “progresso significativo” no que se refere  aos números que tem estado a conseguir nos últimos tempos no âmbito do censo eleitoral que termina nesta quinta-feira. O processo de registo eleitoral arrancou a 19 de Março último. Os números propriamente ditos revelam que a Comissão Provincial de Eleições da Cidade de Maputo conseguiu inscrever, até esta terça-feira, 557.168 eleitores, dos 796.965 previstos, o que corresponde a uma realização em 69,91 por cento. Fazendo cálculos com o total previsto por recensear (796.965), os números indicam que, na cidade de Maputo, ainda faltava ainda inscrever, 26.565.5 eleitores. Ana Ângela Chimane, presidente da Comissão Provincial de Eleições da Cidade de Maputo, entende que o organismo que dirige está tranquilo porque o número alcançado até 15 de Maio corrente não está longe do projectado,  até porque, de acordo com as palavras dela, nestes últimos dias, o STAE tem vindo a registar enchentes nos postos de recenseamento, o que significa haver maior probabilidade de até ultrapassar a meta prevista. “Os 69,91 por cento alcançados até terça-feira nos confortam porque sabemos que os munícipes deixam tudo para a última hora. Nos últimos 12 dias temos estado a registar afluência dos eleitores, mas apelamos aos que ainda não se recensearam  para realizar  o seu dever cívico que é um acto de cidadania”, disse. (Eduardo Conzo) Mesmo sem alcançar metas STAE fala de números satisfatórios Deste modo, as duas bancadas da oposição são de opinião que o administrador distrital deve ser nomeado pelo ministro que superintende a área de Administração Estatal, sob proposta do governador provincial. O vice-chefe da bancada do MDM, José Lobo, diz não ver nenhum problema sob o ponto de vista legal para a não antecipação das eleições, porque as eleições, quer autárquicas quer legislativas, das assembleias provinciais e presidenciais foram convocadas no quadro da legislação vigente, sendo que, havendo revisão pontual da CRM, são necessários ajustamentos ao pacote eleitoral. Entende Lobo que é preciso que a descentralização e a desconcentração caminhem de mãos dadas e à mesma velocidade. Governador deve indicar administradores Ezequiel Guce, deputado da AR, que falava em representação da Renamo, justificou o posicionamento da sua bancada, apontando que o governador deve escolher a sua equipa de trabalho de modo a operacionalizar o seu plano de governação, que, caso contrário, corre o risco de ser sabotado. Diz não fazer sentido que o presidente do município tenha o poder de nomear os seus vereadores, incluindo os dos distritos municipais, que são o seu braço de apoio para operacionalizar a governação municipal e, em contrapartida, o governador que tem um território muito vasto por dirigir, não tenha esse privilégio. Fez notar que há sérios problemas de relacionamento entre os presidentes dos conselhos municipais, governadores e administradores dos distritos (nas áreas em que o território do município coincida com o distrito) caso pertençam a partidos diferentes. Afirmou esperar esta tensão caso o administrador seja nomeado centralmente e tenha um governador provincial proveniente de um outro partido. “As populações querem ver reflectido o poder daquele que elegeram em toda a extensão provincial, o que passa pela nomeação dos administradores. Sem poder de controlo dos administradores, o governador dirige o palácio apenas”, destacou. Guce, que também é relator da primeira Comissão, manifestou o apoio da sua bancada ao modelo de eleição dos presidentes das autarquias via cabeça de lista, argumentando que poupa recursos fi- nanceiros e desconfiança, porque só haverá um modelo de boletim de voto, o que vai ajudar na poupança de tempo de contagem de votos. Em finais de Março, as três bancadas assinaram um pacto para viabilizarem o debate e a aprovação da revisão pontual da CRM, no qual o único dissenso residia no modelo de nomeação do administrador, tendo por via disso a Renamo e a Frelimo devolvido o expediente às suas lideranças para buscarem um novo consenso. Questionado em torno da resposta do líder da Renamo, Guce disse que a resposta de Dhlakama foi a que a bancada tem defendido que aponta que o administrador deve ser nomeado pelo ministro que tutela a administração pública, mas sob proposta do governador provincial. “Em homenagem ao presidente não podemos mudar de posição e vamos exigir até às últimas consequências que o administrador seja nomeado mediante aquele modelo”, disse. Cumprir o acordo A bancada parlamentar da Frelimo, representada pelo deputado Lucas Chomera, defende a manutenção do actual modelo de nomeação do administrador distrital, pelo ministro da Administração Estatal e Função Pública, ouvido o governador provincial, como forma de cumprir na letra e no espírito os consensos alcançados entre as lideranças da Renamo e do Governo, que apontam para 2024 a reforma do sistema. Explica que o período que vai de 2019 a 2024 está reservado à operacionalização do novo modelo de governação descentralizada provincial e, só em 2024, que se vai eleger as assembleias e os administradores distritais. “No actual regime, o administrador distrital é representante dos órgãos centrais e é chefe do executivo distrital, com função de dirigir o órgão executivo distrital por isso é nomeado pelo ministro que superintende a área de administração Estatal”, aclarou. Chomera, que é presidente da Comissão parlamentar da Administração Pública e Poder Local, fundamentou o posicionamento da Frelimo no princípio de gradualismo segundo o qual o enquanto a governação descentralizada não abranger o nível distrital, deverá se manter o actual regime de organização e funcionamento dos órgãos locais do Estado a nível distrital e nos termos da lei dos órgãos do Estado. Esclareceu que é preciso que, enquanto se aguarda pelo ano da realização das eleições, sejam criadas condições para que as assembleias distritais e o administrador possam gozar de autonomia própria, não se subordinando ao governador provincial e nem ao secretário de Estado para a província. Recomendou que a forma de o governador provincial exercer o seu poder a nível dos distritos passa por seguir o modelo praticado pelas autarquias locais, que constituíram os seus órgãos técnicos e administrativos nas unidades administrativas territoriais, serviços técnicos e administrativos e por fim nos colectivos de consultas de modo a não quebrar a letra e o espírito dos consensos. Não haverá, segundo Chomera, falta de prestação de contas por parte dos administradores ao governador, caso não pertençam ao mesmo partido, pois há instrumentos que regulam isso. Descentralização Renamo promete honrar Dhlakama Por Argunaldo Nhampossa Parlamentares divergem no modelo de nomeação dos administradores distritais SOCIEDADE Savana 18-05-2018 13 PUBLICIDADE Ministério das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos Uma iniciativa do: Feche a sua torneira, evite o desperdício de água Vamos todos poupar água “Visão Estratégica da Liderança: Instrumento para o Desenvolvimento da Comunidade em Tempos de Crise” 14 Savana 18-05-2018 Savana 18-05-2018 15 NO CENTRO DO FURACÃO Confesso que foi uma grande surpresa para mim, ter recebido este convite para vir proferir uma aula de abertura do ano académico, na Universidade Pedagógica, mais propriamente na sua Delegação de Massinga. Em primeiro lugar, a gente considera que quanto mais longe da Capital, menos nos conhecem, por isso foi surpreendente este convite, que muito me honra. Em segundo lugar, é a primeira vez que me dirijo a académicos e estudantes da Universidade Pedagógica, num Distrito onde, naturalmente os momentos de reflexão como este, são raros e por isso, maior é a exigência de quem tem a ventura de ser chamado para o efeito. Não é a primeira vez que estou perante académicos e estudantes da Universidade Pedagógica. Já estive em Maputo e na Beira, para o mesmo efeito, mas esta presença em Massinga tem particular importância, pelo facto de ser Massinga, a minha primeira vez na Pedagógica, na província de Inhambane. Por isso, quero agradecer aos dirigentes desta Delegação e manifestar-lhes a minha emoção por poder estar aqui e partilhar convosco algumas linhas de reflexão sobre o tema que me propõem. Naturalmente, que não posso deixar de estender o meu cumprimento ao Magnífico Reitor da Universidade Pedagógica, Prof. Doutor Jorge Ferrão, amigo de longa data, companheiro e cúmplice de muitas caminhadas. O tema que me propõem exige de mim que entre por ele com algumas notas introdutórias. Logo na primeira expressão “Visão Estratégica da Liderança“, aparecem três conceitos que nos levam a uma percepção de movimento. Visão demonstra uma percepção do olhar à distância para prevenir obstáculos e procurar êxitos. Visão significa que o visionário só pode dar passos seguros que sejam em direcção ao êxito. Estratégica é um conceito que foi retirado do contexto militar, adoptado depois pela Economia e pela Gestão. Falar de Estraté- gia, significa pensar-se antes de encetar qualquer caminhada, de modo a apetrechar-se, para evitar percalços ao longo do percurso que se vai ter, tendo em conta as probabilidades de obstáculos que podem ser encontrados. Estratégia não é mais do que definir os contornos de um percurso, colocando em cima da mesa, todas as variáveis que podem facilitar ou dificultar a caminhada mais o objectivo definido. Os militares quando vão para as campanhas bélicas nunca deixam de se reunir primeiro, para planificar cada passo que vão dar, analisando os prós e contras que possivelmente podem estar no seu caminho e quais as probabilidades de os ultrapassar, tendo como fim último, o êxito da missão. Finalmente, “Liderança“ é um termo que foi retirado da Política e dos Desportos que por sua vez foram buscar estes conceitos aos primórdios da História da Humanidade, sobretudo entre os caçadores, no início da formação dos grupos sociais. Lí- der significa aquele que melhor sabe conduzir os seus pares para qualquer êxito. Os Romanos chamavam-nos primus inter pares, o primeiro entre iguais. O conceito Liderança diferencia-se completamente do conceito Chefia. Chefe vem do latim caput, que significa cabeça. Por isso, o Líder conduz de uma forma horizontal e o Chefe conduz de uma forma vertical. Chefe é obedecido pelos subordinados e o Líder é acompanhado pelos seus pares. Nunca devemos confundir estes dois conceitos liderar ou chefiar, duas formas muito diferentes de comandar uma missão. A segunda parte do tema que me apresentam, “Instrumento para o Desenvolvimento da Comunidade em Tempos de Crise”, o conceito Instrumento leva-nos a considerar que o homem, para alcançar determinados fins, precisa de amplificar as suas capacidades, utilizando elementos que reforçam essas mesmas capacidades. Um guerreiro destemido é muito mais forte com a sua arma. Um orador exímio é muito mais forte com a sua oratória, um músico talentoso é muito mais forte com a sua viola, com o seu saxofone. Todos esses adereços que são usados para reforçar a capacidade de alguém são elementos importantes e mostram que quando bem usados alcançam resultados seguramente mais vantajosos. Naturalmente que a conjugação de uma visão estratégica de liderança necessita de instrumentos que permitam poder chegar àquilo que é no fundo a pretensão última do tema que venho aqui desenvolver. Desenvolvimento da Comunidade em Tempos de Crise Falar de Desenvolvimento da Comunidade em Tempos de Crise pode parecer um paradoxo, porque em tempo de crise é suposto não haver desenvolvimento, porém como atrás se referiu, há uma visão estraté- gica de liderança, o que significa que em tempo de crise é sempre possível aqueles que o são “primus inter pares“ ter a criatividade suficiente para, usando das suas diversas capacidades como instrumento, conduzir os seus pares ao encontro de identificação de oportunidades, de modo a que a crise não seja o fim, mas sim o ponto de partida para se começar a caminhar. Como se diz vulgarmente “A crise nunca será um obstáculo, mas sim uma oportunidade”. Na proposta do tema a desenvolver não se tipifica o conceito Comunidade. Este facto deixa em aberto a abordagem que vou fazer sobre como contribuir para o Desenvolvimento da Comunidade em Tempos de Crise. No sentido mais amplo, uma comunidade pode coincidir com a sociedade, isto é, falamos de crise internacional, logo toda a Comunidade Humana sofre efeitos dessa crise. Mas também podemos fraccionar o todo por diversas partes que compõem o expectro, assim, a crise internacional afecta a comunidade de trabalhadores, a comunidade empresarial dos países pobres, a comunidade de agricultores, a comunidade académica e por aí abaixo. Quer isto dizer que os sintomas da crise não duram para sempre, daí a determinação “Em tempos de crise”. Contudo, todos sabemos que apesar de as crises terem o seu ciclo de vida, quando estas reaparecem de uma forma cíclica, assumem a natureza de síndrome e podem provocar ansiedade e pânico. Vivemos em África e temos de olhar o mundo a partir desta realidade. O nosso continente, os nossos países não são pobres, mas as nossas populações são muito pobres e as nossas instituições são demasiado frágeis e pouco funcionais para enfrentar com robustez os desafios globais. A partir deste pressuposto devemos interrogar-nos que tipo de liderança precisamos para enfrentar esses desafios globais. Quero chamar atenção prévia antes de desenvolver esta questão. Temos um enorme defeito de considerarmos que o Governo do dia é que é o único responsável por tudo quanto de bom ou de mal nos acontece. E que os nossos políticos não se preocupam com os seus povos. Mas esquecemos de que cada povo tem os políticos que merece. É o reverso da medalha. Desde que os Países Africanos saí- ram da situação de dominação colonial que vivem permanentemente em situação de alguma crise qualquer, seja ela política, seja ela económica e financeira, seja ela resultante de calamidades naturais, seja ela de golpes de estado, seja ela de conflito de vária ordem e até guerras, umas civis, outras entre estados. Esta situação tem nos levado a uma percepção de que no nosso Continente as coisas não estão bem. Quer isto dizer, que os Afro - pessimistas de dentro e de fora, juntam-se em coro para proclamar de que África é um continente inviável por culpa dos próprios africanos. O afro - pessimismo é, não só um preconceito, como também uma ideologia e até está a torna-se sobretudo numa teoria. Qualquer que seja a sua aferição, desde um puro preconceito com base no senso comum, passando por posicionamento ideológico de que falta à África uma escola que produza de uma forma genuína e sistemática uma escola de liderança que verdadeiramente se preocupa com as questões da boa governação, até desembocar nas tentativas de produção teórica de que a África é um continente inviável, devido à falta de reflexão epistemológica verdadeiramente africana, isto é, falta aos africanos um pensamento produzido pelos próprios. Tudo isso entronca directamente no eurocentrismo. Quer isto dizer que, do ponto de vista africano, dada a convicção do fracasso das suas dinâmicas, a solução deve ser encontrada a partir dos pressupostos eurocêntricos, ou seja, a partir dos modelos ocidentais. O pior é quando são os próprios africanos a pleitarem pela validade dos modelos eurocêntricos para a salvação de África, sem que haja qualquer crivo que permita a indigenação dos pressupostos filosóficos e dos elementos que permitiriam a produção de parâmetros apropriados para o desenvolvimento de África como sujeito no contexto global. Contrariamente ao que se possa supor o Afro - Pessimismo tem estado a crescer a par do surgimento de cada vez maiores assimetrias que se vão constatando entre a África e os outros continentes. Do ponto de vista polí- tico, os dirigentes africanos de uma forma geral não têm merecido um grande apreço junto dos seus pares de outros continentes, mercê de atitudes a eles próprios imputados, nomeadamente a evidente preocupação de se perpetuarem no poder, o descaso que fazem às constituições dos próprios países, o desprezo às Instituições credenciadas que possam monitorar problemas de má governação, a incapacidade de combater com eficácia o fenómeno da corrupção, a fragilidade das organizações da Sociedade Civil, a intolerância e desrespeito pela opinião de quem pensa diferente e o desrespeito dos direitos fundamentais do cidadão, nomeadamente à justiça, à habitação condigna, à saúde, à educação, ao transporte e ao serviço público eficiente e eficaz. Contudo, devemos considerar que nem sempre foi assim. A África já produziu filhos que foram capazes de reflectir sobre o futuro de África e muitos deles conduziram este continente de uma forma exemplar rumo à erradicação da dominação colonial. Então pergunta-se onde e quando é que perdemos o foco? Em 1993, os dirigentes africanos decidiram liquidar a Organização da Unidade Africana – OUA e criar a União Africana – UA, fizeram nessa ocasião uma profunda reflexão sobre as razões porque África desde a dé- cada de 60, marco histórico da libertação do continente face ao colonialismo até a década de 90, não havia conseguido perfilar-se de igual para igual no concerto das nações como um continente a respeitar e ter em conta. Os dirigentes africanos, nessa data, não se ficaram pela reflexão, definiram as linhas da boa governação na área política e democrática, na área económica e empresarial e na importância do desenvolvimento social e humano. E algum exercício foi feito de 90 até a esta parte, para tornar as Instituições dos países africanos em Instituições mais robustas, de modo a que não seja apenas o Homem, o dirigente, a peça fundamental para o bom funcionamento de uma nação, mas sim a robustez das próprias Instituições. Por outro lado, o projecto de Muhamar Kadafi, o então Presidente da Lí- bia, que retomava as teses da geração do Kwame Nkrumah, fundadas nos pressupostos teóricos do Pan Africanismo, mostravam claramente que África só podia ser uma grande potência se fosse capaz de se unir política, social e economicamente. Portanto, África tem procurado reflectir sobre si própria e tem muitas vezes encontrado fórmulas para definir os pontos de saída para este marasmo. A História ensina-nos que sempre que África se levanta e tenta reflectir sobre si próprio, por causa da fragilidade das Instituições então criadas, um movimento em contramão faz fracassar estas dinâmicas. Daí que os teóricos do Afro Pessimismo venham ao de cima, defender que de boas intenções África está cheia, mas não tem capacidade para as pôr em prá- tica. Temo que o Afro - Pessimismo seja uma enfermidade que nos está a enredar a todos nós, de tal forma que facilmente o senso comum que dirige os preconceitos contra África venha a defender que a salvação de África será uma nova colonização. Que no fundo, de uma certa forma sub-reptícia existe na sobrevivência de algumas organizações que lutam permanentemente pela nossa forma de ser e estar, clamam a nossa falta de qualidade, sem reflectir a questão da qualidade, ela própria e sobretudo, esta nossa ânsia permanente de afirmar que o que vem de fora é melhor. A independência de Moçambique O nosso País, como País Africano que é, não escapa a esta reflexão. Moçambique tornou-se independente após uma Luta Armada de Libertação Nacional de 10 anos, que muito nos orgulha. Moçambique enfrentou durante os primeiros anos da sua independência poderosos inimigos, a partir das suas fronteiras e aguentou-se, estoicamente com grandes dificuldades de sobrevivência dos seus cidadãos, passando fome e necessidades, mas contribuiu grandemente para a modificação da geopolítica da região. O Zimbabwe tornou-se independente, a África do Sul aboliu o Apartheid e a Comunidade dos Países da África Austral tornou-se numa respeitável sub-região de toda a África, graças ao grande empenho e muito sacrifício de Moçambique. O nosso País produziu ao longo de quase 5 décadas de Independência muitos documentos pensados e elaborados por cidadãos moçambicanos. Quero destacar aqui o Plano Prospectivo Indicativo – PPI, a Agenda 2025 e os Relatórios do Mecanismo Africano de Revisão de Pares – MARP. Todos estes documentos mostram que nós os moçambicanos temos conhecimento profundo das nossas realidades, das nossas dificuldades e dos possíveis caminhos a seguir. No entanto, a assunção dos métodos correctos para a implementação dos pressupostos enunciados nos tais documentos tem sido problemática. Torna-se difícil para mim, pegar nestes assuntos todos numa conferência de cerca de uma hora e desenvolvê- -los de modo a discutir ponto por ponto os elementos centrípetos e centrífugos, relativamente ao que falta para que o nosso país possa sair das crises cíclicas que tem vivido. Desenvolvimento da Comunidade em Tempos de Crise é um pressuposto de que a Crise tem tempos no plural, e isto é um facto. Moçambique desde que se tornou independente tem conhecido crises cíclicas, de natureza política, social, económica, militar ou político – militar, apesar de ter sido até este momento governado continuamente por um só partido. Então o problema não está na continuidade ou descontinuidade de quem governa. Muitos dos nossos considerados parceiros e amigos têm – nos aconselhado de que a saída das crises para Moçambique seria haver uma alternância governativa. Pessoalmente considero esta posição uma pura falácia, porque parto do princípio de que o que enfraquece a nossa existência, como nação, não são só os partidos polí- ticos que pretendem governar este País, mas também todo o conjunto de Instituições que compõem o Estado Moçambicano. Por isso, faço aqui uma guinada para falar da nossa Academia. Estou neste momento na Universidade Pedagógica, sua delegação de Massinga. Este acto é um acto formal e solene de abertura do ano lectivo. No entanto, as ideias e o pensamento que me foram solicitados a apresentar como tema, deveria merecer uma reflexão continuada sobre qual a saúde da nossa Academia e qual o seu papel no contexto das Instituições Académicas Moçambicanas, para contribuir positivamente no sentido de tornar o nosso País mais visível na região, no continente e no mundo. Em suma, a pergunta é, será que a Academia moçambicana exerce o seu real papel como centro de formação avançada e produtora do conhecimento e promotor do debate que permite alavancar o desenvolvimento do País e consolidar os valores da cidadania? A Agenda das Universidades e das Instituições de Ensino Superior é ainda muito difusa e a razão primeira que se coloca, é que a nossa Academia é muito jovem ainda e que neste momento se preocupa mais com a sua expansão territorial e numérica. Mas a História do Ensino Superior em Moçambique remonta de 1962, portanto não devemos apenas olhar só para cada uma das nossas pró- prias Instituições e preocuparmos-nos apenas com a nossa agenda de crescimento, apetrechamento em infra-estruturas e equipamentos e Docentes e mais e mais alunos, mas também olharmos que somos parte de um corpo que se chama Universidade ou Academia Moçambicana. Sejamos nós públicas ou privadas, o nosso objectivo é comum, perseguir a Ciência, o conhecimento e formar cidadãos, mas sobretudo, ter uma voz respeitada na República. A Academia é o pilar e guardião dos valores de uma nação, por isso, independentemente de quem esteja a dirigir qualquer Instituição de Ensino Superior, esse alguém, deve inserir-se na filosofia da Instituição e não tentar dirigi-la como um Chefe. Por outro lado, quando nos debatemos hoje, com questões de corrupção na Academia, significa que não estamos a ser bons guardiões dos valores da nação. Não podemos desempenhar o papel de Instrumento para o Desenvolvimento da Comunidade em Tempo de Crise quando nós próprios estamos em crise. Muitas vezes, ficamos perplexos quando confrontados com a questão da qualidade e fazemos eco com o senso comum. A Academia Moçambicana não produz quadros com qualidade e nós ficamos calados ou pior, sentimos vergonha por não saber como responder. Nunca fomos capazes de ir buscar elementos que definem claramente os contornos daquilo que é qualidade ou não qualidade. A agenda da Universidade no nosso País não se esgota na questão do ingresso e graduação dos estudantes. Nós não somos fábrica que produz em série a montagem de qualquer produto. Temos sérias e grandes responsabilidades. Todo o sistema do Estado Moçambicano, todos os órgãos, desde o Governo, passando pelas empresas, organizações, etc são dirigidos por cidadãos que nós formamos. Por isso, se esses cidadãos não estão a cumprir cabalmente as suas obrigações, por causa dos problemas que atrás enumerei, a nós não se deve, em primeiro lugar, atribuir as responsabilidades de não estarmos a cumprir com os objectivos que nos foram entregues. Para que servem as Universidades? Por isso, Visão Estratégica da Liderança, passa em primeiro lugar, não por criar líderes individuais, mas sim, por sermos capazes de formar pessoas que se integram na liderança das Instituições fortes e capazes de conduzir os destinos de uma nação. O Presidente do Gana, após tomar posse, numa breve conversa com os jornalistas, falava da sua grande vontade de combater os grandes males, considerados transversais em África, a cabeça dos quais estava a corrupção, o favoritismo e a pouca produtividade do aparelho do estado e desabafava “esta é a minha vontade e grande parte das pessoas que convidei para integrar a minha equipa parecem entusiasmadas com estas ideias. No entanto, meus caros jornalistas, eu pró- prio não estou certo se ao fim do meu mandato, serei a mesma pessoa, com as mesmas ideias e convicções que aquela pessoa que hoje aqui vos fala“. Samora Machel afirmava constantemente que o poder corrupto tão docemente como as balas de açúcar. Estes testemunhos dados pelos pró- prios líderes, face ao temor que sentem quando assumem a direcção de um estado, mostram que ninguém está imune de ser contaminado pela veracidade dos defeitos, que as pessoas acabam por assumir quando se sentem impunes e imunes. Tendo perguntado eu, para que servem as Universidades, por uma questão retórica, a resposta deve vir de dentro de nós próprios. Sendo este patamar do sistema da educação, o ponto mais alto na formação do cidadão, não podemos de forma nenhuma deixar de exigir que cumpra com as suas obrigações, de modo a que tenha capacidade moral para monitorar os cidadãos que de si saem, a fim de dirigirem os diversos sectores da sociedade. Colegas, nós não temos a real noção da importância do sistema universitário na vida das nações, porque grande parte de nós faz do espaço universitário, mais um lugar para o exercício das várias profissões que temos, de modo a termos uma vida mais confortável. Salazar tremeu quando a Universidade de Coimbra se levantou, Suharto, ditador indonésio, caiu quando a Universidade se levantou. Depois de Maio de 68, a França nunca mais foi igual com o levantamento da Universidade. Será que a Universidade moçambicana como um todo, tem consciência de que é ela que a comunidade espera, com uma visão estratégica de liderança? Fica esta questão para reflexão futura a todos os colegas de Massinga, de Inhambane e de Moçambique. *Magno Chanceler do Grupo IPS, Grupo proprietário da Universidade APolitécnica. Palestra proferida na abertura do ano académico, na Universidade Pedagó- gica, Delegação de Massinga, província de Inhambane. Entretítulos são responsabilidade do SAVANA Por Lourenço do Rosário* 16 Savana 18-05-2018 PUBLICIDADE SOCIEDADE SOCIEDADE Savana 18-05-2018 17 PUBLICIDADE AGRO-NEGÓCIO MOÇAMBICANO PREMIADO A NÍVEL GLOBAL AGRADECIMENTOS O programa de aceleração de empresas da área do agro-negócio e biotecnologia, MOZ INNOVATION LAB, recebeu durante o “GLOBAL AGRIPRENEURS SUMMIT 2018” na Turquia o prémio “Global Impact Maker of the Year 2018” pelo impulso à inovação no sector alimentar no país, através da iniciativa "Future Agro Challenge". MOZ INNOVATION LAB www.mozinnovationlab.co.mz /MozInnovationLab +258 84 506 9459 PARCEIRO ESTRATÉGICO PARCEIRO PLATINUM PARCEIRO GOLD APOIOS 18 Savana 18-05-2018 OPINIÃO Registado sob número 007/RRA/DNI/93 NUIT: 400109001 Propriedade da Maputo-República de Moçambique KOk NAM Director Emérito Conselho de Administração: Fernando B. de Lima (presidente) e Naita Ussene Direcção, Redacção e Administração: AV. Amílcar Cabral nr.1049 cp 73 Telefones: (+258)21301737,823171100, 843171100 Editor: Fernando Gonçalves editorsav@mediacoop.co.mz Editor Executivo: Francisco Carmona (franciscocarmona@mediacoop.co.mz) Redacção: Raúl Senda, Abdul Sulemane, Argunaldo Nhampossa, Armando Nhantumbo e Abílio Maolela )RWRJUDÀD Naita Ussene (editor) e Ilec Vilanculos Colaboradores Permanentes: Fernando Manuel, Fernando Lima, António Cabrita, Carlos Serra, Ivone Soares, Luis Guevane, João Mosca, Paulo Mubalo (Desporto). Colaboradores: André Catueira (Manica) Aunício Silva (Nampula) Eugénio Arão (Inhambane) António Munaíta (Zambézia) Maquetização: Auscêncio Machavane e Hermenegildo Timana. 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Pelo motivo mais simples: eu tenho muitos idiotas na família e não vejo a utilidade de escolher como meu ancestral um idiota se posso ter Goethe ou Fernando Pessoa, ou Nelson Mandela, como exemplos a seguir. Ou seja, a um ancestral sanguíneo contraponho um ancestral espiritual. A minha escolha, pessoal e intransmissível, foi tomada sem custo quando deparei com o farnel de tolos que passavam pelos antepassados directos da minha “tribo”. Eram os que constavam da minha árvore genealógica mas decididamente não eram os meus dilectos. Contudo, vejo à minha volta que as pessoas só tiveram figuras extraordinárias como antepassados. De régulos para cima, dado as nenhumas dúvidas que vejo lançadas sobre os processos que conduziram a que Moçambique esteja na cauda dos países em termos de desenvolvimento humano. É espantoso que nunca tenha um aluno a levantar um braço para me pedir que o ajude a equacionar a causa de Moçambique não descolar da cauda dos países subdesenvolvidos. Considero isto um sintoma. E dado que pelos vistos não há nada a equacionar nem a melhorar, a sociedade de repetição pode cumprir-se alegremente. Vou dar um exemplo, de más escolhas que continuam a perpetuar-se porque enfim, viver numa sociedade de repetição limita a lucidez e o pensamento crítico. Quando se escolheu uma nova toponímia para a cidade de Maputo, adoptaram-se nomes ora de combatentes ora de grandes revolucionários. Kim Il Sung, por exemplo. Mas diluída a miragem desse tempo histórico que nos trazia a ilusão de que Kim Il Sung seria um revolucionário constatámos que Ki, afinal era apenas um monarca que impôs uma sociedade em que, para além da repressão, a verdade é preterida pela propaganda. Como nos contava recentemente Hyeonseo Lee, uma dissidente: «Tinha vivido toda a vida esmagada pela propaganda da família Kim, que obrigava toda a gente a ter quadros com fotografias dos líderes pendurados nas paredes e que enviava homens de luvas brancas a todas as casas para averiguar se havia pó nas molduras». O que isto produz é uma espécie de fascismo clânico, que avilta os homens. Portanto, minada a legitimidade, manter o nome da avenida só faz sentido numa sociedade sem memória e onde se privilegie a repetição sobre a necessidade de aprender. A escolha de uma ancestralidade espiritual (as “afinidades electivas” lhe chamava Goethe) só é possível numa sociedade moderna e letrada, porque só nesta se verifica uma libertação no que se refere às imposições veiculadas pela socialização dos indivíduos. O problema disto é que dá trabalho. É necessário escolher: descansar ou ser livre. Infelizmente, ao contrário do que defendia Aristóteles, para quem «o homem é um animal que deseja saber», isto tem-se verificado falso, e o homem comporta-se como um animal que deseja a crença, daí a influência das religiões e, concomitante, a influência das ideologias políticas. E isto traz consigo outra constatação deprimente: as pessoas na sua maioria em vez de se baterem a uma crescente e gradual autonomia, paradoxalmente, batem-se para consolidar o seu estado de servidão. Em muitos textos, Castoriadis demonstrou que nas sociedades tradicionais há uma amputação do desejo. Não se fala aqui de desejo sexual nem da liberdade do burro de Beridan que escolhia entre dois montes de feno, mas do desejo como motor de transformação societá- ria. Nas sociedades tradicionais não há desejo de utopia, pois o melhor do legado humano é uma mera reactualização do passado, onde se localiza a Idade de Ouro. Tive a demonstração disso esta semana numa aula. Falava das diferenças entre a Idade Média e o Renascimento e para sublinhar que às vezes há uma concordância entre sociedades holísticas e sociedades totalitárias carreguei um pouco nas tintas do condicionamento a que o homem medievo se sujeitava, em todos os aspectos, até para os ver reagir, mas só se seguiu o silêncio à minha explanação. Inquieto, perguntei, Então, quando é que vocês preferiam viver, naqueles tempos em que até era proibido narrar os sonhos individuais ou agora? Maldita pergunta, porque vários levantaram a mão para redarguirem que preferiam ter vivido na Idade Média, Porque, explicavam, ao menos havia Ordem e não se assistiam a “coisas indecentes”. Deixando para outra ocasião a discussão sobre a “natureza das coisas indecentes”, levei o resto da aula a tentar alertá-los para o facto de que o que os assustaria na liberdade talvez fosse a responsabilidade. Este é o grande desafio que a Modernidade e o Iluminismo nos trouxeram: não há liberdade sem responsabilidade. E este peso assusta num mundo em que toda a indústria cultural está voltada para uma puerilidade bacoca que torna os adultos ada vez mais raros. De facto, era mais simples viver quando havia uma tutela para tudo e irresponsavelmente bastava seguir os ditames “dos mais velhos”, enquanto as instituições repeliam, afastavam, dissuadiam as pessoas de participar nos assuntos que lhe diziam respeito. Mas as sociedades-sem-responsabilidade, como a que temos hoje, leva-nos apenas a uma falência-não-declarada. Liberdade e responsabilidade T odos os partidos com representação parlamentar reiteraram, esta semana, o seu compromisso de tudo fazerem para viabilizar a proposta de revisão da Constituição recentemente apresentada pelo Presidente da República àquele órgão legislativo, na sequência dos entendimentos alcançados com o falecido líder da Renamo, Afonso Dhlakama. Na verdade, não deve existir neste país qualquer outra agenda que seja mais urgente que a necessidade de se encontrar um desfecho final à questão da paz e da reconciliação. E só esse facto deve ser motivo de surpresa para que até ao momento não se tenha avançado para um debate mais produtivo sobre a matéria. Depois de uma primeira abordagem, as duas principais bancadas não foram mais do que o simples reiterar das suas posições adversas, remetendo de novo o assunto aos dois titulares. A principal divergência reside no facto de enquanto a Renamo estar preocupada em encontrar um mecanismo transitório para a indicação dos administradores distritais até à realização das eleições para este escalão em 2024, a Frelimo manter a posição de que eles continuarão a ser nomeados nos mesmos moldes em que o são actualmente, ou seja, através do ministro que tutela a administração estatal. Não se sabe até aqui qual terá sido a decisão final, ou mesmo se tal terá sido feito antes da morte de Dhlakama. O que é uma certeza é que o assunto não está agendado para a actual sessão do parlamento, este, que em pouco mais de uma semana irá terminar, indo a próxima acontecer, o mais cedo apenas em Setembro ou Outubro. Deve, desde já, ser posta de lado a possibilidade de uma sessão extraordinária no intermeio, dada a enormidade do esforço financeiro para tal, numa altura em que as condições económicas do país não oferecem muito espaço para flexibilidade. Embora isto não tenha implicações para as eleições autárquicas já marcadas para Outubro, senão o facto de que estas terão de continuar a ser realizadas nos actuais moldes, o atraso na finalização deste pacote pode criar obstáculos ao processo eleitoral, em si um novo potencial para mais ruído. Mesmo considerando que as eleições gerais, nas quais a questão dos administradores distritais se deve inserir, só terão lugar em Outubro de 2019, começa a escassear o tempo para que os instrumentos legais que devem presidir a esse processo sejam aprovados. Uma eventual emenda constitucional sobre estas matérias deverá ser seguida de outras reformas legislativas sobre vários instrumentos relevantes ao processo. Isto torna estranha a forma aparentemente despreocupada com que o parlamento moçambicano tem estado a abordar a questão da revisão constitucional, facto que fica ainda mais adensado quando o presidente do partido com a maioria parlamentar, portanto com capacidade de fazer passar qualquer legislação, se pronuncia publicamente, quase que suplicando os deputados, para não criarem obstáculos à aprovação dos instrumentos que ele próprio submeteu. A história mostra que no passado, perante assuntos de extrema urgência nacional, este mesmo parlamento não se coibiu de convocar uma sessão extraordinária para decidir sobre propostas que lhe foram apresentadas. Não há certeza nisto, mas parece haver algo mais de invisível a olho nu. Haverá interesses obscuros determinados em fazer recuar tudo o que já foi feito? Ou ainda para quem existe uma alternativa melhor que esta? Só o tempo se encarregará de dar a resposta certa. Por enquanto, ficamos todos à espera. Savana 18-05-2018 19 OPINIÃO 580 Email: diariodeumsociologo@gmail.com Portal: http://oficinadesociologia.blogspot.com O uço com regular e religiosa fidelidade o programa “Uma Data na História”, que vai para o ar todos os dias na Antena Nacional da Rádio Moçambique. Se, por alguma razão, não ouço a primeira edição às 5:45 h, viro o mundo de pernas para o ar, para garantir que às 18:10 h estarei atento para ouvir a repetição. São sete ou oito minutos de informação compactada cobrindo toda a área de actividade humana de relevo, desde os tempos imemoriais da época pré-cristã até aos tempos modernos, tudo feito numa linguagem, de modo geral, simples e muito sintética. Serve, para mim, como uma ampola de informação complementar, que me tem dado muito jeito naquilo que faço quotidianamente. Feita aqui a publicidade a título gratuito, passemos ao que interessa. Na edição da quarta-feira da semana passada, 9 de Maio, foram evocados dois temas: um deles, que é o que me interessou e sobre o qual pretendo falar aqui, foi sobre a morte da cantora sul-africana Brenda Fassie. A voz e a música da Brenda sempre me fascinaram e exerceram sobre mim um efeito arrasador, desde que comecei a conviver de forma regular com a sua obra, em princípios dos anos 80. Não estou a dizer nada que me seja pessoal, uma vez que, felizmente, partilho desse prazer com inúmeros outros fãs seus, mesmo que seja só na África do Sul, onde a imprensa e a crítica especializada lhe deram o nome de “Madona dos Municípios”. Tão-pouco é de ter em menor conta o facto de que uma das suas canções foi bandeira e cavalo de batalha da campanha eleitoral do ANC, quando foi das primeiras eleições multipartidárias e multirraciais na África do Sul. Mas o que me impressionou no programa que ouvi na quarta-feira 9, dia evocativo da sua morte, foi o resumo que se fez da sua vida. Dramática, trágica, mas ao mesmo tempo heróica, naquilo que se revelou como sua capacidade infinita de cair e levantar-se logo a seguir, ultrapassando-se e às suas próprias quedas. Disse-se, então, que a sua infância foi desde logo muito difícil, quando, ainda criança ou adolescente, acompanhava a mãe pianista cantando para turistas a troco de alguns rands, isto na sua cidade natal, Durban. Nos primeiros anos da sua juventude, Brenda aventurou-se para Joanesburgo, onde, juntando-se a um e outro grupo, fez o início da sua carreira cantando nos subúrbios do Soweto, de onde lhe veio a alcunha de “Madona dos Municípios”. Acima de tudo, era a sua voz, de uma tremenda personalidade, mas também os temas das suas canções, que versavam o dia-a-dia sofrido da população negra numa África do Sul esmagada pela bota do apartheid. E também a sua atitude de frontalidade perante a vida. O sucesso veio, mas, como diz Percy Sledge numa das suas canções, “o sucesso não vem facilmente; faz-se através do trabalho e da perseverança”. Infelizmente, este veio e com ele um mau aliado: a queda vertiginosa no mundo da droga. Brenda mergulhou neste mundo, diria que de cabeça. Nesta vertigem da cocaína, foi sujeita a tratamentos de desintoxicação, recuperou, recomeçou a sua carreira, caiu, recuperou, e no meio disto tudo ainda foi a tempo de gravar a solo um dos seus maiores êxitos, que foi simultaneamente o álbum mais vendido da África do Sul no seu tempo e mesmo – a crer no que se disse no programa – um dos álbuns mais vendidos da história da música sul-africana de todos os tempos. Seja como for, isso não interessa muito. Não sou homem de me fascinar por números. A mim, o que me fascina não é uma obra ser ou não bestseller. Há bestsellers que são, para mim, verdadeiramente intragáveis. Não vou por esse critério. A relação que tenho com a Brenda Fassie não é determinada pelo critério “milhões de cópias vendidas”; deriva da sua atitude de luta, da espontaneidade na forma como se relacionou com a vida, da simplicidade com que dizia as coisas elementares que fazem o complexo mundo em que o homem, em qualquer parte do mundo, em qualquer época, vive. Digo isto sem ter o temor de me chamarem atrevido, uma vez que não sou falante da língua zulu nem xhosa, em que ela preferencialmente falava. Mas há uma empatia que me permite ultrapassar essa barreira. Para além de tudo, o zulu e o xhosa são línguas bantu que têm raízes comuns com o changana e o ronga, as quais, apesar de não serem minhas maternas, falo fluentemente. Há muita confluência, quando existe cumplicidade nos sentimentos, no projecto de vida, na crença sem limites de que o que temos de humano e de nobre em nós vale mais e é muito mais forte do que aquilo que nos pode separar. A Brenda morreu em plena flor de maturidade da idade. Não da vida, porque esta, de modo geral, lhe foi madrasta. Mas ela soube superar isso com muita nobreza de gestos. O que tomo como consolação, perante isto tudo, é acreditar que morrem cedo aqueles a quem os deuses amam. Brenda Fassie D esde a criação do Moza que tenho acompanhado a sua evolução e conheço os detalhes do processo de intervenção pelo Banco Central. De forma pouco habitual foram expostos em praça pública os gestores implicados na deterioração financeira do banco em 2016. A publicidade da multa é desproporcional perante os mais de nove bancos, que foram sujeitos mais recentemente a pesadas multas. O nome do banco foi mencionado, mas não os seus gestores. Aplicar sanções aos gestores do Moza, cerca de três anos depois da inspecção bancária, revela grande morosidade no tratamento dos processos no sector da supervisão bancária, revela ineficiência e fragilidades. Quando três anos depois o supervisor formaliza o processo de contravenção, os titulares dos cargos já não estão nos seus lugares, seja no BM seja no Moza. No Banco Central existe hoje um novo director de supervisão, novo Governador, uma nova visão e nova forma de actuação. Pelo que se sabe, os gestores    não foram sancionados por dolo ou negligência. Numa interpretação discutível, os mesmos foram sancionados essencialmente pela omissão do dever de elaborar políticas. Contravenção é como uma multa de carro e os litígios são dirimidos no tribunal da polícia. Em atropelo da lei, o supervisor sancionou todos e publicitou todos os nomes, incluindo os que recorreram à via judicial, aos quais a lei confere a presunção de inocência. A estes atropelos à lei somam as inúmeras irregularidades e conflitos de interesse, no processo de intervenção.  É conhecido a facto de a partir de 2016 o sistema bancário moçambicano ter visto alteradas as suas bases de funcionamento, que se caracterizaram como tendo sido relativamente estáveis nos 15 anos anteriores. É também conhecido o facto de em Abril de 2016 a Moody´s ter anunciado a quebra do rating de Moçambique de B para Caa1. Isso reflectia uma crise maior assinalada desde Outubro de 2015, gerada pelo agudizar da crise de confiança relacionada com as dívidas soberanas contratadas irregularmente.  O BM não está alheio a esta contratação e aprovação destas dívidas. E a crise agravou-se até o rating de Moçambique passar a ser classificado como lixo, o que induziu imenso sofrimento às empresas e às populações. Qual a responsabilidade do BM e das instituições do Estado e seus gestores pela crise de confiança generalizada que levou à substancial quebra do PIB e, consequentemente, ao encerramento de mais de 3.000 empresas, aumentando o desemprego, incrementando o custo de vida e infringindo o sofrimento ao povo? Quem deverá ser responsabilizado pela excessiva derrapagem da moeda nacional, ao depreciar-se substancialmente de 35 meticais para cerca de 80, por cada dólar dos EUA? Quem deve ser responsabilizado pelos resultados das políticas monetárias e cambiais, cujos efeitos, por vezes negativos, que recaem sobre toda a economia e a sociedade? Com a perturbação dos mercados que se seguiu e os atrasos/reestruturação dos empréstimos concedidos às empresas, incluindo das empresas públicas, isto obrigou todos os bancos a aumentarem capital. E o banco, que ousou ter maioria moçambicana, com apenas oito anos, não teve recursos financeiros para capitalizar. Essencialmente por isso, e para fazer face à carência de liquidez, o Moza foi intervencionado. Pelo caminho, ficam ainda perguntas no ar: (1) Porque é que o regulador não respondeu ao pedido de aumento de capital apresentado pelo Moza Banco ainda antes da intervenção; (2) Estando sob intervenção, porque é que o Moza perdeu 11,7 mil milhões de depósitos em apenas 3 meses - Outubro a Dezembro de 2016 - com levantamentos massivos depois da liquidação do Nosso Banco pelo Banco Central; (3) Qual a proveniência dos fundos utilizados para recapitalizar o Moza em duas tranches no ano passado que, segundo a imprensa, realizou 8.170 milhões em Junho e 3.542 milhões em Dezembro; (4) Relativamente ao concurso para a recapitalização do Moza qual a versão verdadeira: a do administrador do BM que disse que houve concurso e se apurou um vencedor, ou, a versão de um outro membro do Conselho de Administração do BM, que declarou que não houve concurso.   Para além de ser visível uma política de dois pesos e duas medidas, é caso para indagar, quem supervisiona o supervisor e o regulador. Que se saiba, não consta nenhum processo de contravenção aos gestores do Banco Central que aprovaram as chamadas dívidas ocultas, cujos efeitos nocivos Mozabanco: Um olhar, a partir de um ângulo diferente! Por César Chipiliche* impactaram severamente no mercado e nos bancos nem os seus nomes foram publicitados. Tratando-se de muitos milhões de meticais envolvidos, a bem da tão propalada transparência e da lisura dos processos, estes e outros questionamentos não podem ser esquecidos. Aguarda-se também que a PGR se pronuncie sobre o comunicado da Comissão Central de Ética de 21 de Agosto de 2017, que denunciou a violação da Lei da Probidade e a existência de conflitos de interesse no processo de intervenção e de avaliação das propostas de recapitalização. Estas são algumas questões que urge esclarecer a favor da transparência por que diz pugnar a administração do Banco de Moçambique. * pseudónimo de colaborador devidamente identificado pelo jornal Uma coleção internacional [3] ç 20 Savana 18-05-2018 OPINIÃO SACO AZUL Por Luís Guevane D uas incógnitas parecem dominar, de certo modo, a actual praça política: a sucessão de Afonso Dhlakama e a coligação entre a Renamo e o MDM. Pró- ximo destas duas incógnitas podem ser equacionadas outras como, por exemplo, a imagem do partido actualmente no poder – a Frelimo - e o seu natural desgaste pelo tempo. Sobre a sucessão de Afonso Dhlakama já aqui avançamos que o novo Presidente da Renamo (PR), por hipótese largamente validável, poderá vir a ser “um indivíduo com um self ligado à vida militar e um outro self orientado para a política”. A aparente inexistência de pressa ou urgência em substituir Dhlakama, cujo suporte de justificação baseia-se no facto de o luto estender-se até ao dia 14 de Junho, conduz-nos, em parte, à validação da nossa hipótese. Esta “não pressa” permite aferir que até à data limite do luto o processo de lealIncógnitas dade das forças militares ao novo PR terá maior consistência e abrangência. Uma vez a lealdade dos militares concentrada no sucessor entrar-se-á, então, num processo cada vez mais visível e célere de produção de um novo líder. Por conseguinte, a incontestabilidade do sucessor (gerada pela já referida lealdade), garantirá o crescimento do seu campo político. Pelo estado ou andamento do processo de integração das forças da Renamo na perspectiva da criação de um exército republicano, tudo leva a crer que o sucessor poderá vir a ter necessidades, provavelmente recorrentes, de lembrar ao seu interlocutor (o Governo) que ele conta com a lealdade das suas forças militares para fazer passar esta ou aquela pretensão. Se isto acontecer, esperemos que não, dar-se-á mais conteúdo à razão estratégica de Afonso Dhlakama. Este importante passo poderá vir a ser crucial na decisão a tomar sobre a ideia de coligação entre a Renamo e o MDM (e os restantes partidos da oposição). Ou seja, é importante que as questões políticas sejam resolvidas politicamente. A resolução destas por via militar arrastará o país, sem dúvida, para um alargamento da pobreza e do subdesenvolvimento. E a pergunta aqui é: quem está (mais) interessado na reanimação do conflito político-militar? Deixando a resposta de lado, urge redobrar a atenção para um maior aprimoramento da ideia de coligação como via segura para alcançar o poder; ideia que já brota “entre o povo”. Se o maior problema reside na “máquina eleitoral”, então, está claro que a insistência/união dos partidos de oposição deve ser no sentido de se reparar essa máquina. É claramente arriscado apostar numa “viagem” estando consciente que a “máquina eleitoral” perdeu os seus créditos numa urna não identificável ainda por se localizar. Tomando em conta que alguns organismos internacionais colocam como certa (não como prognóstico) a continuidade do Partido Frelimo no poder, mesmo assumindo o desgaste da imagem, julgamos que é ou deveria ser também do maior interesse deste partido a produção de uma “máquina eleitoral” altamente isenta e imparcial, no sentido de se eliminarem os riscos de um conflito pós-eleitoral. Provavelmente esses organismos tenham por base não só o conhecido funcionamento da “máquina eleitoral”, mas também o baixo nível de exercício de cidadania e o elevado conformismo democrático. A coligação entre as forças políticas da oposição poderá valer a pena se for sustentada por uma coerente e sustentável estratégia política de tomada do poder. Assim, esperamos que os próximos tempos deixem desvanecer a penumbra sobre a sucessão de Afonso Dhlakama e sobre a coligação entre a Renamo e o MDM (e outros partidos políticos da oposição). Qua a “máquina eleitoral” deixe de “viajar” o povo para a tensão pós-eleitoral. P ara melhor compreensão da conjuntura económica actual, me parece relevante voltarmos ao fim do ano de 2015 e ano de 2016. A economia moçambicana foi sacudida por sucessivos e expressivos choques que afetaram negativamente a evolução dos indicadores económicos de forma significativa. O primeiro choque foi a queda no preço das commodities que o país exporta afectando as contas externas, seguido de fortes intempéries climáticas (secas e alagamentos) que afectaram os preços de produtos agrícolas, o recrudescimento do conflito político-militar que dificultou a circulação de bens e pessoas por grandes extensões do território nacional, e o surgimento de dívidas, até então ocultas, que afectaram a confiança culminando com a suspensão do apoio orçamental dos parceiros externos e retracção de investidores externos. De particular relevância, estes choques simultâneos atingiram a economia moçambicana num momento quando as políticas macroeconómicas não estavam apropriadamente desenhadas para lidar com esta situação. Este quadro complexo gerou uma desvalorização forte do Metical, aumento substancial da inflação que corroeu o poder de compra da população, aumento da dívida pública para patamares insustentá- veis e uma significativa desaceleração da actividade económica. Diante de um quadro tão adverso, e como esperado em qualquer economia, o Governo decidiu responder aos choques ajustando o seu marco de políticas macroeconómicas no último trimestre de 2016. O Banco de Moçambique ajustou as taxas de juros e de reservas obrigatórias para enxugar o excesso relativo de Meticais na economia. A política fiscal também reagiu para conter o déficit público. Enquanto a Autoridade Tributária trabalhou para manter a arrecadação de impostos já afectados pela desaceleração do crescimento, o Governo procurou reduzir as despesas do sector público, eliminando vários subsídios gerais (e.g. combustíveis, pão, trigo) e permitindo o reajuste tarifário da energia para que estivesse mais alinhado aos custos de produção. Além disso, o Governo tomou algumas medidas de contenção de benefícios aos servidores públicos para evitar o aumento da folha salarial que vinha crescendo de forma substancial nos últimos anos. Impacto Positivo O ajuste das políticas macroeconómicas teve resultados positivos que se vislumbraram em 2017. O Metical se apreciou e estabilizou-se por volta dos actuais ní- veis de 60 Meticais por dólar. As contas externas melhoraram devido a uma queda nas importações e retomada das exportações, apoiadas pelo aumento dos preços e produção do carvão, do alumínio e alguns outros produtos tradicionais de exportação (e.g. castanha de caju, tabaco, açúcar, banana). O Banco de Moçambique aproveitou a entrada de recursos para reconstituir reservas internacionais em mais de mil milhões de dólares, estas que agora se traduzem em mais de 7 meses de cobertura de importações (excluindo aquela relativa aos grandes projectos); uma almofada bem-vinda para aumentar a resiliência da economia moçambicana frente a eventuais novos choques. A inflação que atingiu um pico acima de 25 por cento ao ano, caiu fortemente, voltando a níveis abaixo de 4 Um relance sobre a economia de Moçambique por cento, o que protege o poder de compra das famílias moçambicanas. No entanto, o crescimento económico não voltou a níveis mais elevados. O crescimento do PIB caiu de 6,6 por cento em 2015 para cerca de 3,7 por cento em 2016 e 2017 (dados preliminares). As altas taxas de juro contribuíram para uma queda na concessão de crédito para a economia, dificultando o acesso das empresas, principalmente pequenas e médias, a esse importante insumo para suas actividades. As condições socioeconómicas deterioraram-se apesar da preocupação do Governo em garantir alocações orçamentais para despesas na área social e de infra-estrutura básica. Apesar do esforço fiscal realizado, os déficits continuaram a ser altos e, com o financiamento mais restringido, o Governo acumulou incumprimentos com fornecedores e credores externos. A dívida pública se encontra insustentável ao redor dos 112 porcento do PIB em 2017. Tarefas a fazer Um esforço adicional no âmbito das políticas macroeconómicas ajudaria a melhorar mais rapidamente os indicadores socioeconómicos. No recente relatório escrito pelos economistas do FMI após a visita mais recente ao país, recomenda-se, por exemplo, um melhor balanceamento do menu de políticas macroeconómicas. O ajuste fiscal deveria se aprofundar em linha com as condições de financiamento da economia. Este esforço fiscal daria espaço para uma redução mais expressiva das taxas de juro. Isso permitiria uma melhoria das condições de crédito na economia em benefício do sector privado, que será o principal motor de crescimento econó- mico inclusivo e geração de empregos no país. Por outro lado, discussões entre os credores e o Governo que permitissem a dívida pública atingir uma trajectória mais sustentável também contribuiriam para a estabilidade macroeconómica, bem como a negociação com êxito das dívidas do Governo com fornecedores domésticos. O relatório também contempla vá- rias sugestões de reformas estruturais para fortalecer a gestão de recursos públicos com boa governação e transparência, incluindo no sector empresarial do Estado, e identifica a melhoria do ambiente de negócios como essencial para o desenvolvimento do sector privado. Um futuro promissor aguarda Moçambique com o advento de grandes investimentos na produção de gás natural e outros recursos naturais. Este futuro somente estará salvaguardado através de uma gestão transparente destes recursos, com boa governação num marco institucional robusto. Como parceiro de Moçambique, o FMI continua comprometido em apoiar o povo Moçambicano a desenvolver ainda mais as instituições económicas do país. O nosso compromisso continua sendo apoiar uma gestão económica eficiente e transparente, incluindo a gestão dos recursos naturais, com o objectivo de promover o bem-estar social com um crescimento inclusivo, prosperidade partilhada e redução da pobreza. * Representante do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Moçambique. Palestra editada proferida na UP a 10/05/18. Título, entretítulos e sublinhados da responsabilidade do jornal Por Ari Aisen* Savana 18-05-2018 21 PUBLICIDADE 22 Savana 18-05-2018 DESPORTO A União Desportiva do Songo comprometeu, seriamente, as suas aspirações de passar para a outra fase da Taça CAF, ao voltar a perder, esta quarta-feira, desta feita diante da equipa do RSB Berkane de Marrocos, por duas bolas sem concorrência. O jogo foi realizado no caldeirão do Chiveve, na cidade da Beira. Esta é a segunda derrota do único representante moçambicano nas afrotaças depois do afastamento do Costa do Sol, pois na primeira ronda a UDS perdeu por duas bolas sem concorrência diante do El Masry, do Egipto. Aliás, mesmo ao nível interno, particularmente no Moçambola, a União Desportiva do Songo vem revezando o bom e o mau, sendo que na 9ª jornada perdeu diante do Ferroviário de Nampula por duas bolas a três. Na tabela classificativa ocupa a sexta posição com 13 pontos, embora com menos um jogo UDS electrocutada em relação ao líder, Ferroviário de Maputo, que soma 19 pontos. Seguem-se as formações do Chibuto e do Textáfrica, com 16 pontos a cada, e o Ferroviário de Nampula, com 14. A equipa da UDS continua sem soluções S ão aguardadas com inusitadas expectativas as primeiras eleições para o cargo de director da Escola Superior de Ciências de Desporto, da Universidade Eduardo Mondlane, as quais estão agendadas para o próximo dia 5 de Junho. Os anteriores directores, Cremildo Gonçalves e Maria de Lurdes Munguambe (ambos não vão concorrer), ascenderam ao cargo por indicação do reitor. Para já, a campanha eleitoral termina no próximo dia 31 deste mês e das cinco individualidades que inicialmente haviam manifestado interesse em concorrer ao cargo, duas decidiram não avançar, nomeadamente, Laurinda Moisés (especialista em Linguística) e Augusto Agostinho (especialista em Petróleos). Em breve contacto com Abelardo Sambo, presidente da Comissão Eleitoral, ele apenas falou dos aspectos que são do domínio público, afirmando que não podia entrar em detalhes, uma vez que a própria universidade tem órgãos que se podem pronunciar. Confirmou que apenas os membros do corpo técnico e administrativo, docentes e estudantes da ESCIDE é que poderão votar e não toda a comunidade da Universidade Eduardo Mondlane. Explicou, ainda, que os três concorrentes irão, no próximo dia 31 do corrente mês, apresentar, junto à comunidade da ESCIDE, os seus programas de governação, o que será uma oportunidade para interacção com potenciais votantes. O regulamento em vigor naquela instituição do ensino superior abre espaço para que possam concorrer ao cargo de director da ESCIDE, moçambicanos de reconhecido mérito profissional e com capacidade de agregar e influenciar várias sensibilidades e grupos de interesse, a todos os níveis na realização da missão e objectivos da instituição. O triunvirato Paulo Miguel Gumende, Leonardo Lúcio Nhantumbo e Lígia Cacilda Maria André Zaqueu, são os ditos-cujos que concorrem ao cargo, depois de terem passado à primeira fase, mas destes, apenas um será eleito. Na prática, segundo o presidente da comissão eleitoral, os três vão a voto no dia 5 de Junho próximo, ao que seguirá o envio destes nomes ao reitor da UEM, Orlando Quilambo, para indicar um. Aliás, no uso do seu poder discricionário e à luz do regulamento em vigor naquela instituição, o reitor pode até não escolher como director o candidato mais votado, ou mesmo o segundo mais votado. Pode escolher o menos votado ou um que não tenha concorrido ao cargo. Sobre o assunto, questionamos ao presidente da comissão eleitoral a relevância deste acto, tendo em conta os pressupostos retromencionados, ao que explicou que o mesmo serve para ver as aspirações da comunidade da ESCIDE, no caso vertente. Abelardo Sambo, que também é membro do Corpo Técnico Administrativo daquela instituição, já tornou pública a informação segundo a qual, a votação será em princípio, por via presencial, mas mesmo assim abre-se espaço para a via electrónica. Refira-se que Cremildo Gonçalves e Maria de Lurdes Munguambe não passaram por esse complicado processo. A nossa fonte desdramatizou o assunto, limitando-se a dizer que se está a caminhar dentro das normas, pois os directores desta instituição são eleitos, contudo, coloca a possibilidade de tal não ter acontecido pelo facto de a ESCIDE ter sido o último órgão a ser criado. Outrossim, as pessoas que dirigiram a ESCIDE dinamizaram a sua criação. Entretanto... Paulo Gumende é mestre em Economia e Licenciado em Ciências de Desporto e foi um dos dinamizadores do desporto universitário e motorizado, tanto em Maputo como na Matola, com larga experiência no associativismo e dirigismo desportivo. Lígia Zaqueu tem o nível de doutor (Phd) e é basquetista de craveira. Actualmente, é funcionária do Arquivo Histórico de Moçambique. Leonardo Nhantumbo também tem o grau de doutor (Phd) e transferiu-se da Faculdade de Educação Física e Desporto, da Universidade Pedagógica, há sensivelmente dois anos, para a ESCIDE. Os dados estão lançados! ESCIDE ao rubro! B runo de Carvalho é o protagonista de uma novela que já tem mais de cinco anos. Entre eleições, assembleias-gerais, desabafos no Facebook e castigos, os sportinguistas não têm tido descanso. Dentro do Sporting já todos serviram de alvo: ex-presidentes, dirigentes, adeptos, treinadores e jogadores. A relação entre Bruno de Carvalho e os adeptos leoninos começa bem. Em março de 2011, candidatou-se à presidência do Sporting e perdeu contra Godinho Lopes. Face aos resultados, muitos adeptos sportinguistas reagiram com indignação e foi Bruno de Carvalho a acalmar os ânimos. Dois anos depois foi eleito presidente do Sporting. A partir daqui, seguiram-se uma série de eventos que iriam dividir o seio leonino. Os “soundbites” provocatórios contra os clubes rivais são constantes, mas os recados para dentro começaram em 2014, depois das derrotas pesadas da equipa principal e da equipa B. “Quer a equipa principal quer a equipa B brindaram os sportinguistas com péssimas exibições que não dignificaram o nosso clube e a nossa camisola”, dizia Bruno de Carvalho na altura. A relação entre Bruno de Carvalho e Marco Silva foi-se deteriorando e, mesmo depois de vencer a Taça de Portugal, em junho de 2015, o treinador português foi despedido pela direção. Um dos pontos mais polé- micos da nota de culpa entregue por Bruno de Carvalho a Marco Silva tinha a ver com a indumentária: Marco Silva não terá usado o fato A cronologia da novela do leão oficial do Sporting numa das eliminatórias da Taça. Os ex-dirigentes Godinho Lopes, Luís Duque, Nobre Guedes e Carlos Freitas, por exemplo, foram visados várias vezes nas críticas de Bruno de Carvalho, levando-os mesmo a responder perante a Justiça. As críticas dos sportinguistas começavam, então, a ouvir-se. “Nem Champions, nem Taça, nem cérebro, nem liderança, nem poupança. As mentiras já Doyen. O Sporting está em risco. Acordem!”, lia-se num cartaz colocado junto ao está- dio de Alvalade. No início de 2017, Bruno de Carvalho voltou à carga contra os jogadores. Desta vez, depois de um empate em Chaves, o presidente leonino terá acusado os jogadores de serem “uns chulos”. O Correio da Manhã escrevia na altura que a tensão foi grande no balneário e que os jogadores se terão insurgido contra Bruno de Carvalho. Em março, Bruno de Carvalho foi reeleito com 86% dos votos dos sportinguistas. Um mês depois, o líder leonino prometeu que sairia do Facebook, promessa que viria a quebrar dois meses depois, regressando em força às redes sociais. Em janeiro de 2018, os adeptos foram os alvos. “Sinceramente nem tenho palavras... Somos os primeiros a deitar-nos abaixo...”, escrevia Bruno de Carvalho depois de algumas críticas dos adeptos visando a equipa. A partir de fevereiro deste ano, a novela adensa-se. Durante uma assembleia-geral acalorada e perante alguns insultos dos sócios, Bruno de Carvalho deixa no ar a possibilidade de se demitir e abandona a reunião. Dois dias depois, numa conferência de imprensa polémica, anunciava uma nova assembleia-geral e fez um ultimato: ou os novos estatutos eram aprovados com mais de 75% dos votos, ou demitia-se. Acabou por ser aprovado com quase 90% dos votos. Entretanto, no Facebook, Bruno de Carvalho chamou “lacraus” a alguns sportingistas (ou “sportingados”, termo que cunhou para designar os sportinguistas aziados). Antes, numa outra publicação, Bruno de Carvalho desabafou: “Triste, sozinho, cada vez mais infeliz, sem perceber o que se passou para eu sentir, dentro de mim, tanta ingratidão que me faz querer ir embora”. O episódio mais recente aconteceu este fim de semana. Na véspera de um importante jogo frente ao Marítimo, Bruno de Carvalho dá uma entrevista ao jornal Expresso ao seu estilo. Numa das frases-chave da entrevista, Bruno de Carvalho diz que “para ter sucesso, a primeira coisa a fazer é criar fama de maluco”. O Sporting acabaria por perder o jogo e, consequentemente, o segundo lugar, que daria lugar à Liga dos Campeões. Bruno de Carvalho chama os jogadores e a equipa técnica para uma reunião em Alvalade. As notícias davam conta que Jorge Jesus seria suspenso pela administração, notícias, essas, que Bruno de Carvalho viria a desmentir. Tudo isto na semana que antecede a final da Taça de Portugal. Já esta terça-feira, num comunicado, o Sporting garantiu que seria JJ a orientar a equipa no Jamor. www.IONLINE.SAPO.PT Savana 18-05-2018 23 DESPORTO DESPORTO Faleceu no último Sábado, dia 12 de Maio, Edith Simplício Cardoso Furtado de Carvalho. Edith de Carvalho, através do denodado trabalho que corajosa e abnegadamente soube desenvolver enquanto responsável pela MINERVA CENTRAL, conquistou um lugar indiscutível no panorama social, cultural e empresarial em Moçambique. O seu desaparecimento físico deixa um profundo vazio na família enlutada. Deixa sentida saudade e gratidão em numerosos escritores, políticos, intelectuais, académicos moçambicanos e no público em geral que, ao longo de décadas, tiveram a Minerva como referência maior enquanto polo difusor de conhecimento, e em Edith de Carvalho a energia e a vontade que teimavam em manter viva a sua chama. Deixa, por fim, inconsoláveis as dezenas de trabalhadores que encontraram na MinerIN MEMORIAM EDITH de CARVALHO 1923 - 2018 Uma vida dedicada à Minerva, à família e a Moçambique va uma outra casa e na sua pessoa uma mentora, um ouvido atento e, tantas vezes, uma segunda mãe Edith de carvalho dedicou 75 anos à Minerva. O que somos e o que sonhamos está inextricavelmente a ela ligado. A acção e a longevidade da Minerva tornaram-na num dos símbolos nacionais, referência essencial no campo do livro e da cultura. Somos, em boa medida, fruto da vontade, da energia e da perseverança desta mulher que contra todas as expectativas, adversidades e perdas familiares soube manter um rumo e cumprir um destino. Edith de Carvalho deixou-nos fisicamente no dia 12 de Maio de 2018. Nós, os que temos o dever de continuar a sua obra, sabemos que nunca deixaremos de honrar a sua memória e preservar o seu legado. A Cervejas de Moçambique lançou, semana finda, a edição especial de latas da cerveja 2M com um design exclusivo para a Copa do Mundo da FIFA, Rússia-2018. A iniciativa surge na sequência de 2M celebra Mundial da Rússia uma parceria firmada entre a Federação Internacional de Futebol Associação (FIFA) com a ABInbev, a maior empresa cervejeira do mundo, através da qual as suas marcas passam a ser as cervejas oficiais da Copa do Mundo. Desta feita, a 2M associou-se à maior festa do futebol mundial, trazendo as emoções desta aos moçambicanos à sua maneira, fazendo jus ao slogan “a nossa maneira”. De acordo com o comunicado recebido na nossa redacção, a marca moçambicana pretende viver o campeonato do mundo de futebol com os moçambicanos, fazendo com que o “Eixx” domine todas as emoções do futebol. Lembre-se que o campeonato do mundo de futebol disputa-se na Rússia, de 14 de Junho à 15 de Julho próximos e farão parte 32 selecções, das quais cinco africanas, nomeadamente, Egipto, Senegal, Marrocos, Nigéria e Tunísia. 24 Savana 18-05-2018 CULTURA A pós o “Comboio de Sal e Açúcar”, que além de protagonizar envolveu grande dedicação, a apresentação marca o retorno a Moçambique e aos palcos da actriz moçambicana Melanie de Vales, que vai interpretar na próxima terça-feira, 22 de Maio, às 18h30, no Centro Cultural brasil-Moçambique (CCBM) poemas num recital musical denominado, Certificado de Amor À Língua Portuguesa, junto com os artistas brasileiros Expedito Araujo e Renan Dias, com ingressos a 100 meticais. A actriz Melanie de Vales afirma que “para esta apresentação, o pú- blico pode esperar poemas carregados de amor, luta, história, cultura e, acima de tudo, uma forma diferente de contar histórias. É o amor presente nos países através de seus poetas. Cheguei cá este mês, eles me apresentaram este projeto que por si só é irrecusável e giro de fazer! Tenho certeza que todos que lá estiverem sentirão este amor que transborda e que estamos trabalhando. Infelizmente não posso revelar muito, mas quem lá for, vai perceber de certeza. E não vejo a hora de poder conhecer todos os espectadores após a peça”, confessa. Certificado de Amor À Língua Portuguesa Melanie de Vales considera haver parceria entre os artistas participantes. “Instiga-me também nesta apresentação o facto de ser com o actor brasileiro Expedito Araujo. Podemos dizer que existe uma grande parceria artística entre nós e tornamo-nos grandes amigos. Houve momentos marcantes na temporada pela Europa e também pelos países africanos que visitei, agora, de volta a Moçambique, existe também muito a descobrir por cá”, esclarece. Segundo a actriz “cada papel é escolhido por instinto mesmo. Em particular os mais desafiadores. Não existe muito segredo por detrás disso. Sempre gostei de contar histórias, mas há histórias que me dão uma adrenalina inexplicável. Foi assim com o Comboio de Sal Açúcar e agora com esta peça. É difícil explicar o que me move como actriz. Porque, no fim do dia, tudo me move. No caso desta peça em particular, é a descoberta de poemas lindíssimos ricos em cultura e sentimentos, carregados de sabedoria e muita história! Entretanto, a cada filme, a cada peça ou a cada vídeo nas minhas plataformas online, sou movida por absolutamente tudo. Estórias verídicas ou contos, lugares, pessoas, coisas e sobretudo o prazer de contar cada uma dessas histórias, em particular as mais desafiadoras, lógico. Bem, para mim 2018 começou com a estreia de um “3 de Maio” em Lisboa. Entretanto, este ano veio com novos desafios. Um deles é o Certificado de Amor À Língua Portuguesa. Faço cinema desde a adolescência, mas quero também poder fazer parte de outros projectos e alguns já estão em curso. Há imensas formas de contar histórias e de encenar. Gostava de fazer produções, de encenar e quem sabe shows também. O tempo dirá!”, revela. Para o actor Expedito Araujo “não são muitos os países onde a língua é predominante, mas com certeza onde ela está presente e tem um potencial muito especial antropologicamente falando. Pensei em um país de cada continente. Portugal, Moçambique, Brasil e Timor Leste. Seleccionei para esse recital alguns dos mais belos poemas escritos em língua portuguesa. Não só na minha opinião, mas também de reconhecimento público. Confesso que não foi tarefa fácil e levou mais de um mês, pois muitos poetas aventuraram-se na tentativa de definir o amor e são muitos os poemas que falaram belamente sobre ele”, aponta. Para finalizar, segundo o músico brasileiro Renan A. Dias, que fará participação especial na peça, “a língua portuguesa tem uma musicalidade natural que não é fácil de encontrar. É muito fácil encontrar uma melodia dentro dos poemas que, por si só, já são músicas. Na verdade, os poemas dirão-me o que eu devo tocar, e tão o contrário. A música dialoga com todo o sentimento, não só o amor. A trilha não vem para ser parte principal, ela é um dos complementos que tornam esse espectáculo tão especial. Ela é o caminho que leva o poema até seu ouvido. Acho que tem amor nisso, mas a música vai além do amor. Ela transporta-te para qualquer sentimento”. A.S $FWUL]0HODQLHGH9DOHVHQFDUDQRYRVGHVDÀRVQDSRHVLD O saxofonista Ivan Mazuze e o seu quarteto internacional estão numa digressão pela primeira vez na Coreia do Sul e na Holanda, desde 11 até 28 de Maio em curso. Ivan Mazuze e a sua banda vão participar num dos mais destacados eventos de ambos os países, nomeadamente: Seoul Music Week e Rabobank Amersfoort Jazz Festival. Nos dias 11 a 17 do corrente mês, Mazuze e sua banda vão actuar na Coreia do Sul, no Seoul Music Week 2018. Alusivo ao Dia Nacional da Noruega, a 17 deste mês, a banda vai actuar no Jazztonic Festival 2018 mesmo na cidade capital de Coreia do Sul, Seul. Na Holanda, Mazuze e o seu quarteto irão apresentar dois concertos, no Rabobank Amersfoort Jazz festival 2018 em duas salas e palcos de renome internacional, nomeadamente: De Lieve Vrouw e Groenmarkt. O quarteto de Ivan Mazuze inclui alguns Ivan Mazuze em Seul e na Holanda dos mais importantes nomes da música da Noruega, Cuba e Canadá, como são os casos de Rich Brown, do Canadá, Raciel Torres, de Cuba, Bjørn Vidar Solli e Jens Fossum, da Noruega. Ainda este ano, o saxofonista moçambicano radicado na Noruega foi convidado a presentar um concerto numa das mais importantes casas em Montreal (Canadá), denominada Club Ballatou. O convite foi feito pelo Festival International Nuits D’Afrique e surgiu depois da sua digressão em Dezembro de 2017 naquele país americano, pelas cidades de Ottawa e Toronto. Além daquele espectáculo, Ivan Mazuze actuou no Pisa Jazz Festival 2018, na Itália, a 18 de Março. No mês passado, o saxofonista actuou na celebração do Jazz, no átrio do Centro Cultural Franco-Moçambicano (CCFM), em Maputo, com o sul-africano Sibu Mashiloane. O saxofonista subiu ao palco da Sala Grande do CCFM, acompanhado por instrumentistas de luxo. Ivan Mazuze é autor de três álbuns: Maganda, Ndzuti e Ubuntu. A.S Ivan Mazuze divulga jazz nacional noutros lugares do mundo A professora universitária e especialista em literatura, Teresa Manjate, considera que as pessoas desenvolvem comportamentos e manifestações diferentes, em função de determinados contextos e do local geográfico onde se encontram: “são os espaços e os contextos temporais que moldam as pessoas”. Teresa Manjate foi uma das oradoras da 4ª sessão das Tertúlias Itinerantes subordinada ao tema: “Entre Memórias Silenciadas de Ungulani Ba Ka Khosa e Virgem Margarida de Licínio Azevedo: espaços e memórias”, evento que decorreu no último sábado, no Centro Cultural Franco Moçambicano. Trata-se duma iniciativa académica coordenada pelos profissionais da Universidade Eduardo Mondlane, A Politécnica e a Lusófona de Portugal, que decorre mensalmente na cidade de Maputo, cujo objectivo é debater sobre diversos temas relacionados com a interculturalidade e o desconhecimento mútuo no contexto da era global. Na sua alocução, Teresa Manjate relacionou os espaços: características e comportamentos das personagens e memórias. A oradora falou também das diferenças que se podem observar nas personagens ao longo das trajectórias - no meio rural, no meio “O contexto molda comportamentos” - defende Teresa Manjate urbano e em campos de reeducação. “No campo, as pessoas têm um determinado tipo de vivência. Mas se estas mesmas pessoas forem à cidade vão, de certeza, desenvolver um outro tipo de comportamento, embora ligadas ao campo, através do pensamento e da saudade”, descreveu. “Isto acontece também no sentido oposto, no qual as pessoas da cidade, quando chegam ao campo, apresentam um determinado tipo de comportamento, diferente do contexto da urbe. Portanto, são os espaços e os contextos temporais que moldam as pessoas”, assegurou. “As duas obras falam do campo de reeducação, da maneira como as pessoas foram reeducadas, bem como do contexto em que isso aconteceu. Mas, mais do que isso, as duas obras convergem na ideia de como as pessoas têm comportamentos diferentes e desenvolvem diferentes tipos de manifestações, em função dos lugares onde se encontraram”, explicou. Dobra por aqui SUPLEMENTO HUMORÍSTICO DO SAVANA Nº 1271 ‡ DE MAIO'( A ONU SEMPRE EM CIMA DO ACONTECIMENTO ANDA UM LOBO ENTRE AS OVELHAS NA PROVÍNCIA DE MANICA OU O ESTRANHO CASO DO PASTOR ROY JENKINS 2 Savana 18-05-2018 SUPLEMENTO Savana 18-05-2018 3 EMBAIXADA STORMY DANIELS Savana 18-05-2018 27 OPINIÃO Abdul Sulemane (Texto) Naita Ussene (Fotos) E xistem situações na vida que quebram barreiras e fronteiras entre adversários. Quando a morte bate à porta em algum momento as diferenças são afastadas. Vimos individualidades que normalmente não são vistas a caminharem, neste caso, juntas. Dizemos isso pela primeira imagem onde aparece Ossufo Momade, coordenador da Comissão Política da Renamo, acompanhado por Isac Chande, Ministro da Justiça e Assuntos Religiosos, no centro, e Manuel Bissopo, Secretário-geral da Renamo. Quem diria que se poderia ver um ministro ladeado de altos membros do partido da oposição? Só em situações de extrema particularidade. E este cenário despoletou curiosidade em algumas figuras no governo do dia. Uma vez que estes momentos são vistos como inconcebíveis e encarados com alguma estranheza. Dizemos isso, pelos olhares de Bernardino Rafael, Comandante-geral da Polícia de Moçambique e Alfredo Mussa, Comandante Provincial da Polícia. Os olhares não param por aqui. Foram vistas outras figuras que, mesmo tentando disfarçar, procuraram testemunhar a cena invulgar no seio da nossa sociedade. Referimo-nos a Daniel da Costa, que está a piscar o olho, enquanto Dique Kassotche preferiu fechá-los. Já Tomás Vieira Mário optou por fixar o olhar para não perder nada de vista. A cerimónia fúnebre de Afonso Dhlakama mexeu com tudo e todos. Comentários sobre o futuro do partido e do país são a tónica de muitas conversas travadas nos últimos tempos. Opiniões são diversas. Todos têm um posicionamento sobre estes assuntos. Não é por acaso que Fernando Lima, Jornalista e PCA da mediaCoop, aproveitou para dar uns conselhos para Augusta Maíta, Secretária Permanente da Província de Sofala, local onde foram enterrados os restos mortais do líder do maior partido da oposição. Não sabemos se os conselhos são dados pela proximidade fonética entre o nome desta e o do nosso colega da redacção Naíta Ussene. Vejam como Fernando Lima pega o braço dela, como uma chamada de atenção a um aspecto que lhe preocupa, face ao actual ambiente político do país. Para os outros é momento de concentrar sinergias para o futuro que se aproxima. O actual ambiente político pode ser aproveitado pelos partidos políticos com relevância na cena política nacional. Toda a força vinda de qualquer lado é válida para os membros dos partidos políticos. Por isso vemos nesta última imagem uma cena que é vista como forma de aglutinar forças e energias para um propósito comum. Veja como Carmo Jorge Jardim, filha de Jorge Jardim, segura as mãos dos irmãos Lutero e Daviz Simango. Por isso os nossos olhares estão virados para Beira. Será uma beira do mar? Quem me dera! Virados para Beira À HORA DO FECHO www.savana.co.mz EF .BJP EF t "/0 997 t /o 1271 Diz-se... Diz-se IMAGEM DA SEMANA Naíta Ussene O Conselho Cristão de Moçambique (CCM), que habitualmente tem posições próximas ao partido governamental, emitiu, esta terça-feira, uma mensagem de condolências pelo falecimento de Afonso Dhlakama, comparando o malogrado líder da Renamo a Moisés da bíblia. Publicada na edição desta terça-feira do jornal notícias, a mensagem daquela que é uma das principais congregações representativas da religião cristã em Moçambique BQPOUB DMBTTJmDB F DPNQBSB "GPOso Dhlakama a Moisés, referenciado na bíblia sagrada (livro sagrado da religião cristã) como mandatá- rio de Deus, aquele que, assumindo a missão incumbida, conseguiu resgatar os filhos de Israel da escravidão de que eram vítimas no Egipto. Foram cerca de 40 anos, o temQP RVF "GPOTP %IMBLBNB EJSJHJV militar e politicamente a Renamo, posicionando-se como comandante-chefe e, seguidamente, presidente do partido Renamo, o maior da oposição. Este tempo de dirigismo não é, para os cristãos, obra do acaso. Para o CCM, tal como Moisés da bíblia passou 40 anos no deserto, a caNJOIP EB UFSSB QSPNFUJEB "GPOTP Dhlakama também procurou, duCCM compara Dhlakama a Moisés da bíblia rante longos 40 anos, “libertar o povo”. “Este homem (Dhlakama) é filho de Deus que veio ao mundo e especialmente a Moçambique com a missão específica de completar a liberdade do povo moçambicano, depois da independência nacional do país perante o subjugo colonial”, refere a mensagem e, continuando a narração, anota que “não é o primeiro sofredor em libertação de um povo que não chega à conclusão do seu objectivo…foi o Moisés que sofreu 40 anos no deserto e faltando pouco para a glória foi ao descanso e com certeza de que se vai alcançar a vitória”, refere o CCM, para quem a história de "GPOTP %IMBLBNB OÍP TF EJGFSF EB história do libertador referido na bíblia, Moisés. 'B[FOEP NFOÎÍP BP GBDUP EF "GPOso Dhlakama, em vida, ter tentado buscar consensos com “todos” os governantes do país para a devolução da paz e tranquilidade, a mensagem dá um espaço especial ao ex-líder da Renamo, lamentando, entretanto, o facto de os acordos assumidos “infelizmente não terem sido honrados”. Diante de uma série de feitos alistados, a mensagem acaba mesmo QPS DBUBMPHBS "GPOTP %IMBLBNB como “herói da nação”. i/ÍP UFNPT OBEB B DPOUFTUBS OP poder de Deus, o que rogamos aos compatriotas é que sejamos fortes, corajosos e avante porque o destino do percurso está mais próximo e, à família, queremos agradecê-la por ter aceitado cuidar deste filho que veio a ser herói da nação”, refere a mensagem discordando, claramente, das vozes que preferem apontar P EFEP BDVTBEPS DPOUSB "GPOTP Dhlakama. Este grupo prefere ver FN "GPOTP %IMBLBNB P IPNFN que liderou os matsangaices, o grupo a quem a narrativa oficial catalogou de “bandidos armados”. " NFOTBHFN EP $$. SFGFSF MPHP no início da nota de condolências, RVF "GPOTP %IMBLBNB GPJ P MÓEFS do partido com “maior volume populacional” do país e no fim pede a Deus para que ofereça um descanso tranquilo na certeza de que “a sua história fica escrita nos corações do povo moçambicano”. Sobre a controvérsia na leitura do percurso militar e político de "GPOTP %IMBLBNB P 1SFTJEFOUF EB República, em mensagem fúnebre, recorde-se, disse que o país perdeu “um compatriota que, do seu modo, fez parte da história recente de Moçambique”. .BJT EJTTF 'JMJQF /ZVTJ RVF DPN B QFSEB EF "GPOTP %IMBLBNB imcarão em todos nós as memórias da sua vida, do seu percurso social-político e memórias que cada um de nos guardará à sua maneira”. (Redacção) t 6N FWFOUP PSHBOJ[BEP QBSB BOBMJTBS B TJUVBÎÍP BDUVBM EP QBÓT o que é perfeitamente normal em verdadeiras democracias, foi motivo para se largar os habituais cachorros especializados em diabolizar aqueles que têm ideias contrárias ao regime do dia. Bem vistas as coisas, a única diferença entre os esquadrões de morte e estes grupos de choque, é que estes últimos dão o rosto e actuam às caras, não importa a vergonha. t & QPS GBMBS EF FTRVBESÜFT EF NPSUF QBSFDF RVF BRVFMFT RVF querem impor um estado de medo no país estão a triunfar, qual triunfo dos porcos. É que já é com alguma insistência que se ouve dizer que o moderador do programa de tv, que mais raptos e torturas causou, anda desaparecido dos ecrãs, justamente, por ter recebido, também, ameaças de morte. Era uma vez um programa de análise profunda dos principais acontecimentos semanais… t 2VFN UFSÈ EF FYQMJDBS CFN B TVB IJTUØSJB Ï P HFOFSBM EF RVF se fala na perdiz pós-DHL. É que aos entendidos em matéria militar custa acreditar que o dito cujo foi raptado pela guerrilha, sabido que era comandante de uma companhia, ou seja, uma força de mais de trezentos homens. Já que perguntar não ofende, rapto ou conspiração? t 0 BMFSUB RVF MBOÎBNPT TFNBOB mOEB TPCSF B BVTÐODJB EF anúncios necrológicos de outras instituições, apresentando pêsames pela morte do líder da perdiz, fez com que o CCM reagisse e numa longa página equiparar Dhlakama a Moisés, homem que tirou o povo de Israel da escravidão do Egipto. t 0 UFYUP EP $$. OÍP TØ EFJYPV EFTBWJOEPT PT TFVT BTTPciados como também algum frelis que pediram uma maior vigilância no matutino da Joe Slovo para que algo de género não volte a acontecer. Mesmo morto o homem continua um incómodo. t .FTNP EFQPJT EF MFTBS P QBÓT P mMIP NBJT RVFSJEP F DMBSJWJEFOUF DPOUJOVB TVHBOEP EBT DPOUBT QÞCMJDBT /ÍP Ï RVF QBSUF dos 200 autocarros recentemente adquiridos e distribuídos as associações foram adquiridos na empresa onde tem interesses. t " FOUJEBEF RVF FTUBCFMFDF PT QSFÎPT EPT DPNCVTUÓWFJT EFV VN GPSUF HPMQF ËT TVBT QSØQSJBT EFDMBSBÎÜFT RVBOEP FN "CSJM último previu que estavam criadas condições para que os preços baixassem, porque o câmbio estava estável e o combustível havia sido importado antes da eclosão da guerra na Síria. Foi de estranhar que hoje tenha evocado os mesmos motivos para justificar a revisão em alta. t +È FTUÈ B DJSDVMBS OBT SFEFT TPDJBJT P ÈVEJP EP EFQVUBEP-porta-voz, com cordão umbilical enterrado em Chiúre, catalogado como uma “excelente intervenção”. Só que meio mundo ignora que a “encomenda” veio de cima para enterrar politicamente o ministro acabadinho de ser exonerado. t %JBT BOUFT EB QBSUJEB EP MÓEFS FTUBWB JNJOFOUF VN BDPSEP EF DPMJHBÎÍP FOUSF %BWJ[ F %IM QBSB 7. DPODPSSFS QPS .BQVUP e só faltavam as competentes rubricas. Como uma das grandes promessas da Renamo é honrar Dhlakama, sobretudo, nos compromissos que deixou, aguardemos pelos próximos capítulos. Em voz baixa t 5FSNJOBEP P QSB[P FTUJQVMBEP QBSB P SFDFOTFBNFOUP FMFJUPSBM grandes recordes, mais de 100%, foram batidos no Chókwè, $IJCVUP 9BJ YBJ NBT UBNCÏN FN BMHVNBT SFHJÜFT EF $BCP Delgado e Inhambane, zonas em que habitualmente os morUPT WPUBN 0 SFTUP Ï IJTUØSJB Savana 18-05-2018 EVENTOS 1 0DSXWR GH0$,2GH ‡$12;;9‡1o 1271 EVENTOS O Instituto Superior de Ciências de Saúde (ISCISA) realizou, esta semana, as XIV jornadas científi- cas, um evento que, juntando profissionais da saúde, governantes, académicos, docentes e estudantes daquela instituição de ensino superior público, entre outros participantes, é um momento que serve para partilhar e discutir assuntos de interesse público, particularmente ligados à missão e visão institucionais. Com efeito, para este ano, o lema das discussões esteve reservado ao tópico sobre a desnutrição, especialmente em crianças, daí o lema: “ISCISA, contribuindo para um Moçambique livre da desnutrição”. Na cerimónia de abertura, a ministra da Saúde, Nazira Abdula, não se coibiu de lançar um vigoroso desafio aos gestores, corpo docente e estudantes daquela que é uma das principais instituições de formação superior no sector da saúde, a continuarem com os esforços visando assegurar que a desnutrição em Moçambique passe, um dia, para a história. “Solicito a toda a comunidade académica que continue empenhada na busca de soluções que ajudem a acelerar o progresso da luta contra todas as formas de desnutrição no nosso País” – exigiu a ministra, num evento em que partilhava o pódio com Hélder Martins, que foi o primeiro ministro da Saúde da República de Moçambique, com o antigo ministro da Saúde e actual director do ISCISA, Alexandre Manguele, a representante da Organização Mundial da Saúde, entre outras personalidades. Aliás, Nazira Abdula, citando a agenda 2025, recordou que o documento faz uma reflexão profunda em relação à necessidade de “reforçar e dar maior atenção à ciência e tecnologia com vista a encontrar soluções mais eficazes”. Por isso, continuou ela, “o ensino ;,9MRUQDGDVFLHQWtÀFDVGR,6&,6$ &LrQFLDFKDPDGDDOLEHUWDU 0RoDPELTXHGDGHVQXWULomR deve nortear-se por níveis crescentes de qualidade, desenvolvendo, no estudante, a autonomia intelectual que se deve traduzir na capacidade de encontrar soluções para os problemas que se lhe colocam e que se lhe colocarão no futuro”. No sentido de demonstrar a gravidade da situação e, por essa via, pedir maior e acutilante intervenção do ISCISA, a titular da pasta da Saúde fez saber que, actualmente, em Moçambique, uma média de 43 por cento das crianças sofrem de desnutrição crónica. Mais preocupante ainda é o facto de, no que tange às deficiências de micronutrientes, a realidade revela números preocupantes na ordem de 69 % das crianças menores de cinco anos Ou seja, 69 por cento das crianças apresenta deficiência de vitamina A e de Ferro. “Apenas 54% destas crianças vivem em agregados familiares que consomem sal iodado e as práticas de alimentação complementar também se encontram aquém do desejável, sendo que apenas 35% das crianças dos nove aos 11 meses apresenta uma frequência alimentar mínima”, apontou a responsá- vel máxima pelo sector da saúde, ressalvando que é importante que todos se unam para assegurar que os actuais desafios em relação a esta matéria sejam efectivamente materializados. Ainda de acordo com a ministra, a nutrição tem um papel determinante no estado de saúde da população, tanto a nível da promoção de saúde como da prevenção de doenças, enquanto a malnutrição traz influencias negativas na evolução física e cognitiva da criança, na produtividade dos indivíduos, na economia e desenvolvimento de qualquer país. Para sustentar a ideia recorreu ao estudo intitulado “Custo da Fome” feito em 2016 pelo programa Alimentar Mundial em Moçambique. Os números da pesquisa referem que a desnutrição crónica tem um custo equivalente a mais de 10% do Produto Interno Bruto, o que corresponde a cerca de 1,600 milhões de dólares americanos. Segundo se sabe, a desnutrição é causada pela ingestão inadequada dos nutrientes, níveis elevados de doenças infecciosas e de gravidez precoce, insegurança alimentar, o acesso insuficiente à água potável, sobretudo nas zonas rurais, sem esquecer a pobreza e as práticas inadequadas de cuidados de saúde. As jornadas científicas, que duraram dois dias, serviram igualmente para exposição de produtos alimentares e formas de preparação nutricionalmente recomendáveis, assim como exposição e espaço para aconselhamento nutricional. Para o nível de licenciatura, a instituição oferece actualmente quinze cursos, nomeadamente, administração hospitalar; anatomia patológica; cirurgia; enfermagem pediátrica, geral, saúde-materno e infantil; fisioterapia; nutrição; psicologia clínica; radiologia; saúde pública; serviço social; Tecnologia Biomedica Laboratorial, e ainda a terapia da fala e ocupacional. (Cléusia Chirindza) Savana 18-05-2018 EVENTOS 2 Visite agora e mantenha-se informado, (integridade & independência) https://www.savana.co.mz Agenda Cultural Cine-Gilberto Mendes Sextas, Sábados e Domingos 18h30 “Amor, Aguenta” Maputo Waterfront Todas Sextas, 19h Jantar Dancante com Alexandre Mazuze Todos Sábados, 19h Música com Zé Barata ou Fernando Luís Chefs Restaurante Todas Sextas, 19h Música ao vivo O Banco Comercial e de Investimentos (BCI) e a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) assinaram, nesta quarta-feira, na sede do BCI, na cidade de Maputo, um Acordo de Sub-participação no Risco através da garantia-ARIZ. Trata-se de um acordo que visa cobrir, parcialmente, o risco de crédito sobre os financiamentos elegíveis que serão concedidos ao abrigo das linhas Mulher Empreendedora e Jovem Empreendedor do BCI, permitindo, deste modo, maior acesso ao crédito por parte das Pequenas e Médias Empresas (PME). Falando na ocasião, o PCE do BCI, Paulo Sousa, destacou a importância desta parceria e explicou que a relação entre o banco e a agência financeira vem desde 2010, altura em que foi assinado o primeiro acordo de sub-participação no risco – a garantia ARIZ para a cobertura da carteira de crédito. Igualmente, em 2014 e 2015, foi assinado um novo acordo que permitiu cobrir o risco de crédito sobre os financiamentos concedidos a linha “Mulher Empreendedora” entre 2014 e 2015. %&,H$)'DVVLQDPDFRUGRGH SDUWLOKDGHULVFR “Uma vez terminado o período de disponibilidade da última garantia, as duas instituições pretendem renovar o Acordo (garantia ARIZ), com vista à cobertura das Linhas Mulher Empreendedora e Jovem Empreendedor”, acrescentou Sousa. Por sua vez, o director da AFD em Moçambique, Julien Darpoux, referiu que a assinatura daquele acordo inscreve-se na continuidade da aliança entre ambas instituições, permitindo acompanhar os esforços do BCI na inclusão financeira das PME moçambicanas. Refira-se que a AFD tem como principal objectivo combater a pobreza e promover o desenvolvimento sustentável. Opera, actualmente, em quatro continentes através de uma rede de 72 agências e apoia projectos que contribuam para a melhoria das condições de vida das populações, impulsionando, deste modo, o crescimento económico. (E.C) O Barclays Bank Moçambique e a Câ- mara de Comércio de Moçambique (CCM) assinaram, na última sexta-feira, em Maputo, um memorando de entendimento através do qual ambas instituições trabalharão na promoção das Pequenas e Médias Empresas (PME). Trata-se de uma iniciativa conjunta que visa alavancar as PME com vista a responderem efectivamente aos desafios do mercado, oferecendo serviços bancários bonificados às empresas, particularmente, aos membros do CCM. Na ocasião, o director da Banca Retalho do Barclays, Luís Pedro Carvalho, afirmou que o acordo visa estabelecer uma forte relação de parceria entre ambas instituições no sentido de, conjuntamente, promover-se o desenvolvimento das PME moçambicanas. “Estamos convictos de que, com o estabelecimento deste memorando, contribuiremos para o fortalecimento das re%DUFOD\VH&&0 LPSXOVLRQDP GHVHQYROYLPHQWRGDV30( lações já existentes, permitindo desenvolver um trabalho coordenado no domínio da promoção sustentável da economia do nacional”, disse. Explicou em seguida: “a maior preocupação do Banco é promover o desenvolvimento das PME no sentido delas serem consideradas fornecedoras ilegíveis na componente do conteúdo local para os grandes projectos que operam no país”. Por seu turno, o Presidente do CCM, Julião Dimande, referiu que esta parceria poderá contribuir para que as PME sejam mais competitivas. Daí que, neste momento, estão sendo conjugados esforços na mobilização de recursos financeiros para a realização de acções de interesse comum, tais como: partilha de informação sobre o mercado, capacitação em matéria ligada à gestão e Fiscalidade e Ética no negó- cio, realização de conferências, seminários, exposições, elaboração de revistas, folhetos, entre outras iniciativas para qualificar as PME. (E.C) Savana 18-05-2018 EVENTOS 3 38%/,&,'$'( Savana 18-05-2018 EVENTOS 4 Nas últimas seis semanas a Associação de Amizade e Solidariedade com a Palestina (ASP) vem acompanhando com grande apreensão a deterioração da situação dos direitos humanos nos territórios ocupados da Palestina. A ASP denuncia a crescente repressão dos palestinos pelo regime criminoso, colonialista e racista de Israel. Nota que essa repressão se traduziu nas últimas semanas no assassinato de mais de 100 palestinos (incluindo 2 jornalistas) e no ferimento de mais de 3000. Só nas últimas 24 horas as Forças Armadas de Israel assassinaram mais de 55 palestinos e feriram mais de 2000. O único “crime” atribuído a esses palestinos foi o de se manifestarem pelo seu direito de retorno às terras de onde vêm sendo expulsos desde 1948, incluindo a cidade de Jerusalém. Hoje, 15 de Maio de 2018, no dia em que passam exactamente 70 anos da NAKBA (catástrofe), D$63UHDÀUPDDVXDVROLGDULHGDGHLQFRQGLFLRQDOFRPDOXWDGRSRYRGD3DOHVWLQDSHODVXDDXtodeterminação e pela criação do Estado da Palestina. $$63DSHODDR*RYHUQRGH0RoDPELTXHSDUDTXHUHDÀUPHDVXDVROLGDULHGDGHFRPDOXWDMXVWD do povo irmão da Palestina e condene o massacre de centenas de civis palestinos pelo regime de Israel. Apela também a todas as forças vivas da sociedade moçambicana, incluindo os partidos polí- WLFRV DVFRQÀVV}HVUHOLJLRVDV DVGLIHUHQWHVRUJDQL]Do}HVGDVRFLHGDGHFLYLO FRPRRVVLQGLFDWRV GH WUDEDOKDGRUHV DV DVVRFLDo}HVGHHVWXGDQWHV DV RUJDQL]Do}HV VyFLR SURÀVVLRQDLVHGHPXlheres) a - por todas as formas ao seu alcance - manifestarem a sua solidariedade com a causa palestina. $$63UHDÀUPDDVXDÀUPHFRQYLFomRGHTXH QmRREVWDQWHRPRPHQWRGLItFLOSHORTXDOSDVVD o povo irmão da Palestina - a justiça prevalecerá e, cedo ou tarde, os palestinos conquistarão a sua liberdade e viverão em Paz e Harmonia no Estado da Palestina. Maputo, 15 de Maio de 2018 ASSOCIAÇÃO DE AMIZADE E SOLIDARIEDADE COM A PALESTINA (ASP) O Projecto Mozambique LNG, liderado pela Anadarko, está a apoiar iniciativas de combate ao HIV/SIDA orçadas em cerca de USD560 mil, nos distritos de Mocímboa da Praia e Palma, desenvolvidas e implementadas pela Pathfinder. Esta contribuição enquadra-se no programa de responsabilidade social da Anadarko, cujo principal foco é apoiar na redução de vulnerabilidades relacionadas com a infecção pelo HIV, através da promoção do acesso aos serviços de base comunitária e clínica. “A iniciativa irá contribuir para o trabalho que vem sendo desenvolvido no combate a esta doença que afecta o tecido familiar e o desenvolvimento do país”, defendeu Steve Wilson, Director da Anadarko. Por sua vez, Riaz Mobaracaly, director da Pathfinder, afirmou: “ o apoio da Anadarko e de outros parceiros tem sido crucial para a implementação destas iniciativas. É uma intervenção baseada nas comunidades - que as envolve em $QDGDUNRMXQWD VH jOXWDFRQWUDR+,9 6,'$ todo o processo e capacita-as através das estruturas locais (Conselhos Locais da Localidade e Líderes Facilitadores) e da rede de voluntários baseados nas comunidade e que reforça a ligação entre estas comunidades e as unidades sanitárias, alinhando-se com os esforços e directrizes do Governo de Moçambique”. Refira-se que o Projecto de GNL de Moçambique será o primeiro projecto de GNL onshore em Moçambique, inicialmente composto por dois módulos de produção de GNL com capacidade total de 12,88 milhões de toneladas por ano (MTPA) para apoiar o desenvolvimento dos campos de Golfinho/Atum localizados exclusivamente na Área 1 Offshore. Este projecto inicial abre o caminho para uma importante futura expansão até 50 MTPA da Área 1 Offshore. O Projecto Golfinho/Atum também fornecerá volumes iniciais de aproximadamente 100 milhões de pés cúbicos de gás natural por dia (MMcf/d) (50 MMcf/d por módulo) para uso doméstico em Moçambique. O Banco Barclays Moçambique tem apostado em ferramentas tecnológicas com vista a desenvolver os seus canais electrónicos, bem como a digitalização dos processos internos para melhor atendimento dos seus clientes. O director da banca de Retalho, Pedro Carvalho, referiu, durante a sua intervenção na Expo Digital de Moçambique Moztech, que os bancos têm actualmente a tendência de ser mais tecnológicos, isso por ser um factor fundamental para alcançar o sucesso, e que o campo tecnológico é a base dos negócios. De acordo com Pedro Carvalho, o banco continua a crescer ano após ano e de forma bastante significativa, tudo graças à maior e profunda adopção dos métodos tecnológicos que influenciam positivamente. Olhando para os desafios, Carvalho avançou que toda a evolução tecnológica tem sempre um período de adopção que não é imediata, sendo que leva algum tempo até que os clientes percebam as funcionalidades, as vantagens, os custos baixos de utilização e quando começam a perceber as coisas ficam práticas. “Isso é normal com todas as experiências tecnológicas, sofrem efeito de uma lenta adopção e depois um crescimento exponencial”. O outro desafio, de acordo com a fonte, tem a ver com a questão da segurança, o risco cibernético que vem crescendo ao mesmo tempo que as organizações se tornam mais tecnoló- gicas, factor que preocupa os bancos sobre como guardar os dados dos clientes. O Barclays está em Moçambique há pouco mais de 40 anos e conta, actualmente, com cerca de 43 agências e que todas as ferramentas tecnológicas tem sortido bastante efeito. (C.C) %DUFOD\VDSRVWD QDWHFQRORJLD O Presidente da República reconhece que a solução para os transportes públicos urbanos não passa, simplesmente, por aumentar o número dos autocarros nas cidades, havendo a necessidade de se encontrar soluções mais integradas que respondam de forma sustentável a uma cadeia de constrangimentos, sendo a melhoria e o aumento das vias de acesso e a transitabilidade alguns dos aspectos que se deve ter em conta. Filipe Nyusi fez este pronunciamento, nesta quarta-feira, em Maputo, no acto de entrega de um total de 200 autocarros adquiridos pelo Governo, para serem alocados às capitais provinciais e outras cidades do País, no âmbito do projecto de aquisição de mil unidades, até 2019, denominado “Plano 1000”. “Já é chegada a altura de os transportes públicos urbanos de passageiros serem sustentáveis, evitando que o Governo, de forma recorrente, invista avultados recursos no reforço das frotas que, regra geral, funcionam abaixo do tempo médio previsto pelo fabricante”, frisou o estadista. Durante o mandato, conforme destacou o Chefe de Estado, o Governo já procedeu à entrega de 500 autocarros aos operadores privados e aos Conselhos Municipais: “Em 2014, 1\XVLOHPEUDTXHPHOKRULDGRV WUDQVSRUWHVQmRpVyDGTXLULU PDLVDXWRFDUURV a capacidade de resposta à demanda situava-se em cerca de 10 por cento. Hoje, estima-se que cerca de 72 a 75 por cento das famílias urbanas usem este serviço”, indicou. Apesar de reconhecer a existência de algumas melhorias nos transportes públicos urbanos, no País, o Presidente da República renovou o seu compromisso de não descansar enquanto uma parte da população moçambicana continuar a ser transportada através de carrinhas de caixa aberta, vulgo “My Love”. “Para além destes autocarros, outros 70 vão ainda entrar em circulação dentro deste semestre”, disse, acrescentando que “os transportes desempenham um papel central para a circulação de pessoas e bens, sendo, igualmente, imprescindíveis para a viabilidade econó- mica, a justiça social e eficiência das cidades modernas, ao facilitar o rápido acesso a toda a cadeia de serviços sociais como o ensino, atendimento hospitalar, trabalho, mercado, contacto e afecto familiar”. A entrega de 200 viaturas ao sector privado constitui a materialização de um memorando de entendimento celebrado entre o Executivo, através do Ministério dos Transportes e Comunicações (MTC), e a FEMATRO-Federação Moçambicana dos Transportadores Rodoviários, inserido no pacote de medidas, visando a melhoria da mobilidade urbana, através de um serviço de transporte público urbano fiável. Intervindo, igualmente, na ocasião, Carlos Mesquita, ministro dos Transportes e Comunicações, lembrou aos presentes que, em Janeiro de 2015, de uma procura diária aproximada de 600 mil passageiros, na área metropolitana de Maputo, as empresas municipais de Maputo e Matola só dispunham de uma capacidade de transporte diário de 60 mil passageiros, portanto 10 por cento. “Indignado com a situação, o Governo prometeu e iniciou um árduo e ambicioso programa de reestruturação do sistema dos transportes públicos urbanos que, com mais estes autocarros que hoje são entregues aos operadores privados, passamos a ter uma disponibilidade real de 72 por cento, o equivalente ao transporte de 450 mil passageiros por dia”, destacou. Até Dezembro do corrente ano, segundo sublinhou Carlos Mesquita, o Governo vai adquirir mais autocarros que permitirão cobrir 92 por cento da procura, ou seja, vão ser transportados de forma segura e digna 550 mil passageiros por dia, dos 600 mil. “Continuamos determinados em prosseguir com a implementação das reformas em curso para a solução do problema dos transportes públicos urbanos”, concluiu o governante.

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